Fenollera, Natalia Sanmartin (2017). O Despertar da Menina Prim. Porto: Porto Editora.
Nº de páginas:
248
Iniciado no
dia: 22/03/2021
Terminado no dia: 26/03/2021
O
Despertar da Menina Prim,
de Natalia Sanmartin Fenollera, traduzido por Artur Lopes Cardoso, tinha tudo
para ser um romance interessante. Parte de uma premissa que, por norma, me
cativa, uma vez que, numa metalinguagem, nos fala de livros. A sinopse era
promissora:
“Atraída
por um anúncio sugestivo, Prudencia Prim chega a San Ireneo de Arnois, um
pequeno e encantador lugarejo cujos habitantes decidiram declarar guerra às
influências perniciosas do mundo moderno, e é contratada para organizar a
biblioteca do homem do cadeirão, uma pessoa inteligente, profunda e culta, mas
sem qualquer toque de delicadeza.
Apesar
das batalhas dialéticas frequentes com o seu chefe, aos poucos, a bibliotecária
vai descobrir o estilo de vida peculiar do local e os segredos dos seus habitantes
pouco convencionais.
Narrado com humor, brilho e inteligência, O
despertar da menina Prim leva-nos numa viagem inesquecível em busca
do paraíso perdido, da harmonia e da beleza, e da profundidade escondida nos
pequenos prazeres da vida.”
Porém,
à medida que fui avançando na leitura, não consegui chegar ao prometido “paraíso
perdido”. San Ireneo de Arnois é, com efeito, um lugar “encantador”, com
pessoas que se juntaram ali para viver no passado e com filosofias de vida
muito próprias, se bem que, por vezes, pouco explícitas e incompreensíveis. Até
este lugar, que poderia conferir mais riqueza à narrativa, é descrito de uma
forma muito superficial, onde o acessório suplanta o essencial.
Também
quase não se falou de livros, se não que eram muito antigos (quase todos de
clássicos gregos e latinos e de teologia) e de uma catalogação e limpeza dos
mesmos.
As
personagens careciam de uma densidade psicológica que as tornasse únicas. Não
chegamos a saber exatamente o nome do “senhor do cadeirão”. Em relação à Menina
Prim, é uma personagem com muita formação académica, mas que se revela uma
nulidade no que toca a relações humanas e sociais, imatura, vazia, sem
princípios sólidos que a façam distinguir do mais comum dos mortais. Ainda por
cima, afirma, quase com orgulho, que não gosta de animais! Não consegui criar
qualquer tipo de empatia com esta Prim tão oca e sem personalidade.
Quanto
aos diálogos entre a Menina Prim e o Senhor (sem nome) do Cadeirão, penso que a
autora se deve ter inspirado em “As Velas Ardem até ao Fim” de Sándor Márai.
Porém, como não estava à altura de um Márai, saiu um diálogo pseudo filosófico,
sem qualquer “sumo” ou interesse (muito contrariamente ao do Márai que é uma
obra excecional).
Supus,
logo no início, que houvesse um envolvimento entre estas personagens que passam
o tempo todo, segundo o narrador, a “discutir”, o que para mim não é
propriamente uma discussão, mas um diálogo vazio. Não revelarei esta parte para
não dissuadir ninguém da leitura do livro, se bem que, se tiverem a minha
opinião em consideração, já devem estar completamente dissuadidos.
Do que mais gostei neste livro: da promessa de ser um bom livro, da capa e, do facto de o ter lido num clube de leitura que a tornou menos penosa.
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