Danificada, M.L. Vieira

Vieira, M.L. (2025). Danificada. Lisboa: Iguana.

N.º de páginas: 88
Início da leitura: 09/10/2025
Fim da leitura: 10/10/2025

**SINOPSE**
"Numa fábrica do futuro, máquinas e meios de transporte são montados por um batalhão de clones. Todas mulheres, todas iguais, cada uma com um número. Elas não têm personalidade, nem ansiedades, nem se interrogam sobre a vida. Até que um dia a 2518 começa a sonhar com uma vida diferente. Sonha com a liberdade e um propósito até que... tudo começa a correr mal.

Nesta estreia impressionante, M.L. Vieira pega na ficção científica e na banda desenhada, e dá-lhe uma prosa poética e atual."
Gostei muito desta novela gráfica. Danificada, de M. L. Vieira, surpreendeu-me profundamente pela forma como conjuga a crueldade e a poesia num mesmo traço narrativo. A história decorre num mundo distópico, onde nada é deixado ao acaso: as clones existem apenas para cumprir uma função, produzir bicicletas, e são privadas de qualquer liberdade, pensamento próprio ou emoção. No entanto, é precisamente nesse cenário mecanizado e opressivo que nasce a centelha da rebeldia. A 2518, uma entre tantas outras cópias, começa a sonhar com algo que nunca conheceu: a liberdade, o toque do vento, a possibilidade de escolher o próprio destino.
O contraste entre a frieza industrial do mundo retratado e a delicadeza dos sonhos da protagonista é o que torna Danificada tão poderosa. A narrativa visual reforça essa tensão: há uma beleza melancólica nas ilustrações. M. L. Vieira consegue criar um universo onde o silêncio fala tanto quanto as palavras - e onde a esperança, por mais frágil que pareça, ganha forma e movimento.
A pergunta que ecoa até ao final - conseguirá a 2518 fugir? - é mais do que um mero suspense narrativo. É uma reflexão sobre o que significa ser livre, sobre o preço da individualidade num mundo que prefere cópias à criação. Danificada é, assim, uma leitura que emociona e inquieta, um espelho das nossas próprias lutas contra as formas subtis de controlo e conformismo. Cruel e poética, sim - mas, acima de tudo, profundamente humana.

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