Velho, Susana Amaro (2025). As Últimas Linhas Destas Mãos. Lisboa: Casa das Letras
N.º de páginas: 256
Início da leitura: 20/10/2025
Fim da leitura: 23/10/2025
**SINOPSE**
Depois da morte da mãe, Teresa herda um caixote de cartas antigas, fotografias sem data e pequenos objetos de valor insignificante. Escritas ao longo de décadas por uma mulher que assina com o mesmo nome da mãe, Alice, mas que fala de amores clandestinos, lugares que a filha não reconhece, de despedidas que parecem dirigidas a alguém que não ela.
Nas entrelinhas dessas palavras, começa a desenhar-se uma história paralela à que lhe foi contada, à que viveu, àquela a que tentou a custo sobreviver: feita de omissões, de vidas vividas à margem do possível, uma narrativa subterrânea que emerge em frases soltas, por vezes, desconcertadas, que despem uma desconhecida.
No regresso à casa da infância, Teresa procura reconstituir a figura da mãe: quem foi esta mulher antes de se deixar domesticar, antes de ceder o corpo e a linguagem ao papel de esposa e mãe?
Na ressonância das cartas que percorre, Teresa descobre o que acontece quando o amor não cabe na vida que se escolheu viver.
Nas entrelinhas dessas palavras, começa a desenhar-se uma história paralela à que lhe foi contada, à que viveu, àquela a que tentou a custo sobreviver: feita de omissões, de vidas vividas à margem do possível, uma narrativa subterrânea que emerge em frases soltas, por vezes, desconcertadas, que despem uma desconhecida.
No regresso à casa da infância, Teresa procura reconstituir a figura da mãe: quem foi esta mulher antes de se deixar domesticar, antes de ceder o corpo e a linguagem ao papel de esposa e mãe?
Na ressonância das cartas que percorre, Teresa descobre o que acontece quando o amor não cabe na vida que se escolheu viver.
Há livros que nos tocam de forma subtil, quase silenciosa, e há outros que nos agarram pela força das palavras, pela intensidade das emoções e pela delicadeza com que abordam temas universais. Esta obra de Susana Amaro Velho, pertence claramente a esta segunda categoria. Desde as primeiras páginas senti-me rendida à escrita da autora. Há nela um dom raro de contar histórias fortes num tom poético e cuidado, que nos envolve e nos faz ler devagar, saboreando cada frase.
O romance mergulha nas águas profundas do luto, do abandono e do amor impossível, temas que poderiam facilmente cair no dramatismo excessivo, mas que aqui são tratados com uma elegância contida, quase musical. O ritmo das palavras, a escolha das imagens e a sensibilidade da narrativa revelam uma escritora que conhece bem o poder da linguagem e o usa para nos aproximar da fragilidade humana.
Um dos aspetos que mais me encantou foi a estrutura narrativa. As diferentes personagens assumem, de forma alternada, a voz da narração, oferecendo-nos múltiplos pontos de vista sobre os mesmos acontecimentos. Essa alternância não só enriquece a história, como nos permite compreender melhor as motivações, os silêncios e as feridas de cada um. É um exercício de empatia que desafia o leitor a olhar para o mundo com mais profundidade e menos certezas.
As últimas linhas destas mãos é, acima de tudo, um livro sobre a persistência da memória e sobre a forma como o amor, mesmo quando impossível, continua a marcar presença nas nossas vidas, transformando-se em palavras, em gestos e, talvez, nas “últimas linhas” que nos restam escrever. Susana Amaro Velho confirma, com esta obra, a sua voz singular no panorama literário contemporâneo português: sensível, intensa e profundamente humana.

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