Histórias Soltas Presas Dentro de Mim

Gago, André (2010). Rio Homem. Alfragide: Edições ASA II.


N.º de páginas:320

Início da leitura: 09/12/2025

Fim da leitura: 13/12/2025


**SINOPSE**

"Em plena Guerra Civil de Espanha, Rogelio - um jovem galego de ideais republicanos - e alguns dos seus companheiros de guerrilha entram em Portugal clandestinamente com o propósito de apanhar, na cidade do Porto, um navio que os leve aos Estados Unidos e os liberte para sempre da ameaça do fuzilamento e da prisão. Porém, no momento em que Rogelio se afasta do grupo para testar a segurança da próxima etapa da viagem, desconhece que virou do avesso o próprio destino: doravante completamente só num país que desconhece, o jovem sofrerá uma experiência pró-xima da morte que, paradoxalmente, o fará renascer como homem no seio de uma comunidade algo visionária, visitada e admirada por grandes intelectuais - a aldeia de Vilarinho da Furna. Aí encontrará o amor, de muitas maneiras. Exaustivamente investigado, narrado com mestria e beleza e com uma galeria de personagens admiráveis (entre as quais não podemos deixar de reconhecer, por exemplo, Miguel Torga), Rio Homem cruza duas histórias magistrais - a de um refugiado que perdeu todas as suas referências e a da aldeia comunitária que o acolheu e que hoje jaz submersa na albufeira de uma barragem."

Não conhecia a escrita do autor e estava curiosa. Surpreendeu-me a escrita, cuidada e segura, com rigor narrativo e que se lê com agrado.
Contudo, essa solidez estilística nem sempre encontra correspondência na força da história. A narrativa, apesar de competente, não se revela particularmente instigante, faltando-lhe, por vezes, tensão ou surpresa suficientes para manter o leitor emocionalmente envolvido. Em vários momentos, o romance parece perder fôlego e arrasta-se, como se estivesse excessivamente preso ao dever de explicar em vez de avançar. Essa sensação é acentuada pela presença de longas digressões que interrompem o fluxo narrativo e diluem o impacto dramático dos acontecimentos.

Um dos aspectos mais problemáticos do livro reside precisamente no excesso de contextualização histórica. André Gago demonstra um claro empenho em situar o leitor no tempo e no espaço, oferecendo um enquadramento histórico detalhado e rigoroso. Essa contextualização é, em si mesma, bem conseguida e revela um trabalho de pesquisa sólido. No entanto, torna-se excessiva. As explicações alongam-se e, não raras vezes, tornam-se repetitivas. O que poderia servir para enriquecer o romance acaba por o sobrecarregar, travando o ritmo e diminuindo o envolvimento do leitor.
Ainda assim, pelo rigor e escrita, recomendo a leitura.

 

Passaporte Digital de Leitura

Passaporte Digital de Leitura

Atividade: A Minha Escola Lê + Digital — Biblioteca Escolar

Mastragostino, Matteo e Ragghiasci, Alessandro (2023). Primo Levi. Lisboa: Levoir.

Tradução: Vasco Gato
N.º de páginas: 128
Início da leitura: 08/12/2025
Fim da leitura: 09/12/2025

**SINOPSE**
Sabem, crianças, quando eu tinha a vossa idade, gostava muito de números, mas não podia imaginar que iria usar seis deles no meu braço durante toda a minha vida. É desta forma que Primo Levi começa a sua visita à escola primária Felice Rignon, que tinha frequentado quando criança. E revisitada na ficção da história: ele regressa lá, chamado pela professora, para contar a sua própria história Em 1943 juntou-se à resistência como nos conta Francisco Louçã no prefácio deste livro: Primo Levi, que se tinha juntado a um grupo de guerrilheiros no Val d’Aosta, mal preparados e algo ingénuos, foi preso ao fim de poucos meses e enviado num desses comboios para Auschwitz. A sua prima Vanda, que o convencera a tornar-se partigiano, foi enviada para o campo de Birkenau, onde foi das últimas mulheres a ser assassinada. E ele viveu onze meses no campo de memória mais sinistra, até à chegada das tropas soviéticas. Também Frediano Sessi, numa entrevista a Francesco Mannoni nos fala de Levi como resistente: "partigiano não violento que usava a palavra para convencer quem não concordasse consigo" .


A novela gráfica Primo Levi, de Matteo Mastragostino com ilustrações de Alessandro Ranghiasci, oferece uma abordagem única à memória do Holocausto ao partir de Se Isto é um Homem, sem nunca tentar reproduzir o livro de Levi. Em vez disso, constrói uma narrativa própria, na qual o autor, ou melhor, a figura literária de Primo Levi, visita uma escola e relata às crianças aquilo que viveu em Auschwitz. Esta opção narrativa, aparentemente simples, revela-se uma solução poderosa: aproxima Levi dos leitores contemporâneos, sobretudo dos mais jovens, e torna a transmissão da memória um gesto íntimo, direto, quase urgente.
O grande mérito da obra reside precisamente neste diálogo intergeracional. À medida que Primo Levi descreve as etapas da perseguição, da deportação e da vida no campo, vemos crianças inicialmente inquietas, céticas ou simplesmente desinteressadas a transformarem-se. A incredulidade dá lugar ao respeito, e o distanciamento à empatia, prova de que a narrativa, quando bem conduzida, continua a ter força para desarmar resistências e despertar consciências. Mastragostino sabe equilibrar o peso do testemunho com uma linguagem acessível, sem nunca banalizar o horror nem infantilizar o leitor.
As ilustrações de Ranghiasci desempenham aqui um papel fundamental. O traço contido, quase austero, evita o sensacionalismo e reforça a sobriedade do relato. As tonalidades esbatidas e o uso expressivo do vazio gráfico sublinham a desolação dos episódios narrados, ao mesmo tempo que permitem uma leitura clara, emocional, mas não opressiva, um equilíbrio difícil quando se trata de representar o Holocausto.
No conjunto, Primo Levi é uma obra que honra a memória sem a cristalizar. Ao inserir o testemunho num contexto escolar contemporâneo, a novela gráfica renova a relevância de Levi e convida o leitor a refletir sobre a forma como transmissões de memória podem e devem continuar a ser construídas. Comovente, pedagógica e artisticamente contida, esta adaptação demonstra que há sempre novas maneiras de contar o indizível, desde que o respeito e a responsabilidade sejam os seus pilares.

 Ondjaki (2010). Quantas Madrugadas Tem a Noite. Alfragide: Editorial Caminho.

N.º de páginas: 192
Início da leitura: 07/12/2025
Fim da leitura: 07/12/2025

**SINOPSE**
"Quantas Madrugadas Tem a Noite" está destinado a ser um marco na literatura angolana e na literatura de língua portuguesa em geral. Com uma extraordinária mestria narrativa, Ondjaki conta aqui uma história em que não se sabe o que admirar mais, se a fulgurante imaginação do autor, se a sua capacidade para a criação de tipos e situações carregados de significado, se a sua capacidade para elevar a linguagem coloquial a um altíssimo nível literário. O humor, a farsa, o lirismo, a tragédia, o horror, todos estes sentimentos são aqui convocados e expostos, com a fluência de quem conta, simplesmente, uma história, na Luanda dos dias de hoje. Assim:
«Num tenho dinheiro, num vale a pena te baldar. Mas, epá, vamos só desequilibrar umas birras; sentas aí, nas calmas, eu te pago em estória, isso mesmo, uma pura estória daquelas com peso de antigamente, nada de invencionices de baixa categoria, estorietas, coisas dos artistas: pura verdade, só acontecimentos factuais mesmo. A vida não é um carnaval? Vou te mostrar alguns dançarinos, damos e damas, diabo e Deus, a maka da existência.
Transformo só o material pra lhe dar forma, utilidade. O artista molha as mãos pra trabalhar o destino do barro? Eu molho o coração no álcool pra fazer castelo das areias em cima das estórias...
Uma noite, quantas madrugadas tem?»
Tinha este livro há muito perdido entre outros da estante, porque, apesar de gostar da escrita do autor, foi perdendo prioridade para outros mais recentes e porque nunca gostei desta capa. Mas foi desta!
Em Quantas Madrugadas Tem a Noite, Ondjaki conduz-nos para uma noite suspensa no tempo, num bar de Luanda onde o narrador, amante de cerveja, de conversas longas e de estórias picantes, nos toma diretamente como interlocutores. Através dele, avançamos madrugada adentro e entramos na vida (e sobretudo na morte atribulada) de Adolfo Dido, figura de nome insólito e destino ainda mais improvável. A morte, causada por uma simples mordidela da carraça do enorme cão da Kota das Abelhas, está longe de trazer sossego: as ex-mulheres de Adolfo, Dona Divina e Kibebucha, tentam aproveitar a última política governamental de apoio às viúvas de antigos combatentes e inventam, sem pudor, um passado militar para o falecido. A farsa cresce a tal ponto que se abre um processo judicial, arrastando para o centro da intriga amigos, familiares e até o aparentemente intocável cão tratado como um autêntico sultão.
Uma das características mais marcantes do livro é o registo linguístico: Ondjaki escreve num português angolano popular, vivo, de rua, conferindo ao texto uma musicalidade própria e uma autenticidade difícil de replicar. O glossário final, longe de distrair, funciona como ponte cultural para o leitor menos familiarizado com certas expressões, sem nunca quebrar o ritmo da narrativa. A intriga, original e cheia de reviravoltas, sobressai não só pelo humor, mas também pela subtileza com que expõe tensões sociais e económicas de uma Angola marcada pela guerra e pelas cheias.
Gostei particularmente da forma como o narrador, com a sua alegria simples e espontânea, nos leva a refletir sobre temas de maior fôlego: a mudança, o peso do passado, o valor das pequenas coisas, a morte e, claro, o número quase infinito de madrugadas que pode caber numa só noite. Entre riso, melancolia e devaneio, Ondjaki compõe um retrato afetivo do povo angolano, mostrando como, mesmo nas situações mais absurdas, há sempre espaço para humanidade, ternura e espanto.

Diftevsen, Tove. A Trilogia de Copenhaga. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2022.

Tradução: 
N.ºde Páginas: 392
Início da leitura: 01/12/2025
Fim da leitura: 06/12/2025

**SINOPSE**

"Considerada «uma obra-prima» pelo The Guardian, A Trilogia de Copenhaga reúne num único volume Infância, Juventude e Relações Tóxicas, os três livros fundamentais de Tove Ditlevsen, aclamada como uma das vozes mais importantes e singulares da literatura dinamarquesa do século XX. Uma obra corajosa e honesta que representa um exercício pioneiro no campo da escrita confessional, explorando temas como a família, o sexo, a maternidade, a toxicodependência e as dificuldades da mulher para ser artista.

Durante a sua vida, Ditlevsen teve de lidar com a tensão entre a sua vocação de escritora e os seus papéis de filha, esposa e mãe, bem como a sua condição de viciada, o que a levou a escrever sobre a experiência e a identidade feminina de uma maneira muito à frente do seu tempo e ainda pertinente para as discussões atuais em torno do feminismo. Embora baseada nas experiências da autora, A Trilogia de Copenhaga lê-se como a ficção mais empolgante, sendo notável pela sua intensidade e descrição imersiva de um mundo de complexas amizades femininas, relações familiares e literatura - nesse sentido, é a resposta de Copenhaga aos romances napolitanos de Elena Ferrante. Por outro lado, Ditlevsen pode também ser vista como uma precursora espiritual de escritores confessionais como Karl Ove Knausgård, Annie Ernaux, Rachel Cusk e Deborah Levy."

A Trilogia de Copenhaga apresenta-se como um testemunho autobiográfico de grande intensidade, no qual Tove Ditlevsen revisita a infância, a juventude e a vida adulta, com uma lucidez desarmante. A escrita combina franqueza, simplicidade e um sentido agudo de observação, permitindo ao leitor aceder à intimidade de uma autora marcada por vulnerabilidades profundas e por uma constante sensação de deslocação.
A primeira parte, dedicada à infância, revela a dureza de crescer num ambiente pobre de Copenhaga, atravessado por afetos instáveis e expectativas contraditórias. A relação distante com o pai, a severidade da mãe e a humilhação provocada pelo irmão compõem um quadro de isolamento precoce, que ajuda a explicar tanto a fragilidade emocional da autora como a necessidade imperiosa de escrever.
A juventude, narrada na segunda parte, confirma essa vulnerabilidade: empregos instáveis, relações afetivas efémeras e um desejo persistente de afirmação literária coexistem com um quotidiano marcado pela precariedade. A publicação do primeiro livro de poesia traz reconhecimento, mas não serenidade, e o percurso sentimental mantém-se errático, como se o mundo exterior fosse sempre um território alheio.
A terceira parte, centrada nas relações tóxicas, é a mais perturbadora e reveladora. A dependência da petidina, induzida por um marido manipulador, transforma-se no eixo trágico da narrativa. Ditlevsen descreve a progressiva anulação de si própria com uma frieza quase clínica, sem dramatização, o que reforça o impacto emocional da narrativa. 
É, sem dúvida, uma obra de grande poder evocativo, cuja sobriedade confessional e capacidade de olhar o próprio sofrimento sem artifícios fazem dela um marco da autobiografia moderna. Muito bom!

 Afonso, Olivier e Chico (2022). Os/Les Portugais. Benavente: Ala dos Livros.

Tradução: Catherine Labey e Maria José Magalhães Pereira
N.º de páginas:136
Início da leitura: 28/11/2025
Fim da leitura: 30/11/2025

**SINOPSE**
"Aos dezoito anos, Mário foge de Portugal escondido na bagageira de uma velha viatura. Na fronteira franco-espanhola, local onde o seu passador o deixa, conhece Nel. Na companhia deste jovem compatriota, vai descobrir a vida aventureira dos emigrados num bairro de lata da região parisiense: trabalho nas obras, noites regadas a vinho verde, conversa, esquemas…
Esta história de amizade singular é transversal ao destino de milhares de Portugueses que, nos anos 1970, fugiram da ditadura de Salazar e tentaram, cada um à sua maneira, reconstruir a sua vida. Estória pessoal e simultaneamente história de um país que em 1974 saiu da ditadura para dar os primeiros passos em democracia, o livro Os/Les Portugais é uma obra imperdível."
Os Les Portugais afirma-se como um relato ficcional que recupera, com sensibilidade e rigor, a experiência migratória portuguesa rumo a França no final dos anos 60 e ao longo da década de 70. Através da figura de Mário, jovem que abandona Portugal de forma clandestina, o livro restabelece a memória de um movimento coletivo motivado tanto pela necessidade económica como pela fuga ao clima político e militar do país.
O argumento evidencia um trabalho de pesquisa atento, mas nunca se transforma num simples exercício documental. Afonso e Chico integram o contexto histórico com naturalidade, preservando a centralidade das personagens e das suas vivências concretas. O percurso de Mário, desde a travessia improvisada até à chegada aos subúrbios parisienses, ilustra a vulnerabilidade, o desamparo e a esperança contraditória que acompanharam muitos emigrantes de então. A relação com Nel, companheiro ocasional de fuga, e o encontro com Eva, já habituada ao quotidiano árduo do bidonville, ampliam o olhar sobre a formação de pequenas comunidades improvisadas, unidas por necessidades comuns e por um desejo de pertença.
A dimensão gráfica da obra contribui decisivamente para a sua força expressiva. A representação visual dos bairros de lata, dos espaços exíguos e da rotina laboral sem garantias reforça o tom contido e realista da narrativa. Os autores evitam tanto a idealização como o melodrama, optando por uma abordagem direta que confere dignidade às personagens e sublinha a resiliência que marcou grande parte desta geração. Aconselho a leitura!

 Sendker, Jean-Philipp (2025). O Silêncio Que Guardaste no Coração. Lisboa: Alma do Livros.

Tradução: Hugo Alves
N.º de páginas: 336
Início da leitura: 24/11/2025
Fim da leitura: 27/11/2025

**SINOPSE**
"Julia Win é uma advogada bem-sucedida em Manhattan, mas a sua vida privada está numa encruzilhada; acabou recentemente o namoro, sofreu um aborto espontâneo e, apesar do sucesso profissional, sente-se perdida, exausta e infeliz.

Um dia, a meio de uma importante reunião de negócios, ouve uma voz na sua cabeça que a leva a abandonar o escritório sem dar nenhuma explicação. Nos dias seguintes, a crise agrava-se. Não só a voz se recusa a desaparecer, como começa a fazer perguntas que Julia tem tentado evitar:

Porque é que vives sozinha?
De quem é que te sentes próxima?
O que é que queres da vida?

Entrelaçada com a história de Julia, está a de uma mulher birmanesa chamada Nu Nu, que vê o seu mundo virado do avesso quando a Birmânia entra em guerra e chama os seus dois filhos para serem crianças-soldado."

O Silêncio que Guardaste no Coração é uma obra que se inscreve na linha narrativa típica de Jan-Philipp Sendker, marcada pela delicadeza emocional, pela introspeção e por uma atmosfera que combina intimidade psicológica com um exotismo contido. O autor constrói uma história que se desenvolve num registo pausado, sustentada por uma escrita clara e emocionalmente depurada, que se centra menos sobre a ação e mais sobre os estados de alma das personagens.
A força do romance reside sobretudo na capacidade de Sendker para explorar o tema do silêncio, enquanto ausência de palavras, mas também como espaço interior onde se acumula aquilo que não pôde ser dito. O título é, nesse sentido, fiel ao tom da narrativa: há nos protagonistas uma dor contida que só se revela gradualmente, à medida que o enredo avança. Esta abordagem favorece uma leitura contemplativa, convidando o leitor a acompanhar o processo de reconciliação entre o passado e o presente.
Contudo, considero que essa mesma contenção emocional limita o impacto da obra. O autor tende a privilegiar um sentimentalismo subtil, mas constante, que nem sempre encontra equilíbrio com o desenvolvimento das personagens secundárias, algumas das quais surgem como figuras mais simbólicas do que reais. Há também momentos em que o ritmo lento se aproxima de uma certa previsibilidade.
Ainda assim, a sensibilidade do autor ao abordar temas como a perda, a distância emocional e a possibilidade de redenção, confere ao livro uma profundidade discreta. A narrativa destaca-se pela forma como articula paisagens exteriores e interiores, transformando a geografia numa metáfora da vida emocional das personagens. A premissa prometia, mas, quanto a mim, não foi desenvolvida de forma interessante. Esperava mais.

 Kellen, Alice (2025). A Teoria dos Arquipélagos. Lisboa: Editorial Presença.

Tradução: Ana Rita Sintra
N.º de páginas: 200
Início da leitura: 23/11/2025
Fim da leitura: 23/11/2025

**SINOPSE**
"Ninguém está sozinho no mudo. Somos ilhas, sim, cada um de nós, mas podemos aproximar-nos, tocar-nos… e formar arquipélagos de amor.

Se as nossas vidas apenas se medissem em tempo, o amor não existia: ele não se compadece das ciências exatas, não quer nem saber do politicamente correto, manda às urtigas a opinião dos outros. Porque, quando o amor existe, se realmente é amor, a nossa vida passa a medir-se por ele.

Martín e Isaac conheceram-se no verão de 1980 e, como duas ilhas que o mar aproxima com ondas de paixão, foram-se aproximando, formando um arquipélago. Mas a vida avançou, as ilhas afastaram-se, e só na primavera de 2018 voltarão a juntar-se.

Em fogo lento, esta é a história de duas pessoas que o destino parece querer juntar, separar e voltar a pôr à prova; é uma história em que a delicadeza da escrita acompanha a beleza do impossível; é um romance que mostra a alegria e a dor, os dias de sol e a chuva que cai, brutal, sem aviso, na mesma medida - como todos os beijos que demos, sonhámos, esperámos ou nunca tivemos."


A Teoria dos Arquipélagos, de Alice Kellen, é um romance que se distingue pela delicadeza com que aborda temas emocionalmente densos, convidando o leitor a entrar num espaço íntimo onde o amor, nas suas múltiplas formas, se confronta com as convenções sociais e familiares. A autora constrói uma narrativa que, sem recorrer a excessos melodramáticos, comove pela sinceridade com que penetra nas fragilidades humanas. É precisamente nesta abordagem sensível que reside grande parte da força do livro: a consciência de que cada gesto, cada silêncio e cada renúncia carregam um peso que o tempo nem sempre dissolve.
A alternância entre o passado e o presente, entre o verão de 1980 e a primavera de 2018, é conduzida com fluidez, permitindo ao leitor acompanhar a evolução interior de Martín. Aos setenta anos, ele decide revisitar um acontecimento que mudou o rumo da sua vida, numa tentativa de compreender, reparar ou simplesmente fechar um momento da sua vida que ficou suspenso durante décadas. Esta estrutura fragmentada em dois tempos, não só acrescenta ritmo ao romance, como também sublinha a ideia de que o presente nunca existe sem a sombra (ou a luz) do passado.
Alice Kellen cria aqui uma espécie de geografia sentimental, onde cada personagem ocupa a sua “ilha”, com medos, desejos e limitações próprios. A metáfora dos arquipélagos torna-se central para a leitura: é o amor, e apenas o amor, que tem a capacidade de construir pontes entre essas ilhas, de aproximar vidas que, à primeira vista, pareceriam condenadas à distância. A narrativa da autora, marcada por um tom poético e melódico, reforça esta dimensão contemplativa, conferindo ao romance um ritmo suave que convida à introspeção.
Escolhi este livro pela sinopse, uma vez que ainda não tinha lido nada da autora. Esta é uma leitura triste, mas que acalma e, em determinados momentos, conforta e que, sem dúvida, vicia. Gostei muito.

Pattee, Emma (2025). Tremor. Lisboa TopSeller.

Tradução: Fernanda Semedo
N.º de páginas: 208
Início da leitura: 21/11/2025
Fim da leitura: 22/11/2025

**SINOPSE**
"Quando um sismo de enorme magnitude atinge Portland, no Oregon, Annie encontra-se grávida e sozinha numa grande superfície comercial. Sem forma de falar com o marido, sem telefone ou dinheiro, e com a cidade mergulhada no caos, nada lhe resta a não ser caminhar
Atravessando os destroços da cidade, Annie experiencia o desespero e a bondade humana: estranhos a oferecer ajuda, uma rebelião num supermercado, uma amizade improvável com uma jovem mãe… Enquanto caminha, Annie reflete sobre o seu casamento em dificuldades, a sua carreira dececionante e a ansiedade em ter um bebé. Se conseguir voltar para casa, está determinada a mudar de vida.
Passado ao longo de um único dia, Tremor é um romance vibrante de uma nova e poderosa voz literária, que acompanha a viagem de uma mulher por uma cidade transformada, carregando o peso do passado e a esperança fervorosa no futuro."
Tremor, de Emma Pattee, parte de uma premissa promissora, capaz de suscitar expetativas elevadas, sobretudo para quem chega ao livro depois de ler críticas particularmente entusiásticas. Há, de facto, um potencial inicial evidente: a autora constrói um cenário emocionalmente denso e procura explorar as consequências de um acontecimento marcante através de diferentes camadas temporais. A alternância entre passado e presente é, talvez, o elemento mais conseguido da narrativa. Esse movimento entre tempos oferece ao leitor um olhar mais amplo sobre as personagens, permitindo compreender não apenas o que as define no momento presente, mas também as feridas, escolhas e hesitações que as moldaram.
No entanto, apesar desta estrutura eficaz, a força narrativa acaba por não acompanhar plenamente as ambições do livro. A escrita, embora competente, por vezes parece hesitante, como se se detivesse demasiado em pormenores que não acrescentam profundidade real à história. Falta-lhe, em certos momentos, uma intensidade que sustente o impacto emocional que o enredo promete. A sensação que fica é a de um terreno literário fértil, mas explorado com alguma contenção, deixando-nos a desejar um desenvolvimento mais vigoroso, mais ousado ou mais incisivo.

Rodrigues, Pedro (2020). Alice do Lado Errado do Espelho. Lisboa: Cultura Editora.

N.º de páginas: 128
Início da leitura: 16/11/2025
Fim da leitura: 19/11/2025

**SINOPSE**
"E se um dia acordássemos do outro lado do espelho? E se a maçã vermelha de Eva fosse a mesma que a Branca de Neve trincou? Será que a Rapunzel cortou o cabelo para evitar o contacto social? E o Lobo: porque é que é sempre ele o mau da fita? Estaria a profecia da Bela Adormecida certa? E a Cinderela: precisaria, ela, de ir ao baile para ser feliz? De uma coisa devemos estar certos: o mundo pode ruir como um póquer de ases - mas voltará a erguer-se como um castelo de cartas.

A Capuchinho-Vermelho encomendou a comida para a avó pela Uber Eats mal sabia ela que o entregador era o Lobo Mau."
Em Alice do Lado Errado do Espelho, Pedro Rodrigues propõe um exercício literário que parte de um gesto simples: revisitar figuras clássicas do imaginário infantil e transportá-las para o quotidiano contemporâneo, marcado pelo contexto pandémico. O livro, composto por sete contos breves, funciona como um espelho estilhaçado onde cada fragmento devolve uma imagem familiar mas subtilmente distorcida, obrigando o leitor a rever aquilo que julgava conhecer.
A escolha das protagonistas, Alice, Bela, Capuchinho Vermelho, Cinderela, Rapunzel, Branca de Neve e Bela Adormecida, não é casual. Representam arquétipos profundamente enraizados na cultura popular, facilmente reconhecíveis, mas que aqui surgem reconstruídos num registo sóbrio e atual. O diálogo com os contos de fadas originais existe, mas serve sobretudo para expor fragilidades humanas contemporâneas, medos atuais e distorção de conceitos morais, marcados pela pandemia.
A presença da pandemia, recorrente em todos os contos, não é tratada de forma sensacionalista. Surge como pano de fundo e, por vezes, como força determinante na narrativa, alterando rotinas, expondo solidões e acelerando processos de transformação interna. Esta atualização não desvirtua os contos originais, antes lhes acrescenta camadas de leitura que os tornam mais próximos do leitor adulto.
A escrita de Pedro Rodrigues é contida e direta, apostando na limpidez em vez do ornamento. Isso confere aos textos uma tonalidade sóbria que contrasta, de forma interessante, com o caráter fantástico das personagens. A brevidade dos contos, contudo, deixou-me uma sensação de que certas ideias mereciam maior desenvolvimento; há universos que se abrem rapidamente e se fecham com igual rapidez, deixando ecos que, embora sugestivos, poderiam ter sido explorados com mais profundidade.
Ainda assim, Alice do Lado Errado do Espelho cumpre o propósito de um livro de contos contemporâneo: surpreende, questiona e reinterpreta. 

 Dueñas, Maria (2025). Se Um Dia Voltarmos. Porto: Porto Editora.

Tradução: Carla Ribeiro
N.º de páginas: 448
Início da leitura:14/11/2025
Fim da leitura:17/11/2025

**SINOPSE**

"Orán, Argélia francesa, finais da década de 1920.
Ana Cecilia Belmonte, uma jovem espanhola de apenas 17 anos, foge de casa após um episódio traumático. Sem documentos nem destino, atravessa o mar Mediterrâneo e refugia-se numa terra estranha.
Num ambiente hostil, onde imperam a desigualdade, o colonialismo e a opressão, Cecilia encontra trabalho nas fábricas de tabaco, nos campos e nos bairros mais esquecidos de Orán. A cada passo, enfrenta humilhações, perigos e perdas. Mas é também aí, na margem da sociedade, que descobrirá alianças inesperadas, redes de apoio e de solidariedade feminina, vínculos e paixões que, aliados à sua coragem e resiliência, acabarão por conduzi-la por um caminho repleto de reviravoltas, conquistas e desafios.
A Guerra Civil Espanhola, o avanço nazi no Norte de África e o conflito pela independência da Argélia marcam o contexto desta poderosa história de resistência, que é também uma reflexão sobre identidade, pertença e os laços que nos unem à terra de onde partimos – mesmo quando já não é possível voltarmos."
Se Um Dia Voltarmos é um romance que se impõe pela forma como cruza destinos pessoais com momentos decisivos da história do século XX. María Dueñas constrói uma narrativa ampla, guiada por personagens que se movem entre o íntimo e o político, sempre com uma humanidade discreta, mas persistente.
A autora acompanha trajetórias marcadas por violência, perda, deslocação e resistência. As vidas que aqui encontramos são consistentes, feitas de escolhas imperfeitas, erros, avanços e recuos. Essa verosimilhança sustenta a força do livro: não há heroísmos fáceis, apenas pessoas confrontadas com circunstâncias que as ultrapassam e que, ainda assim, procuram manter alguma forma de dignidade.
O pano de fundo histórico, a Argélia francesa, a presença espanhola no Norte de África, a Guerra Civil Espanhola, o exílio, a Segunda Guerra Mundial e, mais tarde, a Guerra da Independência argelina, não surge como simples cenário. Funciona antes como estrutura que molda os percursos individuais, revelando a forma como a história coletiva interfere, condiciona e, por vezes, derrota ou reorienta a vida de quem a atravessa. Dueñas articula estes contextos com clareza e sem excessos, dando espaço ao leitor para acompanhar a evolução das personagens ao longo de décadas de conflito e transformação.
A narrativa é marcada por momentos de abuso, homicídio, silêncio e ruptura, mas também por gestos de coragem, reencontros e uma persistência quase teimosa em manter viva alguma esperança, mesmo quando esta parece frágil. A escrita mantém-se contida, evitando dramatizações exegeradas, o que torna o impacto emocional mais efetivo.
Adorei e recomendo vivamente!

Tordo, João (2025). Inventário da Solidão. Lisboa: Companhia das Letras.

N.º de páginas: 368
Início da leitura: 11/11/2025
Fim da leitura: 13/11/2025

**SINOPSE**
"Ao fim de quase quarenta anos de silêncios e ausências, um antigo grupo de colegas da faculdade reúne-se na Irlanda para um último adeus a Rebecca Connelly, cuja morte, súbita e inesperada, traz ao de cima fantasmas há muito enterrados.
De todos a mais intrépida, mas também a mais inconstante, ninguém poderia imaginar o rumo que a vida de Becca levaria, nem a devastação que traria na sua esteira. Ninguém, excepto o rapaz que a amou durante os tempos de faculdade - o narrador, agora sexagenário, que tenta ainda fazer sentido de todos os caminhos que trilharam o seu destino.
Será que na revisitação desse passado de segredos encontrará resposta para a solidão que o consome? Conseguirá ele, com a morte do seu primeiro amor, apaziguar-se com o rapaz que foi e o homem que se tornou?
Mais do que um romance sobre o vazio que os grandes amores deixam em nós quando terminam, Inventário da solidão é um livro poderoso sobre as doenças invisíveis que corroem o espírito, as matérias perigosas de que todos somos feitos."
Inventário da Solidão, de João Tordo, é um romance que se lê como uma viagem ao âmago de um ser marcado pelo peso do passado e pela impossibilidade de o ultrapassar. O ponto de partida é o reencontro de um grupo de antigos colegas universitários, quase quatro décadas depois, na Irlanda, para o funeral de uma mulher que os marcou a todos, mas sobretudo o narrador, e que desencadeia um fluxo de memórias, feridas e desejos não resolvidos. Tordo constrói aqui uma narrativa que, embora assente num acontecimento concreto, rapidamente se expande para questões universais: a paixão, a insegurança que propicia, a obsessão amorosa, a saúde mental, o medo de falhar, e a solidão que se alastra quando o amor não cumpre a promessa de salvar aquele que ama.
O narrador é uma figura que vive num permanente estado de suspensão: refez a vida, mas nunca a reconstruiu verdadeiramente; avançou, mas não deixou de olhar para trás. A solidão que o acompanha não é a solidão da ausência física de outros, mas antes a solidão íntima, aquela que nasce do sentimento profundo de não ter sido capaz de corresponder às suas expectativas nem às dos que o rodearam. Quando o pathos se instala como condição de existência, como Tordo tão bem demonstra, a vida passa a desenrolar-se à sombra de um eco contínuo: o do silêncio interior que denuncia a frustração, o falhanço, a desilusão. E é nesta espiral que o romance coloca uma questão fundamental: até que ponto somos vítimas da vida ou cúmplices dos destinos que dizemos lamentar?
A escrita de João Tordo, aqui em plena maturidade, convoca referências que ampliam a espessura do livro, como a mitologia grega, aa filosofia, a música e a contextualização socio-política da época. Todas estas camadas surgem de forma orgânica, como se o autor quisesse lembrar-nos de que nenhuma história existe isolada do mundo, e que toda a experiência humana, mesmo a mais íntima, dialoga com uma herança cultural mais vasta. O tom oscila entre a euforia e uma melancolia pungente, num registo que parece estar sempre à procura da verdade emocional das personagens. Há, nos momentos de maior honestidade, uma crueza desarmante; noutros, uma delicadeza que confere dignidade ao sofrimento.
O romance é, afinal, um exercício de inventário da solidão,  das marcas que o tempo deixa, das escolhas que não se fizeram, das palavras que não se disseram. Tordo escreve como quem abre gavetas interiores, com o cuidado de quem sabe que certos objetos cortam ao toque. E talvez seja isso que torna este um livro especial: a capacidade de transformar o íntimo numa reflexão que ultrapassa a personagem e ecoa no leitor. Ao fechar o livro, permanece a sensação de ter sido conduzido por uma voz que não se limita a contar uma história, mas que, ao fazê-lo, nos confronta com a nossa própria cartografia de perdas, silêncios e nostalgias.

Corominas (2024). Dorian Gray. Lisboa: LEVOIR. 

Tradução: Sandra Alvarez
N.º de páginas: 104
Início da leitura: 12/11/2025
Fim da leitura: 13/11/2025

**SINOPSE**
"De visita ao seu amigo pintor Basil Hallward, Lord Henry conhece o jovem Dorian Gray, cujo retrato Basil acabou de pintar. Espantado com a sua beleza juvenil e ingenuidade, rapidamente faz amizade com ele e brinca que, uma vez terminado o retrato, só ele conservará a sua beleza para sempre, enquanto Dorian envelhecerá gradualmente.

O jovem declara que daria a sua alma para que o retrato envelhecesse no seu lugar. Perante estas palavras, toda a gente riu... no momento. Um erro fatal, porque o seu desejo será realizado: o aristocrata inglês poderá certamente permanecer eternamente jovem, mas este desejo tem um custo: é o retrato que envelhecerá no seu lugar, gradualmente marcado pelos anos, vícios e crimes."
Acredito que não seja fácil adaptar um drama como este em Banda Desenhada, mas, o que é certo é que senti que o estilo enfático e teatral de Óscar Wilde se consegue encontrar nesta novela gráfica. Apresenta-nos uma 
reinterpretação fascinante do clássico, mantendo a essência da obra original e, ao mesmo tempo, adaptando-a, em termos visuais, através de ilustrações que captam bem a essência sombria e melancólica da história. 
Dorian Gray, na adaptação de Corominas, é retratado como um jovem belo e encantador, uma figura quase etérea que, inicialmente, é pura e inocente. Acaba por se deixar corromper pelas influências de Lorde Henry, que lhe ensina a ideia da procura do hedonismo, a falta de arrependimento e o ignorar das consequências morais das suas ações. Dorian não envelhece, mas o retrato pintado por Basil Hallward torna-se o reflexo do seu interior, envelhecendo e absorvendo as marcas da sua decadência moral. Esta representação física do seu interior depravado está no centro da obra. 
Dorian é uma personagem com que não me identifico e que considero de um egoncentrismo pior que o de Narciso. Não contempla o seu retrato na água, mas observa-se no seu retrato, oferecendo a sua alma em troca da eterna juventude. Porém, reconheço a moral transmitida através desta personagem.

Sukegawa, Dirian (2025). Os Gatos de Shinjuku. Lisboa: Edições ASA.

Tradução: Ana Marta Caio
N.º de páginas: 224
Início da leitura: 08/11/2025
Fim da leitura: 11/11/2025

**SINOPSE**
"No coração de Tóquio, o bairro de Shinjuku resiste à proliferação de arranha-céus e à azáfama da vida moderna. Neste pequeno mundo de ruínas sublimes e lanternas coloridas, encontra-se um bar chamado Karinka, abrigo de eleição de pessoas excêntricas e gatos vadios. É aqui que dois jovens se conhecem: Yama, um argumentista de televisão daltónico; e Yume, a tímida empregada de mesa e protetora dos muitos felinos da zona. À medida que estes dois seres solitários ganham a confiança um do outro, a amizade parece tornar-se em algo mais profundo, mas o passado de Yume teima em não ficar para trás...

A exuberância das noites de Tóquio é o pano de fundo de Os Gatos de Shinjuku, uma história feita de encontros - humanos e felinos -, vidas intrincadas, poesia palpitante e redenção. Terno e original, é um romance inesquecível."
Situado no bairro muito frequentado e, por vezes, cruel de Shinjuku, em Tóquio, o romance conduz-nos por ruas onde se cruzam sonhos desfeitos, vidas à margem e pequenos gestos de bondade que resistem à indiferença. Sukegawa tem o dom de transformar o quotidiano urbano em poesia, uma poesia discreta, que se insinua nas entrelinhas e nas pausas do texto.

O livro aborda temas complexos: a empatia como forma de resistência, os amores impossíveis que nascem em contextos adversos, e a violência silenciosa das relações de poder, sobretudo no mundo laboral. No entanto, o autor nunca cede ao melodrama nem à moralização. A dor está presente, mas é tratada com uma doçura que nunca é ingénua. É precisamente nessa tensão entre a dureza da realidade e a suavidade da linguagem que reside a beleza da obra.

Os “gatos” do título funcionam como metáfora dos próprios protagonistas: seres livres e vulneráveis, que procuram um lugar de pertença num mundo que parece sempre prestes a expulsá-los. Há algo de profundamente universal nesta procura por abrigo e afeto.

A escrita de Sukegawa é poética, mas nunca excessiva. Cada frase parece cuidadosamente medida, como se o autor procurasse o equilíbrio entre a leveza do haiku e a densidade da prosa contemporânea. O resultado é uma leitura que se desenrola com a serenidade de uma canção triste, dessas que ecoam muito depois de terminarem.
Gostei!

Farré, Gemma Ventura (2025). A Lei do Inverno. Lisboa: Alma dos Livros.

Tradução: Rita Custódio
N.º de páginas: 112
Início da leitura: 07/11/2025
Fim da leitura: 08/11/2025

**SINOPSE**
"A Lei do Inverno é um convite a reconhecer a beleza dos laços intangíveis, a aceitar o ciclo da perda e a escutar o murmúrio daqueles que nos guiam, mesmo quando já partiram.

No silêncio suspenso do inverno, quando as cerejeiras se despem e a casa se enche de suaves ecos, uma jovem vela o avô. Em profunda solidão, discorre entre a memória e a imaginação, descobrindo que as presenças mais profundas são, por vezes, feitas de ausência.

Gemma Ventura Farré tece uma ode delicada ao invisível — aquilo que não se vê, mas que permanece: as vozes que nos sussurram ao ouvido, o amor que resiste ao tempo, a saudade que ilumina os dias e a forma como superamos cada ausência.

Num registo íntimo e mágico, esta é uma história destinada a tocar quem a lê. Celebra a delicadeza, a força do coração e o poder da imaginação, e recorda-nos de que, para renascer, é necessário, antes de mais, deixar ir."
Quando comecei a ler este livro, não sabia exatamente o que esperava, apenas me apercebi de que falava da morte, que nos é dada inclusive pelo título, uma vez que o inverno simboliza a morte. Sabia, contudo, dado o tema, que seria um livro difícil de ler e pesado. Mas não, foi uma leitura que me surpreendeu, pela tranquilidade com que a morte é encarada, como se fosse um fechar de pálpebras do inverno. A capa é encantadora, pelo que recorri a ela em muitas passagens. Por vezes, tenho necessidade de ir revendo a capa para pensar na própria história narrada.

A história nasce do gesto íntimo de uma jovem que vela o avô. O cenário é minimalista e, nele, imperam o frio, o silêncio, a casa, o corpo ausente (e é precisamente neste vazio que se faz o eco da memória). A narradora mergulha nas suas lembranças e nas das gerações que a antecederam, num movimento que transforma o luto em genealogia afetiva. As presenças que a rodeiam são feitas de ausências; as vozes, de silêncios. Farré constrói assim uma narrativa que é menos sobre acontecimentos e mais sobre perceções, sobre o modo como o tempo e a morte moldam a nossa identidade e o nosso olhar sobre o mundo.

A linguagem é de uma beleza subtil e profundamente poética. Cada frase parece escrita com a cadência de um poema em prosa, onde o ritmo e a imagem ganham mais peso do que a própria ação. Essa escolha estilística confere à leitura uma leveza inesperada, como se o lirismo fosse uma forma de salvação perante a finitude. 

Aconselho! 

 Rulfo, Juan. Pedro Páramo. Lisboa: Cavalo de Ferro, 2017.

Tradução: Rui Lagartinho e Sofia Castro Rodrigues

N.º de páginas: 147

Início da leitura: 05/11/2025

Fim da leitura: 07/11/2025

**SINOPSE**

"«Álvaro Mutis subiu, a passos largos, os sete pisos da minha casa com um pacote de livros, separou do monte o mais pequeno e curto e disse-me, morto de riso:
— Leia isto, carago, para que aprenda!
Era Pedro Páramo.
Nessa noite não consegui adormecer enquanto não terminei a segunda leitura. Nunca, desde a noite tremenda em que li A Metamorfose, de Kafka, numa lúgubre pensão para estudantes em Bogotá — quase dez anos antes —, eu sofrera semelhante comoção (…).
Não são muito mais de 300 páginas, mas são quase tantas, e creio que tão perduráveis, como aquelas que conhecemos de Sófocles.»
Do texto introdutório de Gabriel García Márquez, Prémio Nobel de Literatura

A obra de Juan Rulfo influenciou de forma decisiva autores distinguidos com o Prémio Nobel de Literatura, como Gabriel García Márquez e Octávio Paz."
Ler Pedro Páramo é entrar num labirinto de ecos, vozes e sombras. A breve, mas densa, narrativa de Juan Rulfo transporta-nos para Comala, uma aldeia mexicana fustigada pelo calor e pela memória, onde a fronteira entre os vivos e os mortos se dissolve num murmúrio constante. É nesse espaço espectral que acompanhamos Juan Preciado, um jovem que parte à procura do pai que nunca conheceu, o temido e enigmático Pedro Páramo. Contudo, o que parecia ser uma viagem de reconciliação, transforma-se num mergulho no irreal, num mundo em que o tempo se fragmenta e as almas se confundem.
Rulfo constrói Comala como um lugar suspenso, onde a morte não significa esquecimento, mas antes uma persistência da culpa e do desejo. À medida que Juan percorre as suas ruas, apercebemo-nos de que os habitantes não são verdadeiramente vivos: são vozes presas num ciclo de arrependimento e lembrança. A revelação de que todos estão condenados a permanecer em Comala, não apenas por conhecerem Pedro Páramo, mas por serem cúmplices, vítimas ou reflexos da sua tirania, confere à narrativa uma dimensão quase bíblica, em que o castigo e a redenção se confundem.
O elemento que une estas personagens é, de facto, o mais fascinante da obra: a condenação à repetição e à solidão eternas. Rulfo não oferece saídas nem consolações; o leitor, tal como Juan Preciado, afunda-se na atmosfera sufocante de Comala, sentindo o peso de um passado que nunca se extingue. A ausência de linearidade reforça essa sensação de desorientação. Os acontecimentos sobrepõem-se, as vozes misturam-se, e o tempo torna-se circular, como se estivéssemos presos na própria respiração da terra.
Essa estrutura fragmentada pode, à primeira leitura, causar estranheza, mas é precisamente ela que dá à obra a sua força poética. A linguagem de Rulfo é seca e fulgurante, marcada por um lirismo contido que traduz a aridez do cenário e das emoções. A simplicidade do estilo contrasta com a complexidade simbólica da narrativa, fazendo de Pedro Páramo uma das obras fundadoras do realismo mágico latino-americano, anterior até à consagração do género por Gabriel García Márquez.
No fim, a viagem de Juan Preciado é também a do leitor: uma travessia para um território onde a memória se confunde com o sonho, e onde a morte não é um fim, mas um estado de permanência. Pedro Páramo não é apenas um romance sobre um homem e o seu poder, é um retrato de um país, de uma cultura e de uma humanidade presa aos fantasmas do passado.
Seja lido como alegoria, mito ou lamento, o livro de Rulfo é uma experiência literária inesquecível: uma viagem sem volta ao coração do México e da própria condição humana. Não é um livro indicado para quem prefere leituras mais "leves".

Torrado, António: Pimentel, Tiago (2016). Milagre de Natal. Lisboa: Edições ASA.

Início e fim da leitura: 04/11/2025

**SINOPSE**

"O que para o Pai Natal foi um azar - a aterragem acidentada do seu trenó e, consequentemente, uma pilha de presentes espalhados pelo chão - para um menino e para um certo cãozinho de orelhas caídas foi uma grande sorte. Ou, mais do que isso, foi um verdadeiro milagre de Natal!"

Milagre de Natal, escrito por António Torrado e ilustrado por Tiago Pimentel, é um conto que se inscreve na tradição das histórias natalícias que procuram despertar a empatia e o sentido de solidariedade. A narrativa, aparentemente simples, centra-se num pequeno cão que, na véspera de Natal, se deixa encantar pelas luzes e sons da cidade e acaba por se perder do seu lar. A partir desse momento, o leitor é conduzido por um percurso de solidão e desamparo, vivido através do olhar inocente e confuso do animal, uma perspetiva que, mais do que infantil, é profundamente humana.
O texto de António Torrado, conhecido pela sua sensibilidade e capacidade de falar aos leitores de todas as idades, combina ternura e crítica social. Ao colocar o leitor na pele de um ser indefeso e esquecido em plena azáfama natalícia, o autor denuncia, de forma subtil, o egoísmo e a distração de uma sociedade que, mesmo em tempo de celebração e fraternidade, se esquece de olhar para o outro. O “milagre” que o título anuncia não é apenas um evento mágico, mas também a possibilidade de redenção humana, o despertar de um gesto de bondade num mundo apressado e indiferente.
As ilustrações de Tiago Pimentel desempenham um papel essencial na construção emocional do conto. Com traços delicados e cores que oscilam entre o calor do lar e o frio da cidade, as imagens reforçam a dualidade entre o conforto perdido e a esperança de reencontro. Cada página parece convidar o leitor a abrandar o ritmo, a olhar com atenção, a sentir, em perfeita sintonia com o tom poético e reflexivo do texto.
Milagre de Natal é, assim, mais do que uma história para crianças: é uma parábola moderna sobre empatia e compaixão, que nos recorda a importância de estender a mão (ou o olhar) a quem mais precisa. Numa época tantas vezes dominada pelo consumo e pela pressa, este pequeno livro é um apelo silencioso à humanidade e talvez esse seja, afinal, o verdadeiro milagre que António Torrado e Tiago Pimentel nos oferecem.

Lispector, Clarice. Felicidade Clandestina. Rio de Janeiro: Rocco Digital, 2013.

N.º de páginas: 160
Início da leitura: 01/11/2025
Fim da leitura: 03/11/2025

**SINOPSE**

Nesta coleção de vinte e cinco textos, reunimos alguns contos e crônicas publicadas nos livros A legião estrangeira, Para não esquecer e A descoberta do mundo. Temas caros ao universo clariceano estão presentes neste livro: a relação mágica com os animais, a descoberta do outro, as inúmeras possibilidades de se escrever uma história, a presença do inesperado no cotidiano previsível. Nos textos de cunho autobiográfico é possível flagrar, por exemplo, momentos da infância marcados pelos sentimentos mais diversos; da euforia das descobertas ao choque das frustrações, como em “Restos do carnaval” ou em “Cem anos de perdão”.
Felicidade Clandestina é uma das obras mais representativas do estilo de Clarice Lispector, tanto por seu caráter introspetivo e psicológico, quanto pela sensibilidade com que a autora trata as pequenas experiências humanas. Publicado em 1971, o livro reúne vinte e cinco contos e crónicas que, apesar de independentes entre si, formam um mosaico da alma humana, com as suas contradições, desejos e descobertas.
A escrita de Clarice transcende as fronteiras entre conto, crónica e ensaio, revelando uma autora que não se submete às convenções literárias. Em vez de narrativas lineares e centradas em ações externas, as suas histórias mergulham nos fluxos mentais e emocionais dos personagens. A ênfase está no instante revelador, a chamada epifania, momento em que a personagem experimenta uma súbita compreensão da realidade ou de si mesmo. Essa estratégia literária confere à obra um tom filosófico e existencial, aproximando a autora de correntes como o existencialismo e a psicanálise.
Ao longo da obra, Clarice demonstra um domínio raro da linguagem. A narrativa é fragmentada, poético, às vezes enigmática, mas profundamente humana. O leitor é convidado a participar ativamente da construção do sentido, não havendo respostas prontas, apenas caminhos possíveis. Essa abertura interpretativa faz com que cada leitura se torne única, dependente da própria sensibilidade de quem lê.
Além da análise psicológica e existencial, Felicidade Clandestina também revela um olhar atento às relações humanas, especialmente às femininas. As personagens, frequentemente mulheres, enfrentam dilemas ligados à identidade, à maternidade, ao amor e à solidão, num retrato subtil da condição feminina no século XX. Aconselho.
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Sobre mim

Professora de português e professora bibliotecária, apaixonada pela leitura e pela escrita. Preza a família, a amizade, a sinceridade e a paz. Ama a natureza e aprecia as pequenas belezas com que ela nos presenteia todos os dias.

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