Agualusa, José Eduardo (2012). Teoria Geral do Esquecimento. Alfragide:
Publicações Dom Quixote.
Teoria Geral do Esquecimento é um
romance de José Eduardo Agualusa, que nos abana e nos deixa a “matutar”. Uma
prosa que, apesar de retratar um assunto sério e dramático, nos chega numa
linguagem repleta de ritmo, vivacidade e melodia, uma poesia "chapada", crua, mas, ao mesmo tempo, de uma sensibilidade inigualável.
As histórias que integram este
livro, aparentemente sem correlação, estão intimamente ligadas numa laboriosa
intriga. E o que parece confuso, acaba por fazer muito sentido.
Tudo se passa num contexto
histórico real, em Luanda de 1975, dias antes da independência, depois de 500
anos de colonização, à qual não se seguiu a paz, mas uma guerra civil que perduraria
por muitos anos.
É neste contexto que
conhecemos Ludovina, apelidada de Ludo, uma portuguesa que terá ido morar para
Luanda com a irmã e o cunhado. Quando estes fogem para Portugal, Ludo fica
sozinha e apavorada. Resolve então construir uma parede na porta do seu
apartamento, que a isolaria do mundo e evitar que a sua casa seja invadida. Fica prisioneira na sua própria casa, durante mais de 30 anos, em que, e passo
a citar “Os dias deslizam como se fossem líquidos”, enquanto lá fora continuava
a guerra. Com ela tem apenas o seu cão, o Fantasma, uma grande biblioteca e um
terraço onde cultiva para sobreviver ou apanha pombos para comer.
Mas neste isolamento há acontecimentos externos que lhe
entrarão pelo terraço e pela vida adentro: um pombo com uma mensagem de amor,
um macaco, um ladrão…Será que Ludo é resgatada desta solidão em que se
enclausurou? Será ela capaz de regressar ao mundo, depois de uma vida fechada
naquele apartamento? Muito provavelmente, nem estaria sozinha no mundo…
Este autoemparedamento de Ludo,
esta guerra íntima, constitui uma intensa metáfora, de um país preso nas suas
próprias paredes de uma guerra civil interminável e que nunca o deixou ser totalmente livre e ver o mundo para além de um cano de uma espingarda. Uma
parábola sobre a sobrevivência e o medo, repleta de frases que ficam. E passo a
citar:
“Sinto medo do que está para
além das janelas, do ar que entra às golfadas, e dos ruídos que traz. (…) Sou
estrangeira de tudo, como uma ave caída na correnteza de um rio.”
“No pátio, onde surgiu a
lagoa, existe uma árvore enorme. Descobri, consultando na biblioteca um livro
sobre flora angolana, que se trata de uma mulemba. Em Angola é considerada a
árvore real, ou árvore da palavra, porque os sobas e os seus makotas se
costumavam reunir à sombra delas para discutir os problemas da tribo.”
Célia Gil
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