Morris, Heather (2018). O Tatuador de Auschwitz. Queluz de
Baixo: Editorial Presença.
Hether Morris, a autora
de O Tatuador de Auschwitz (livro
traduzido por Miguel Romeira) entrevistou um idoso, nos últimos anos da vida deste, momento em que ele acedeu a contar a sua história para que o seu testemunho e passo a citar “ficasse registado” e "jamais torne a acontecer”.
Esta obra conta a
história de duas pessoas que se conheceram em circunstâncias terríficas,
privadas da liberdade e que vivenciaram todos os horrores do holocausto, em
Auschwitz II – Birkenau, entre 1942 e 1945.
Lale, judeu
recém-chegado a Auschwitz, é incumbido de tatuar o número de prisioneiro nos
braços de todos os que ali chegavam, tornando-se o tetovierer. É neste local, quando tatua Gita, que descobre o amor.
O relato dos tempos
passados em Auschwitz é comovedor e avassalador. No meio de tanta tristeza,
dor, fome, desespero e morte, Lale é perseverante e continua a acreditar que há
de sobreviver. Aprende que a obediência e o silêncio o poderão ajudar a
conseguir atingir o seu principal objetivo – continuar vivo.
Trava conhecimento com
dois dos homens que foram contratados para ajudar a construir os crematórios,
Vítor e Yuri, que começam a trazer-lhe alimentos em troca de jóias e dinheiro,
que algumas raparigas que trabalham na triagem do que os prisioneiros levam
consigo, lhe dão em troca de comida. Passa a trazer comida e a dividi-la.
Entretanto, vai-se desenvolvendo o relacionamento amoroso entre Lale e Gita
que, sempre que podem, se encontram às escondidas, por exemplo, quando Lale
suborna com comida e jóias a Kapo que
tomava conta do edifício em que Gita se encontrava. Lale promete a Gita que,
quando saírem dali, farão amor onde e quando quiserem.
Quando são descobertos o
dinheiro, as jóias e a comida que escondia debaixo do seu colchão, Lale julgou
que seria o seu fim. Foi levado para o bloco 11, onde eram castigados até à
morte. Mas, os conhecimentos travados, a coragem de Lale e o amor por Gita são
os grandes impulsionadores que o movem para a vida e o levam a trapacear a
própria morte.
No entanto, o destino não lhe
traz a felicidade de mão beijada, nem mesmo quando, em 1945, se abrem os
portões que os encarceraram durante três anos e que testemunharam tantas mortes
e sacrilégios. Passa por muitas situações em que entre a vida e a morte existe
apenas um ténue fio, uma simples palavra, um gesto irrefletido.
Lale, apesar de não saber
se Gita está viva, nem onde se encontra, não desiste de a procurar.
Um amor que resiste a
tudo e que os faz acreditar que a felicidade talvez até
exista.
Como dizia Gita, mais
tarde, ao filho, em momentos mais difíceis das suas vidas “O que importa é
estarmos vivos e com saúde; tudo o resto se resolve.”
Foi esse o espírito que
os ajudou a reerguer a cada nova queda, sempre que a vida lhes pregou
rasteiras.
O Tatuador de Auschwitz
de Heather Morris é um livro emocionante, numa escrita fluida, pungente e
cativante.
Célia Gil
0 Comentarios