Kawabata, Yasunari (2009). Terra
de Neve. Espanha: Sant Vicenç dels Horts. Biblioteca Sábado.
Em Terra de Neve, de Yasunari Kawabata, que ganhou o prémio Nobel em
1968, traduzido por Armando da Silva Carvalho, o protagonista, Shimamura, viaja
de comboio, de Tóquio para um balneário das montanhas, no norte do Japão, com a
intenção de descansar nas termas e de se reencontrar com Komako, que conheceu
numa viagem anterior e que se teria tornado gueixa para pagar os tratamentos de
Yukio, filho de uma professora de música. A relação entre eles prolonga-se
durante o tempo em que o livro decorre, e que se concretiza durante as inúmeras
viagens que Shimamura faz para estar com ela.
As paisagens, atitudes e
acontecimentos são descritos de forma extremamente minuciosa, numa poética
observação que o narrador faz constantemente de tudo o que observa, até ao mais
ínfimo pormenor. Tudo o que descreve relativamente ao exterior, tem, no
interior do protagonista um efeito meditativo, levando-o a empreender várias
reflexões. Apesar de se sentir amado, Shimamura não deixa de sentir uma tristeza
inexplicável que o domina, uma sensação de que ele e Komako se afastarão
inevitavelmente, mais tarde ou mais cedo.
Este livro permite ainda
conhecer lugares e tradições da cultura japonesa, imaginar as tecedeiras de chijimi,
um raro tecido de uma brancura imaculada feito a partir do “cânhamo colhido nos
campos em declive na montanha”, que Shimamura comprava em Tóquio e com que mandava
fazer alguns dos seus quimonos de Verão.
Ao longo da história paira
a sombra de outra mulher, que Shimamura contempla no reflexo do vidro do
comboio, cuja voz o seduz, quando fala e quando canta, Yoko. É uma personagem que
não se chega a conhecer bem e que tem um fim dramático. Nunca se chega a saber
a relação entre KomaKo, Yoko e Yukio, mistério sobre o qual Komako se recusa a
falar. O fim dramático desta mulher é, quanto a mim, simbólico, pois com a morte dela, algo deixa de fazer sentido, perdido o brilho do seu reflexo. Estaria a relação de Shimamura e Komako também condenada?
O ritmo da narrativa é tão
lento quanto a descrição é contemplativa, como a própria passagem do tempo nas
montanhas. É como se se sentisse, ao ler, o frio, a aragem de uma Terra de Neve a perder de vista, um frio
que repele e, ao mesmo tempo, prende e cativa.
Célia Gil
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