Dueñas, Maria (2025). Se Um Dia Voltarmos. Porto: Porto Editora.
Tradução: Carla Ribeiro
N.º de páginas: 448
Início da leitura:14/11/2025
Fim da leitura:17/11/2025
**SINOPSE**
"Orán, Argélia francesa, finais da década de 1920.
Ana Cecilia Belmonte, uma jovem espanhola de apenas 17 anos, foge de casa após um episódio traumático. Sem documentos nem destino, atravessa o mar Mediterrâneo e refugia-se numa terra estranha.
Num ambiente hostil, onde imperam a desigualdade, o colonialismo e a opressão, Cecilia encontra trabalho nas fábricas de tabaco, nos campos e nos bairros mais esquecidos de Orán. A cada passo, enfrenta humilhações, perigos e perdas. Mas é também aí, na margem da sociedade, que descobrirá alianças inesperadas, redes de apoio e de solidariedade feminina, vínculos e paixões que, aliados à sua coragem e resiliência, acabarão por conduzi-la por um caminho repleto de reviravoltas, conquistas e desafios.
A Guerra Civil Espanhola, o avanço nazi no Norte de África e o conflito pela independência da Argélia marcam o contexto desta poderosa história de resistência, que é também uma reflexão sobre identidade, pertença e os laços que nos unem à terra de onde partimos – mesmo quando já não é possível voltarmos."
Se Um Dia Voltarmos é um romance que se impõe pela forma como cruza destinos pessoais com momentos decisivos da história do século XX. María Dueñas constrói uma narrativa ampla, guiada por personagens que se movem entre o íntimo e o político, sempre com uma humanidade discreta, mas persistente.
A autora acompanha trajetórias marcadas por violência, perda, deslocação e resistência. As vidas que aqui encontramos são consistentes, feitas de escolhas imperfeitas, erros, avanços e recuos. Essa verosimilhança sustenta a força do livro: não há heroísmos fáceis, apenas pessoas confrontadas com circunstâncias que as ultrapassam e que, ainda assim, procuram manter alguma forma de dignidade.
O pano de fundo histórico, a Argélia francesa, a presença espanhola no Norte de África, a Guerra Civil Espanhola, o exílio, a Segunda Guerra Mundial e, mais tarde, a Guerra da Independência argelina, não surge como simples cenário. Funciona antes como estrutura que molda os percursos individuais, revelando a forma como a história coletiva interfere, condiciona e, por vezes, derrota ou reorienta a vida de quem a atravessa. Dueñas articula estes contextos com clareza e sem excessos, dando espaço ao leitor para acompanhar a evolução das personagens ao longo de décadas de conflito e transformação.
A narrativa é marcada por momentos de abuso, homicídio, silêncio e ruptura, mas também por gestos de coragem, reencontros e uma persistência quase teimosa em manter viva alguma esperança, mesmo quando esta parece frágil. A escrita mantém-se contida, evitando dramatizações exegeradas, o que torna o impacto emocional mais efetivo.
Adorei e recomendo vivamente!


0 Comentarios