Szabó, Magda. A Porta. Cavalo de Ferro.
Um
romance escrito pela húngara Magda Szabó, traduzido por Ernesto Rodrigues,
conta-nos a estranha história de uma relação entre duas mulheres – a patroa,
jovem escritora e a sua empregada, Emerence, já idosa.
Quando
contrata Emerence, Magda percebe que ela é diferente das outras empregadas. É
ela que sujeita a patroa a um exame que a fará perceber se quer ou não
trabalhar para Magda. Aliás, chega a afirmar “Não lavo a roupa suja de qualquer
um”.
É
ela que estabelece as regras.
Emerence
é dura, rude, fria e enigmática, mas também muito trabalhadora, atenta, e
surpreendentemente dedicada. É esta personalidade que faz com que seja
respeitada e até temida pela vizinhança.
Da
sua vida pessoal, nada dá a saber, mantendo o seu passado em segredo, a sua
vida fechada a sete chaves, atrás de uma porta que não abre para ninguém.
Apesar
da aparente impossibilidade de se entenderem, Magda e Emerence, dadas as suas
diferenças (Magda é escritora, Emerence não lê, nem sequer jornais; Magda é
religiosa, Emerence despreza a religião; Emerence não compreende o emprego de
Magda enquanto escritora, pois, segundo ela, um emprego era algo que exigia
esforço físico), não conseguimos deixar de ficar surpreendidos,
perturbadoramente fascinados, quando percebemos a forte relação existente entre
elas.
Magda
chega a dizer “Segui-a com os olhos perguntando-me porque se agarrava a mim,
quando era tão diferente dela, não percebia do que ela gostava em mim. Eu já
escrevia, era ainda jovem, não analisara a fundo até que ponto a paixão é um
sentimento lógico, mortal, imprevisível…”
O
certo é que, aos poucos, estabeleceu-se entre elas uma amizade, ainda que
comandada por Emerence, que vai dizendo até onde esta amizade pode ir.
Até
o cão de Magda é a Emerence que obedece, é a ela que vê como dona. O magnetismo
que tem com o cão, a quem deu o nome de Viola, é o mesmo com que atrai Magda
para a sua vida, para o seu mundo secreto, para a sua porta.
O
seu passado é desvendado aos poucos, como se também não quisesse ser dado a conhecer.
A Porta é um romance escrito na primeira
pessoa, com laivos de autobiografia, onde a própria Magda Szabó nos fala desta
amizade e dos erros que considera que vai cometendo. Um romance imperdível.
Este é o meu conselho de leitura.
Célia Gil
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