Bennett, Brit (2021). A Outra Metade. Lisboa: Alfaguara Portugal.
Tradução: Tânia
Ganho
Início da
leitura: 08/10/2021
Fim da leitura:
12/10/2021
SINOPSE
As
gémeas Stella e Desiree Vignes, tão idênticas de feições quanto diferentes de
feitio, nasceram para contrariar a profecia.
Geração
após geração, a comunidade negra desta pequena localidade, no Estado sulista de
Luisiana, esforça-se por aclarar o tom da sua pele, favorecendo os casamentos
mistos. Desiree e Stella são disso um bom exemplo, com a sua pele «cor de areia
húmida», olhos castanho-avelã e cabelo ondulado. Mas a aparência não basta para
as livrar do estigma, e acabam por assistir à morte violenta do pai, à
humilhação da mãe depois disso.
Aos
dezasseis anos, escolhem fugir juntas da terra sufocante. Pretendem escapar ao
seu sangue e libertar o seu futuro. Mas a fuga para Nova Orleães acaba por
ditar o afastamento das irmãs, até então inseparáveis.
Catorze
anos mais tarde, Desiree volta à casa materna, arrastando pelas ruas poeirentas
da terra uma filha de pele «negra como o alcatrão», que atrai todos os olhares
do lugarejo retrógrado. Stella, por seu lado, tem a vida construída numa
mentira: vive na Califórnia, faz-se passar por branca, e o marido nada sabe do
seu passado.
Apesar de tantos quilómetros e tantas mentiras a separá-las, os destinos das
gémeas estão inevitavelmente entrelaçados. E voltarão a cruzar-se, porque é
impossível renegar a metade que nos pertence.
Na saga desta família que atravessa quatro décadas e vários Estados, Brit Bennett cria uma história de apelo universal e intemporal. Não se detendo no inevitável tema central da raça e da identidade, A Outra Metade reflete sobre o peso do passado no presente, pondera as consequências e os limites da reinvenção pessoal e oferece uma meditação poderosa sobre a família e a liberdade individual.
OPINIÃO
Que
livro maravilhoso! Muito bem escrito e com uma história sublime!
Aborda
a temática do racismo, mas de uma forma diferente, e, ainda que haja muitos
autores que tenham escrito sobre esta mesma temática, a forma como Bennett o
fez surpreende, comove e deixa-nos completamente rendidos. Vai muito para além
do racismo dos brancos em relação aos negros, fala-nos do racismo entre os
próprios negros, da negação da cor.
É
a história de duas irmãs gémeas, de pele “cor de areia húmida”, que vivem numa
localidade ficcional localizada no Estado do Luisiana. Uma localidade marcada
pelo racismo ao ponto de considerarem que as jovens não se deviam casar com
alguém de cor escura, de forma a que, com o tempo, conseguissem que a
comunidade local fosse aclarando cada vez mais o seu tom de pele. Apesar de
Stella e Desiree terem já uma cor mais clara, acabam por assistir à morte cruel
do pai e à humilhação da mãe, o que as marca para toda a vida. Aos 16 anos,
decidem fugir juntas para Nova Orleães. A partir daqui, temos um afastamento
entre elas. Apesar de fisicamente semelhantes, têm maneiras de ser e pensar
diferentes, o que leva Stella a decidir seguir a sua vida, longe da irmã,
fazendo-se passar por branca e compactuando com o próprio ambiente racista que
vai encontrar. Não é fácil perceber, mas também não deve julgar-se de ânimo
leve. Tudo o que a personagem passou até aqui e o facto de poder muito bem
passar por branca, faz com que se reinvente. Mas até que ponto ela o consegue?
Pode apagar-se assim o passado? Até que ponto se consegue edificar uma vida, um
seio familiar feliz com uma vida edificada em mentiras? É o que vos convido a tentar
responder com a leitura deste livro de que é tão fácil gostar e tão difícil
esquecer!
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