Márai,
Sándor. As Velas Ardem até ao Fim. Lisboa:
Dom Quixote. 2001.
Uma
obra traduzida por Mária Magdolna Demeter, As
Velas Ardem até ao Fim de Sándor Márai, lê-se num ápice. Além de pequeno, prende o leitor, que quer saber a história de dois amigos,
Konrád e Henrik, que se reencontram na velhice.
Henrik,
um velho general que vive num castelo recôndito e decadente, na Hungria,
aguarda ansiosamente o regresso do amigo de longa data e recorda os tempos
passados, a sua família, a forma como acolheram Konrád, até à sua partida
inesperada para os trópicos. Espera ver esclarecidas algumas dúvidas que não o
deixarão descansar em paz, dúvidas que apresenta com laivos de uma vingança
decorrente de traição. O seu melhor amigo não o tinha apenas traído com a
esposa, tinha, sobretudo, traído a sua amizade, a cumplicidade as vivências que
tiveram, de quem cresceu e formou a sua personalidade em conjunto, de quem foi
dependente, de quem amou profundamente. Precisava compreender por que razão Konrád o
quisera matar, durante uma caçada, e por que não o fizera.
O
momento do reencontro, 41 anos depois, descrito como: “Era o momento em que a
noite se separa do dia, o mundo de baixo do mundo de cima. (…) É o último
segundo em que a profundidade e a altura, a luz e a escuridão, tanto universal
como humana, ainda se tocam (…)”, foi um momento marcado por longos silêncios, pelo
monólogo de Henrik, a que Konrád responde no seu silêncio, por recordações
dolorosas, pela reflexão sobre o valor da amizade, os segredos, a solidão
decorrente do afastamento, a desilusão ante a “fuga” inesperada e a noção da
inutilidade do ciúme, da vingança e dos remorsos. Uma longa conversa, em que
“As Velas Ardem até ao Fim”. Um livro de Sándor Márai que não pode deixar de
ler.
Célia Gil
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