Uma Valsa Com a Morte, João Tordo

Tordo, João (2023). Uma Valsa Com a Morte. Lisboa: Companhia das Letras.

Nº de páginas: 224
Início da leitura: 06/02/2025
Fim da leitura: 07/02/2025

**SINOPSE**
Partindo da música e da literatura, João Tordo regressa ao ensaio, com um conjunto de textos onde explora a relação humana com a espiritualidade e a religião, assim como o medo que nos limita, o optimismo que nos impele, a melancolia que nos afunda e a possibilidade da alegria e da comunhão.

«Não é o medo da Morte uma expressão de vida?» que fazer da vida, e que sentido tem ela, quando a Morte é um facto consumado para todos nós? Após o falecimento da sua avó, o escritor João Tordo encontrou o fio de luz que une as reflexões contidas neste livro: a sombria, intangível, inevitável, e por vezes até cómica, presença da Morte na vida. Partindo da música e da literatura - e da relação destas com o Sublime -, João Tordo regressa ao ensaio com um conjunto de textos nos quais explora a relação humana com a espiritualidade e a religião, assim como o medo que nos limita, o optimismo que nos impele, a melancolia que nos afunda e a possibilidade da alegria e da comunhão.

«Essa contradição interna do ser humano - não encontrar lógica na existência, porque a Morte derrota-a, e ao mesmo tempo continuar ligado à vida - é mais propriamente aquilo a que Aristóteles chamava espanto ou assombro. Se, no início, o Homem se maravilhava diante dos fenómenos mais simples - imaginemos o hominídeo do Paleolítico Superior, com cara de Homer Simpson, a vislumbrar um eclipse, de boca aberta e olhos esbugalhados -, mais tarde, esse espanto transforma-se em pergunta, e a pergunta em dúvida. Entramos no território do pathos, que nos faz questionar o que somos, a razão pela qual aqui estamos e, sobretudo, pela qual permanecemos.»

Este é um livro profundamente reflexivo e melancólico, no qual o autor explora temas como a perda, a dor, o luto e a fragilidade da vida. Faz-nos pensar e questionar a perceção da vida e das relações humanas.É uma leitura com grande carga emocional e filosófica, recomendada para quem procura uma reflexão sobre o significado da vida, da morte e da memória. A forma como João Tordo consegue equilibrar a melancolia com a beleza da escrita faz deste livro uma experiência literária única. É preciso, por isso mesmo, alguma pré-disposição  para a reflexão para ler este livro, mas acreditem que vale bem a pena. Está muito bem escrito e permite-nos conhecer melhor o próprio escritor. 
Deixo algumas passagens:
"Ensaiar a morte é dizer a alguém que ensaie a sua liberdade."
"Conheço inúmeras pessoas simples que são razoavelmente felizes, mas todas as pessoas muito inteligentes que conheço, são, invariavelmente, perturbadas."
"A genialidade talvez não seja muito mais do que a obsessão por um determinado tema levada ao extremo, e o desequilíbrio, a consequência dessa obsessão."
"A consciência da Morte é também a consciência aguda do presente: há este momento, e despois ele desaparece; e o momento seguinte, e o seguinte, e o seguinte. Não regressam, nunca mais os teremos."

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