Johns, Ana (2021). A Mulher do Quimono Branco. Amadora: Topseller
Nº
de páginas: 321
Início
da leitura: 07/03/2021
Fim
da leitura: 13/03/2021
A
Mulher do Quimono Branco é
um romance de Ana Johns, traduzido por P. Vieira e que me surpreendeu bastante
e pela positiva.
E,
apesar de ser uma obra ficcional, a autora criou-a a partir de eventos e
histórias reais, de entre as quais destaca a do seu pai, um marinheiro
americano com uma bela rapariga japonesa. Aborda também acontecimentos que
marcaram uma época no Japão. Nos anos de 1957-1958, em que mais de dez mil
bebés nasceram da união de militares americanos e raparigas japonesas, algumas ainda
crianças. Grande parte destes bebés, sendo fruto de relações não aceites
pelas famílias e que poriam em causa a sua conduta na sociedade, acabavam por
ser mortos à nascença, em maternidades clandestinas.
A
partir deste e de outros factos históricos, a autora conseguiu, neste livro,
criar uma narrativa verosímil, com uma linguagem fluente, mas cuidada, o que me
deixou rendida logo desde o início da história.
Nesta obra, temos a alternância de sequências narrativas, que intercala o presente, na América, com o passado, no
Japão de 1957, 1958. A história presente tem uma forte ligação com a
passada e esta, por sua vez, ajuda-nos a perceber a situação presente. Somos
conduzidos pelas duas histórias até chegarmos ao Japão presente, onde se
fundem, onde se compreendem as correlações.
Tudo
começa com Tori, no hospital, a acompanhar e a cuidar do pai nos seus últimos momentos
de vida. Doente oncológico, o pai, continua a contar-lhe histórias, que ela
sempre ouviu com uma quase devoção. Porém, acredita que muitas dessas histórias
são fruto da imaginação do pai, especialmente quando ele descreve o seu
casamento com uma japonesa de quimono branco.
Mas
o pai entrega-lhe uma carta. Será que a mulher do quimono existiu mesmo?
A
par desta narrativa, aparece-nos, então, a história de Naoko Nakamura, no Japão.
Aos 17 anos, Naoko apaixona-se por um americano. Mas a sua família te outros
planos para ela, o seu casamento com um pretendente que pudesse assegurar a estabilidade
económica da família e, ao mesmo tempo, manter intacto o estatuto familiar.
Estaria
Naoko disposta a prescindir dos seus sentimentos? Isso é o que poderá saber ao
ler o livro.
De
salientar, as magníficas descrições das paisagens, das flores, do próprio quimono
branco. Lindíssimas! Para mim, destaca-se ainda toda a tradição japonesa que
surge, quer através de medos, de obediência, de condutas, quer ainda através de
uma série de crenças, que, particularmente, adorei conhecer. Crenças estas que
faziam parte da sabedoria que os mais velhos transmitiam aos mais novos e que
iam passando de geração em geração.
Adorável,
sensível, emocionante são os adjetivos que encontro para melhor descrever este livro.
Destaco
apenas algumas passagens que me prenderam ainda mais a atenção:
“Uma
vida com amor é feliz. Uma vida para o amor é uma tolice. Uma vida de e se
é insuportável.”
“Nunca
se deve caminhar e comer ao mesmo tempo. Devemos sentar-nos para demonstrar o
nosso respeito pelo tempo e sacrifício que os atos de plantar, colher e
preparar os alimentos implicam.”
“«Para
saberes a direção em que vais, tens de conhecer tanto as tuas raízes como o teu
alcance.»”
“…não
consegui apanhar uma aranha dentro de casa, por isso não consegui libertar-me
da má sorte que ela carregava.”
“Os
três macacos. Eu, a Hatsu e a Jin. O meu coração contrai-se. A Sora pode ser a
quarta. Há quatro nas histórias antigas. O outro chama-se Shizaru e cruza os
braços para recusar o mal.”
“A
preocupação dá sombras grandes às coisas pequenas.”
“Muitos
têm sorte, mas poucos têm destino.”
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