As Estrelas Brilham na Cidade, Laura Moriarty

Moriarty, Laura (2014). As Estrelas Brilham na Cidade. Barcarena: Editorial Presença.

Tradução: Marta Mendonça
N.º de páginas: 368
Início da leitura: 01/10/2025
Fim da leitura: 04/10/2025

**SINOPSE**
"Em 1922, Louise Brooks tem apenas 15 anos e vive em Wichita, no Kansas, quando parte para Nova Iorque a fim de frequentar um curso de dança. Com ela vai também Cora, uma mulher mais velha e já casada, para lhe servir de acompanhante. Contudo, apesar de Louise Brooks se ter tornado mais tarde um dos grandes ícones do cinema mudo, é a vida de Cora que Laura Moriarty recria neste romance. Cora Carlisle é uma sufragista bastante convencional, que oculta os seus segredos e tem motivos próprios relacionados com as suas origens para aceitar fazer aquela viagem. Por outro lado, a diferença de idades e de atitudes entre as duas mulheres permite à autora tirar partido do que distingue as duas gerações explorando engenhosamente as múltiplas facetas das mudanças que vão ocorrendo na sociedade.
As Estrelas Brilham na Cidade é uma narrativa fascinante e muito bem documentada sobre a história e a mudança de mentalidades durante o século XX."
As Estrelas Brilham na Cidade, de Laura Moriarty, é um romance de ficção histórica, que nos transporta para o início do século XX, acompanhando a vida de duas mulheres muito diferentes, que acabam por se cruzar de forma transformadora. A história começa em 1922, quando Cora, uma mulher de 36 anos, casada e de valores tradicionais, aceita acompanhar a jovem Louise Brooks a Nova Iorque. Louise é uma adolescente ambiciosa, rebelde e cheia de energia, prestes a tornar-se numa das grandes estrelas do cinema mudo - um ícone de uma geração que viria a desafiar convenções e redefinir o papel da mulher na sociedade.

As cinco semanas que passam juntas em Nova Iorque mudam Cora profundamente. Habituada a uma vida marcada pelas convenções e pelos “bons costumes”, Cora é confrontada com um mundo vibrante, boémio e moralmente ambíguo. No meio da efervescência dos anos 20 - entre o jazz, a Lei Seca e os novos costumes - ela começa a perceber que a moral não é uma linha reta, mas um território cheio de nuances. Aos poucos, torna-se mais compreensiva, mais tolerante e menos rígida nos seus julgamentos. A viagem, que inicialmente parecia um simples favor, revela-se uma jornada de autodescoberta e de crescimento interior.

Narrado do ponto de vista de Cora, o livro oferece um olhar íntimo sobre o contraste entre a América conservadora do Centro-Oeste e o espírito livre de Nova Iorque dos anos 20. Louise Brooks, com a sua personalidade intensa e a sua história marcada por traumas, é o catalisador dessa transformação - uma jovem que, apesar das suas falhas, encarna a modernidade e a busca pela autenticidade.

Laura Moriarty escreve com delicadeza e profundidade, captando as tensões sociais e morais de uma época em mudança. A narrativa estende-se do início dos anos 1900 até à Guerra do Vietname, mostrando como o tempo molda as pessoas e as suas convicções. É uma leitura rápida, envolvente e cheia de humanidade - um retrato sensível sobre a amizade, a liberdade e o poder de nos reinventarmos.

Ao longo da narrativa, vamos conhecendo várias gerações desta família tão pouco convencional, uma vez que a protagonista consegue a proeza - rara para a sua época - de chegar a uma idade avançada, ultrapassando os noventa anos. Essa longevidade permite a Cora assistir às profundas transformações do século XX, desde as mudanças nos costumes até às convulsões sociais e políticas que marcaram a América. Através dos seus olhos, percebemos como o mundo rural e conservador do início do século se foi diluindo num novo modo de vida, mais urbano, mais livre, mas também mais incerto.

Aconselho vivamente a leitura deste livro!

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