A Memória da Árvore, Tina Vallès

Vallès, Tina (2018). A Memória da Árvore. Alfragide: Dom Quixote.

Nº de páginas: 145

Início da leitura: 14/01/2021

Fim da leitura: 16/01/2021

A Memória da Árvore é um livro escrito pela autora Tina Vallès, nascida em Barcelona, traduzido do catalão por Artur Guerra e Cristina Rodriguez.

Este é um livro sobre afetos. Escrito de uma forma irrepreensível e que nos deixa de olhos vidrados do início ao fim. São afetos que nos aquecem e nos enchem a alma.

A história é narrada por uma criança, o Jan, uma criança que nos cativa com as suas palavras. O amor imenso que nutre pelo avô é enternecedor. Tudo começa quando os avós se mudam para sua casa, porque o avô está com Alzheimer. Poderia ficar feliz, mas, ao verificar que os pais não tinham sorrido, perguntou-lhes “- Posso ficar contente?”. Mas, quando se apercebe de tudo o que tem de prescindir por ter os avós em casa, não faz mais perguntas, pois não quer mais respostas. Tudo ia mudar, inclusive a rotina das férias de verão, que já não iam passar a Vilaverd, onde viviam os avós…

No meio de toda a tristeza vivida, o nosso narrador é a lufada de vida nesta casa. O avô começa a ir esperá-lo à escola e, a caminho de casa, conta-lhe histórias de que ele nunca irá esquecer. “Então o meu avô pôs voz de conto antigo e disse-nos que ele em pequeno tivera uma árvore que o protegia do sol do meio-dia e lhe servia de cabana, de esconderijo, de confidente.” À noite conta-lhe fábulas que o farão crescer e que o acompanharão para sempre nas suas memórias. Assim se constroem as memórias.

E, mesmo em momentos mais tristes, e passo a citar “O sorriso do meu avô voltou, e dele saíram os ramos de todas as árvores que iríamos ver no dia seguinte”.  São precisamente estas histórias, este amor do e pelo neto, que lhe vão avivando memórias e atrasando o processo de esquecimento. Contrariamente aos pais que “chegavam à escola com cara de trabalho”, os avós tinham cara de quem tem o tempo todo para ele, ainda que, por vezes, também o olhassem com aquele “olhar de vidro” de quem fica com as emoções à flor da pele.

Este é um livro escrito com uma tal sensibilidade e pureza, que é impossível não nos deixarmos envolver e seguir esta família que nos abraça e nos comove. Apesar das perdas, há sempre uma aprendizagem a retirar e uma celebração da vida.

Termino com mais uma passagem, pois só lendo se tem perceção da dimensão da linguagem utilizada, da harmonia, do sentimento que transmite:

“Lancei-me para cima do meu avô e abracei-o com muita força, com o meu nariz colado ao pescoço dele, ao seu cheiro a detergente da roupa e à espuma de barbear. Olhei para os seus botões, todos abotoados como sempre, e pensei que vai chegar um dia em que talvez não os saiba abotoar. Toquei num deles e decidi que serei eu a abotoá-los, que o meu avô andará sempre com os botões bem abotoados. E ao pensar isto tive vontade de chorar e escondi a cara nos ombros dele.”

Foi impossível não chorar com este livro, mas não com a dureza das palavras ou da situação vivida, antes com a sensibilidade com que tudo é retratado. Adorei!

Ainda que seja um livro recomendado para leitura no ensino secundário pelo PNL, penso que é um livro que deveria ser lido por todas as faixas etárias!

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