Casa de Dia, Casa de Noite, Olga Tokarczuk

Tokarczuk, Olga (2021). Casa de Dia, Casa de Noite. Amadora: Cavalo de Ferro.

Tradutor: Teresa Fernandes Swiatkiewicz

Nº de páginas: 352

Início da leitura: 13/10/2021

Fim da leitura: 17/10/2021

SINOPSE

Casa de Dia, Casa de Noite, primeiro romance-constelação de Olga Tokarczuk, foi vencedor do Prémio Günter Grass e do Prémio Nike ainda antes de a autora receber o Prémio Nobel.

A vida na pequena cidade de Nowa Ruda, situada no coração da Europa, num território de passagem e de fronteiras instáveis, onde povos, guerras e regimes se sucedem, não é tão simples como aparenta ser. Os seus mais recentes habitantes polacos ocuparam as casas deixadas vazias pelos alemães em fuga no final da guerra, e nos bosques em redor há muitos segredos que se escondem debaixo da terra.

Com a ajuda de Marta, a sua velha e sábia vizinha, a narradora deste romance, recém-chegada à cidade, vai reunindo as histórias surpreendentes deste lugar, compondo um novelo de mitos, sonhos, episódios anedóticos, que muitas vezes transcendem o visível e o racional, misturando passado e presente.

OPINIÃO

Olga Tokarczuk tem, de facto, um estilo de escrita muito peculiar. Consegue, através de uma mistura de géneros, criar um género muito próprio. É um romance ficcional, onde se cruza a fantasia com uma espécie de gótico, de grande originalidade e misticismo. São-nos contadas várias histórias, da pequena cidade de Nowa Ruda, do bolor, da humidade, da ferrugem, do apodrecimento, da aspereza e da inflexibilidade que vão dominando a cidade. Uma cidade, por isso mesmo, enigmática. Desde histórias sobre habitantes da aldeia, como a da Santa, cujo pai rejeitou como filha, por ser mulher e que se terá transformado em homem, à história do monge que escreveu sobre a Santa e que se debateu com dúvidas de género, a sonhos quase dispersos, réstias de loucura, mitos…  Igualmente enigmáticas são as personagens. A narradora, uma observadora que nos vai narrando as histórias e descrevendo o espaço e a vida dos que aí habitam, tem uma especial curiosidade em relação à vizinha, com quem inicia uma amizade, também ela estranha. Esta idosa sábia, a Marta, confecionava perucas com mechas de cabelos, que um cabeleireiro famoso lhe oferecera, guardando-as numa arca, na sala. A narradora observava Marta, nos seus momentos de silêncio, imaginando inclusive de que forma a morte poderia entrar por ela.

As descrições são detalhadas, diretas, frias; no fundo, são o reflexo da velhice que vai dominando as personagens.

E este olhar detalhado vai-se dando conta das contradições entre a primavera e o inverno, a juventude e a velhice, o dia e a noite, o calor e o frio, a vida e a morte, não apenas percetível na natureza, mas também nas casas e nas pessoas, que “por dentro”, afinal, “são construídas como as casas – têm escadarias, entradas espaçosas, vestíbulos sempre mal iluminados que tornam difícil contar as portas para os quartos…”. As pessoas são como “casas de dia”, na juventude, na primavera, no calor e são “casas de noite” na velhice, no inverno, no frio.

Um livro que vale a pena ler!

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