A Trilogia de Copenhaga Infância; Juventude; Relações Tóxicas, Tove Ditlevsen
Diftevsen, Tove. A Trilogia de Copenhaga. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2022.
**SINOPSE**
"Considerada «uma obra-prima» pelo The Guardian, A Trilogia de Copenhaga reúne num único volume Infância, Juventude e Relações Tóxicas, os três livros fundamentais de Tove Ditlevsen, aclamada como uma das vozes mais importantes e singulares da literatura dinamarquesa do século XX. Uma obra corajosa e honesta que representa um exercício pioneiro no campo da escrita confessional, explorando temas como a família, o sexo, a maternidade, a toxicodependência e as dificuldades da mulher para ser artista.
Durante a sua vida, Ditlevsen teve de lidar com a tensão entre a sua vocação de escritora e os seus papéis de filha, esposa e mãe, bem como a sua condição de viciada, o que a levou a escrever sobre a experiência e a identidade feminina de uma maneira muito à frente do seu tempo e ainda pertinente para as discussões atuais em torno do feminismo. Embora baseada nas experiências da autora, A Trilogia de Copenhaga lê-se como a ficção mais empolgante, sendo notável pela sua intensidade e descrição imersiva de um mundo de complexas amizades femininas, relações familiares e literatura - nesse sentido, é a resposta de Copenhaga aos romances napolitanos de Elena Ferrante. Por outro lado, Ditlevsen pode também ser vista como uma precursora espiritual de escritores confessionais como Karl Ove Knausgård, Annie Ernaux, Rachel Cusk e Deborah Levy."
A primeira parte, dedicada à infância, revela a dureza de crescer num ambiente pobre de Copenhaga, atravessado por afetos instáveis e expectativas contraditórias. A relação distante com o pai, a severidade da mãe e a humilhação provocada pelo irmão compõem um quadro de isolamento precoce, que ajuda a explicar tanto a fragilidade emocional da autora como a necessidade imperiosa de escrever.
A juventude, narrada na segunda parte, confirma essa vulnerabilidade: empregos instáveis, relações afetivas efémeras e um desejo persistente de afirmação literária coexistem com um quotidiano marcado pela precariedade. A publicação do primeiro livro de poesia traz reconhecimento, mas não serenidade, e o percurso sentimental mantém-se errático, como se o mundo exterior fosse sempre um território alheio.
A terceira parte, centrada nas relações tóxicas, é a mais perturbadora e reveladora. A dependência da petidina, induzida por um marido manipulador, transforma-se no eixo trágico da narrativa. Ditlevsen descreve a progressiva anulação de si própria com uma frieza quase clínica, sem dramatização, o que reforça o impacto emocional da narrativa.
É, sem dúvida, uma obra de grande poder evocativo, cuja sobriedade confessional e capacidade de olhar o próprio sofrimento sem artifícios fazem dela um marco da autobiografia moderna. Muito bom!

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