Rebelo, Tiago (2008). O Último Ano em Luanda. Barcarena: Editorial
Presença.
Este romance começa
quando, em 1961, a UPA – União dos Povos de Angola, enceta a luta armada pela
independência.
Nesta obra descreve-se o
início de uma guerra de cerca de treze anos contra os três movimentos de
libertação de Angola – o MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola), o
FNLA (Frente Nacional de Libertação de Angola) e a UNITA (União Nacional para a
Independência Total de Angola).
Entretanto, em 1974, a
revolução em Lisboa apanhou de surpresa centenas de milhares de portugueses que
viviam em Angola, provocando a queda do regime em Lisboa, o que levou a que o
novo poder desistisse de Angola.
É no meio destes
acontecimentos, que nos são apresentadas as personagens deste romance. Nuno e
Regina conhecem-se em Lisboa. Regina tem 25 anos, é rebelde e sente uma grande
atração pelo perigo. Nuno era um pouco mais velho e tinha fama de marginal.
Terá sido este seu lado de enfant
terrible que cativou Regina na noite de Lisboa. Para fugir a problemas em que
se afundara e decorrentes de negócios escuros, Nuno propõe-lhe a ida para
Luanda. E é ali que vivem o seu romance e têm um filho. Quando o ambiente em
Angola se torna insustentável, Nuno propõe a Regina que regresse com o filho
para Lisboa, por uma questão de segurança. Nuno ficaria e continuaria a
utilizar o seu avião para os seus negócios escuros – como o transporte de
drogas e o último deles o transporte de armas para a UNITA - que o levariam a
pôr a sua vida em risco.
Regina, garantida a
tranquilidade do filho em Lisboa, com os pais que, entretanto, já lhe haviam perdoado
as suas atitudes levianas, sem notícias de Nuno pelos seus informadores, decide
voltar a Luanda determinada a trazer Nuno e é a sua determinação e coragem que conseguem
resgatá-lo.
A história é narrada de
forma intercalada e situada num momento histórico marcante, quando cerca de
trezentos mil portugueses se viram obrigados a deixar tudo em Luanda e a fugir,
por via aérea e marítima, para Portugal ou para a África do Sul, deixando tudo
para trás – casas, carros, animais, empresas, comércio… Tudo.
É no navio Niassa que Regina e Nuno regressam a
Portugal, pouco antes da independência entrar em vigor, em novembro de 1975,
com a vitória do MPLA. Entretanto, deixavam para trás um país devastado pela
guerra, guerra esta que prosseguiria numa mortífera guerra civil entre o MPLA e
a UNITA e que só terminaria em 2002, com a morte de Jonas Savimbi.
Um livro duro, com uma
narrativa em que as ações surgem alternadamente, de forma a que se percebam
aspetos fulcrais da narrativa no momento em que nos questionamos sobre um
qualquer episódio ou personagem. Um livro escrito de forma fluente, mas que
exige uma leitura atenta.
Célia Gil
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