Deus na Escuridão, de Valter Hugo Mãe

Mãe, Valter Hugo (2024). Deus na Escuridão. Porto: Porto Editora.

N.º de páginas: 288
Início da leitura: 07/10/2025
Fim da leitura: 09/10/2025

**SINOPSE**
"«Deus é exactamente como as mães. Liberta Seus filhos e haverá de buscá-los eternamente. Passará todo o tempo de coração pequeno à espera, espiando todos os sinais que Lhe anunciem a presença, o regresso dos filhos.»
Este livro explora a ideia de que amar é sempre um sentimento que se exerce na escuridão. Uma aposta sem garantia que se pode tornar absoluta. A dúvida está em saber se os irmãos podem amar como as mães que, por sua vez, amam como Deus.
Passada na ilha da Madeira, esta é a história de dois irmãos e da necessidade de cuidar de alguém. Delicado e profundo, Deus Na Escuridão é um manifesto de lealdade e resiliência."
Em Deus na Escuridão, Valter Hugo Mãe regressa à escrita mais íntima e espiritual, aquela que nos confronta com a fragilidade humana e a força silenciosa do amor. A frase que abre o livro - «Deus é exactamente como as mães. Liberta Seus filhos e haverá de buscá-los eternamente.» -  serve como mote para toda a narrativa. É um retrato terno e doloroso da relação entre o divino, a maternidade e a capacidade humana de amar, mesmo quando o amor é uma forma de escuridão - um espaço onde nada é garantido, mas tudo é sentido com intensidade absoluta.
A história, passada na ilha da Madeira, ecoa a solidão e a beleza agreste do lugar. A paisagem insular torna-se quase uma personagem: isolada, mas plena de uma espiritualidade que acolhe e desafia. É neste cenário que dois irmãos enfrentam o peso da existência e a necessidade de cuidar - um irmão mais velho, saudável e um irmão mais novo, que nasceu "sem as origens...vinha mordido entre as pernas como se algum predador o tivesse buscado na barriga de nossa mãe". O irmão mais velho, narrador desta história, assume o papel de proteger o irmão de tudo e de todos - um cuidador sensato e terno. O livro é, acima de tudo, uma reflexão sobre a responsabilidade que nasce do amor: a ideia de que amar é, inevitavelmente, um gesto de entrega e de fé, algo que se faz sem luz, sem certezas, mas com total devoção.
Valter Hugo Mãe escreve com uma delicadeza rara, onde a ternura convive com a dor, e onde o cuidado se revela como o mais humano dos atos. Deus na Escuridão é um manifesto de lealdade e resiliência, uma meditação poética sobre o amor que resiste, mesmo quando tudo parece perdido. É um livro que pede silêncio e atenção, porque cada frase carrega um peso espiritual - o de quem sabe que amar é, talvez, o mais divino dos gestos humanos.

Destaco, de entre muitas, uma passagem, pela beleza e pela verdade que encerra e em que me revi.
"Deus é exactamente como são as mães, que criam e depois vão ficando para trás, à distância, numa distância que parece significar que não são mais precisas, e Ele, como elas, só sabe amar acima de qualquer defeito e qualquer falha, com cada vez maior saudade, mas não sabe o caminho, não sabe por onde os filhos foram, só pode suplicar que não se percam e não se percam da vontade de voltar."

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