O Caminho Imperfeito, de José Luís Peixoto

Peixoto, José Luís (2017). O Caminho Imperfeito. Lisboa: Quetzal Editores.

N.º de páginas: 195
Início da leitura: 01/06/2025
Fim da leitura: 03/06/2025

**SINOPSE**

"Entre Banguecoque e Las Vegas, José Luís Peixoto regressa à não-ficção com um livro surpreendente, repleto de camadas, de relações imprevistas, transitando do relato mais íntimo às descrições mais remotas e exuberantes. O Caminho Imperfeito é, em si próprio, a longa viagem a uma Tailândia para lá dos lugares-comuns do turismo, explorando aspetos menos conhecidos da sua cultura, sociedade, história, religiosidade, entre muitos outros.

A sinistra descoberta de várias encomendas contendo partes de corpo humano numa estação de correios de Banguecoque fará que, com consequências imprevisíveis, a deambulação se transforme em demanda. Todos os episódios dessa excêntrica investigação formam O Caminho Imperfeito e, ao mesmo tempo, constituem uma busca pelo sentido das próprias viagens, da escrita e da vida."

Este é um daqueles livros que não se lê apenas com os olhos — lê-se com o corpo inteiro. Desde a primeira página, sente-se que não se trata de uma viagem tradicional, mas de uma procura interior, quase espiritual, que se desenrola em paralelo com os quilómetros percorridos na Tailândia.

José Luís Peixoto tem uma escrita profundamente sensorial. Ele não se limita a descrever o que vê; transmite cheiros, texturas, estados de espírito. A viagem física torna-se apenas pano de fundo para uma viagem muito mais relevante: a viagem ao interior de si mesmo. E é isso que torna o livro tão poderoso — a honestidade com que ele se expõe, sem filtros, com fragilidades e dúvidas.

Um dos aspetos que mais me marcou foi essa fusão entre o mundo externo (exótico, caótico, fascinante) e o universo íntimo do autor (repleto de memórias, perdas, saudades e inquietações). Há momentos em que parece que estamos a ler um diário emocional, e não um livro de crónicas — e é aí que reside a sua beleza imperfeita.

A certa altura, deixei de ler para "viajar" e comecei a viajar para "sentir". Este livro não oferece respostas, nem um itinerário claro. Mas convida à pausa, à contemplação e à aceitação do imperfeito — como o próprio título sugere. No fundo, é um livro para quem já percebeu que o mais importante da viagem não é o destino, mas o que se transforma em nós pelo caminho.

Recomendo para os apreciadores deste género.

0 Comentarios