O Desassossegado Senhor Pessoa, Nicolas Barral

Barral, Nicolas (2025). O Desassossegado Senhor Pessoa. Lisboa: Levoir.

N.º de páginas: 144
Início da leitura: 22/10/2025
Fim da leitura: 27/10/2025

**SINOPSE**
"Esta obra foi uma das grandes sensações no mundo da Banda Desenhada em França em 2024 e Candidato aos prémios do festival de banda desenhada de Angoulême 2025, O Desassossegado Senhor Pessoa, é "um retrato comovente de Fernando Pessoa, um dos maiores escritores do século XX".

Simão Cerdeira, um jovem jornalista do Diário de Lisboa é indicado para escrever o obituário de Fernando Pessoa, porque corre o rumor, em Novembro de 1935, de que o poeta está doente e morrerá em breve. Mas Cerdeira nada sabe sobre o poeta lançando-se numa investigação, percorrendo o seu rasto, entrevistando as principais testemunhas da vida desta enigmática figura.

Ao mesmo tempo, Pessoa prepara a sua morte. Na altura Fernando Pessoa trabalhava nos textos do Livro do Desassossego, do heterónimo Bernardo Soares. Esta obra tem um posfácio e tradução de Ricardo Belo de Morais, escritor, investigador e especialista em Fernando Pessoa.

Dizem que Pessoa tinha um baú cheio de milhares de textos, uma espécie de caixa de correio onde todos esses escritores vinham regularmente deixar os seus manuscritos. Um baú cheio de pessoas que talvez só existam na imaginação do seu dono."
Fernando Pessoa é, sem dúvida, uma das figuras mais enigmáticas da literatura portuguesa. Sou uma fã incondicional da sua poesia e dos seus heterónimos, bem como de Pessoa ortónimo.
O Desassossegado Senhor Pessoa, de Nicolas Barral, é uma novela gráfica que nos conduz pelos últimos dias de vida do poeta, cruzando-os com a história de um jornalista que foi incumbido de escrever o seu obituário. É precisamente nesta premissa que reside grande parte do encanto da obra: o autor consegue transportar-nos para dentro do universo pessoano, permitindo-nos sentir que, ao fechar o livro, sintamos um Pessoa mais próximo, menos etéreo.
O final é particularmente comovente. Mostra-nos um homem esgotado, fragmentado entre as suas múltiplas vozes e personalidades, tentando dar sentido ao mundo através da criação (que se revoltam, a certa altura, com Pessoa, pois acham que têm voz própria e que ele abafa as suas vozes na literatura. É o retrato de uma existência marcada pelo peso do pensamento e por uma solidão que, em parte, foi escolhida, talvez como forma de se proteger da complexidade dos outros. 
O Desassossegado Senhor Pessoa é, assim, uma leitura belíssima e introspetiva, uma homenagem delicada e inteligente, que nos convida a olhar para Pessoa não como mito, mas como homem — frágil, contraditório e profundamente humano.

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