Histórias Soltas Presas Dentro de Mim

Constable, Harriet (2025). A Violinista. Lisboa: Casa das Letras.

Tradução: Rui Filipe
N.º de páginas: 384
Início da leitura: 28/06/2025
Fim da leitura: 30/06/2025

**SINOPSE**
"Anna Maria só conheceu a vida dentro da Pietà, um orfanato para crianças nascidas de prostitutas. Mas as meninas da Pietà têm sorte num certo sentido: a maioria dos bebés nascidos na sua condição eram afogados nos canais da cidade. E apesar das regras rígidas, as meninas recebem aulas de canto e música desde tenra idade. As músicas mais promissoras têm a hipótese de escapar ao destino das restantes: o casamento forçado com qualquer um que as aceite.
Anna Maria está determinada a ser a melhor violinista que existe — e tudo o que Anna Maria se propõe a fazer, ela consegue. Afinal, as apostas não poderiam ser mais altas. Mas estamos em 1704, e ela é uma menina. Em busca da sua ambição, irá pôr à prova tudo o que lhe é querido, especialmente quando se torna claro que o seu instrutor, Antonio Vivaldi, lhe ensinará tudo o que sabe — mas não sem receber algo em troca.
Dos opulentos palácios de Veneza aos seus canais cobertos de lama, A Violinista é um retrato escaldante de ambição e traição. É a história da ambição irreprimível de uma mulher e da sua ascensão ao topo. É também a história das órfãs de Veneza que superaram a miséria e o abuso para fazer música, e cujas contribuições para algumas das obras mais importantes da música clássica, incluindo As Quatro Estações, foram ignoradas durante demasiado tempo.
Uma exploração apaixonada e vívida da arte e da ambição, do génio e da exploração, da perda e do triunfo."
Este foi um livro que me captou a atenção pela capa lindíssima. Depois, ao ler a sinopse, fiquei curiosa com a história. Esta obra parte de uma premissa apelativa: o abandono de uma criança num convento, o peso do passado e o sonho de vingar no mundo da música clássica, num percurso cheio de obstáculos sociais e emocionais. É um enredo com potencial para cativar o leitor, sobretudo para quem aprecia histórias de superação e personagens femininas fortes.

Contudo, relativamente ao ritmo do livro, apesar dos elementos dramáticos e da evolução pessoal da protagonista, considerei que há momentos em que a narrativa se torna monótona e até previsível. Os episódios relacionados com o quotidiano da rapariga no convento ou a insistência em determinados dilemas emocionais acabam por ser repetitivos e, por vezes, esvaziam o impacto de outras passagens mais marcantes.

Além disso, a escrita de Constable, embora cuidada e com descrições interessantes, pode pecar por um certo excesso de detalhe em momentos que não o justificam, o que contribui para essa sensação de monotonia em certas partes da obra.

Ainda assim, reconheço mérito na construção da protagonista e na forma como a autora aborda temas como o preconceito, a ambição e a procura de identidade, especialmente num contexto social historicamente desafiante para as mulheres.

Recomendo para quem aprecia o género.

Hall, Clare Leslie (2025). Terra Ferida. Lisboa: Suma das Letras.

Tradução: Inês Guerreiro
N.º de páginas: 344
Início da leitura: 26/06/2025
Fim da leitura: 28/06/2025

**SINOPSE**
"Beth e o seu amável marido, Frank, têm um casamento feliz, mas ambos guardam segredos, e a sua relação depende do facto de o passado permanecer enterrado. Mas quando Jimmy, o cunhado de Beth, mata um cão que invade a quinta onde moram, Beth não se apercebe de que o tiro irá alterar o rumo das suas vidas. O cão pertencia a Gabriel Wolfe, o homem que Beth amava na adolescência e que lhe partiu o coração.

Gabriel regressou à aldeia com o seu filho Leo, um rapaz que faz lembrar muito a Beth o seu próprio filho, que morreu alguns anos antes num trágico acidente. À medida que Beth é puxada de volta para a vida de Gabriel, as tensões na aldeia aumentam e perigosos segredos e ciúmes do passado ressurgem, desta vez com consequências fatais. Beth é, então, forçada a fazer uma escolha entre continuar a ser a mulher que se tornou ou transformar-se na mulher que um dia desejou ser."

Terra Ferida revelou-se, para mim, uma leitura marcante, não apenas pela densidade emocional que atravessa toda a narrativa, mas também pela forma hábil como Clare Leslie Hall constrói as suas personagens e dá corpo a um enredo que prende desde as primeiras páginas.

Um dos aspetos que mais me cativou foi precisamente a riqueza e complexidade das personagens. Não se trata de figuras bidimensionais ou previsíveis; pelo contrário, são seres humanos com as suas contradições, fragilidades e forças, o que contribui imenso para a verosimilhança e o envolvimento emocional do leitor. A autora demonstra um apurado sentido psicológico, conseguindo que as motivações de cada personagem surjam de forma natural, mesmo quando os seus comportamentos nos surpreendem ou desiludem. Isso torna-os genuínos e próximos, quase como se os conhecêssemos pessoalmente.

O enredo, por sua vez, apresenta-se como uma teia habilmente urdida, onde os acontecimentos, embora por vezes inesperados ou dolorosos, mantêm sempre um fio condutor coerente e emocionalmente intenso. A história consegue ser emocionante sem recorrer a dramatismos excessivos, o que revela maturidade na escrita. Clare Leslie Hall não cede ao facilitismo dos clichés, optando antes por um ritmo bem doseado, onde o suspense e a emoção convivem com momentos de introspecção e reflexão.

Gostei particularmente da forma como a autora explora temas complexos e, por vezes, incómodos, sem recorrer a julgamentos simplistas. A "terra ferida" do título funciona não só como metáfora literal dos acontecimentos, mas também como imagem das feridas emocionais e sociais que atravessam as personagens e o próprio ambiente onde a história decorre. Recomendo!

Tordo, João (2019). A Noite em Que o Verão Acabou. Lisboa: Companhia das Letras.

N.º de páginas: 672
Início da leitura: 23/06/2025
Fim da leitura: 27/06/2023

**SINOPSE**
14 de Setembro de 1998. O dia em que Chatlam, uma pequena vila americana, acordou em choque com o homicídio de Noah Walsh. O principal suspeito: a sua filha de dezasseis anos.

No Verão de 1987, o adolescente Pedro Taborda apaixona-se por Laura Walsh, a filha mais velha de um magnata nova-iorquino. Ela e Levi - uma criança misteriosa - passam férias com os pais no Lagoeiro, uma pacata cidade algarvia. Rica e moderna, a família Walsh tem tudo para dar muito nas vistas no sul de Portugal. Inebriado pelas formas perfeitas e pelos modos ousados de Laura, Pedro encontra na rapariga americana o seu primeiro amor. Mas quando o Verão acaba, a família Walsh regressa aos Estados Unidos e o destino fica por cumprir.

Dez anos depois, Pedro, decidido a tornar-se escritor, vai estudar para Nova-Iorque. Fascinado com Gary List, antigo prodígio das letras americanas, chega aos Estados Unidos determinado a perseguir os sonhos da juventude. Ao reencontrar Laura, está longe de suspeitar que esse acaso o mergulhará no crime mais falado dos anos noventa, o homicídio do milionário Noah Walsh.

Com um segundo homicídio a atrapalhar a investigação e uma corrida para salvar Levi, de apenas dezasseis anos, acusada de matar o pai, Pedro e Laura enredam-se irremediavelmente na teia de segredos que envolve a família Walsh, desde os anos quarenta do século XX até ao impensável desfecho nas primeiras décadas do novo milénio.

Porque em Chatlam - e neste thriller imparável - nada é o que parece.
Este é o primeiro thriller policial que leio de Tordo. É, literalmente, um livro de peso (672 páginas), em que a narrativa vai alternando entre épocas diferentes, para que não percamos o fio à meada.
A história tem início num verão de 1987. Pedro Taborda é um jovem adolescente que, como habitualmente, acompanha os pais, durante as férias de verão, ao Lagoeiro. Nesse verão, apaixona-se por Laura Walsh, uma jovem inglesa, filha de um nova-iorquino milionário. Findas as férias, perdem o rastro um do outro.
Em 1997, Pedro viaja para Nova Iorque para estudar literatura, com o intuito de ter como mestre o seu escritor preferido, Gary List. Acaba por encontrar Laura. Algum tempo depois, o pai de Laura, Noah Walsh, é encontrado morto, em casa, e é a irmã de Laura, Levi, que, com apenas 16 anos, é encontrada com a faca do presumível homicídio na mão.
Se pensam que a resolução do caso é fácil, desenganem-se. Precisam de continuar a ler, pois só no fim ficamos saber como tudo se passou.
Embora A Noite em Que o Verão Acabou seja classificado como thriller, quanto a mim, a narrativa aproxima-se bastante da estrutura de um romance policial clássico, com a presença de um mistério central (a morte de Noah Walsh), uma investigação, e um foco progressivo na resolução do caso.
Gostei bastante deste livro e só não dou 5 estrelas, porque, no meu entender, poderia ter menos cerca de 100 páginas. Há momentos em que o autor se perde em considerações, que, evitadas, fariam deste um excelente policial.

Cruz, Afonso (2025). O Vício dos Livros II. Lisboa: Companhia das Letras.

N.º de páginas: 176
Início da leitura: 10/06/2025
Fim da leitura: 23/06/2025

**SINOPSE**
"Sócrates não deixou escrita uma linha que fosse para a posteridade, Charles Darwin não suportava a poesia, Henry David Thoreau acreditava que a leitura de um livro marcava o início de uma era para cada leitor, Fernando Namora dizia que não escrevia para agradar a ninguém e Julian Green fazia-o para não sufocar.

Tudo isto e muito mais ficamos a conhecer neste segundo volume de O vício dos livros, onde Afonso Cruz — ciente de que os vícios são difíceis de matar, mas que ao contrário de outros este tem tanto de prazer quanto de benefício — alimenta o leitor com um sem-número de curiosidades literárias, reflexões e memórias, provando que é possível, sim, compreender a vida através da literatura."
Confesso que gostei mais do "Vicio dos Livros I". Neste livro, houve, logo desde o início, alguma renitência, pelo facto de ser uma capa que aparece em pelo menos mais dois livros. Não teria a Ana Teixeira outras opções mais criativas? Não poderia o próprio autor ter ilustrado a capa? Esta é apenas uma opinião muito pessoal. Em relação aos textos, gosto da forma como Afonso Cruz escreve, se bem que tenha gostado mais dos textos do primeiro livro. Não é um livro para devorar, mas para ler com a calma necessária, a reflexão, a anotação e, utilizando o título de um capítulo do livro, com a devida "interrogação e silêncio". Vale sempre a pena ler Afonso Cruz.

Mora, Oge (2023). Obrigado, Avó Omu!. Lisboa: Fábula.


Tradução: Susana Cardoso Ferreira
N.º de páginas: 40
Início e fim da leitura: 12/06/2025

**SINOPSE**
"Um belo livro ilustrado, de uma autora multipremiada, que celebra a bondade, a generosidade, a gratidão e o espírito comunitário.
Toda a vizinhança quer provar o guisado da avó! Atraídos pelo delicioso cheirinho, os vizinhos vão bater à sua porta, um a um, e a avó partilha com cada um deles o seu jantar. Será que tanta generosidade deixará a avó de barriga vazia?
A autora multipremiada de Sábado dá vida a uma história comovente sobre o espírito de partilha e a vida em comunidade, criando colagens tão ricas quanto o guisado da avó e temperadas com uma pitada extra de amor."
Adorei este livro. É uma verdadeira celebração dos gestos simples que aquecem o coração e aproximam as pessoas. Este é um daqueles livros que, com delicadeza e ternura, nos recorda que o amor e a partilha estão nas pequenas coisas do dia-a-dia — um prato de comida, um sorriso, um agradecimento.

A história acompanha a Avó Omu, uma figura carismática e generosa, cuja deliciosa sopa atrai toda a vizinhança. Mas o que realmente enche a casa — e o coração — não é apenas o aroma saboroso, mas o espírito de comunidade e de generosidade que se vai construindo ao longo do dia. É impossível não nos sentirmos tocados pela forma como Oge Mora, tanto através do texto como das belíssimas ilustrações em colagem, transmite a importância de dar sem esperar nada em troca — e como, no final, esse amor regressa em dobro.

Num mundo onde tantas vezes se valoriza o individualismo, este livro é um hino à partilha, ao cuidado com o outro e à força dos laços comunitários. É também uma belíssima homenagem às avós e à sabedoria que tantas vezes carregam — a de saber que, partilhando o que temos, criamos algo muito maior do que nós próprios.

Campbell, Marcy (2023). Uma Coisa Boa. Lisboa: Fábula.

Tradução: Susana Cardoso Ferreira
N.º de páginas: 48
Início e fim da leitura: 11/06/2025

**SINOPSE**
"Um dia, uma coisa má aparece gravada na parede da casa de banho da escola e tudo muda: deixa de haver a paz e a alegria que se sentia antes.
Um livro belo e oportuno, que nos mostra como uma escola se une para combater o discurso de ódio.
Como a união de toda a comunidade, os gestos de bondade e a beleza da arte servem de antídoto para a maldade."

Este é um livro que nos recorda o impacto que as palavras e as atitudes podem ter numa comunidade. Numa época em que, infelizmente, os discursos de ódio e a intolerância continuam presentes, esta obra assume-se como uma leitura indispensável, especialmente para os mais novos.

Através de uma história simples, passada num ambiente familiar a muitas crianças — a escola — o livro mostra como o rumor, o preconceito e o julgamento precipitado podem gerar divisões e mal-estar. No entanto, mais importante ainda, revela como a união, o diálogo e o respeito mútuo são fundamentais para ultrapassar esses momentos e, sobretudo, para construir um ambiente onde todos se sintam seguros e respeitados.

Além disso, as ilustrações de Corinna Luyken, delicadas e expressivas, dão vida às emoções dos personagens e reforçam a mensagem central: juntos, podemos transformar situações difíceis em algo positivo.

Este é, sem dúvida, um livro essencial para ser trabalhado em família ou em contexto escolar, pois não só sensibiliza para o impacto dos comportamentos negativos, como reforça a ideia de que a união, a empatia e o respeito são as melhores respostas aos desafios sociais.

Bonilla, Rocio (2019). O Meu Amigo Extraterrestre. Lisboa: Booksmile.

Tradução: Rui Azeredo
N.º de páginas: 48
Início e fim da leitura: 10/06/2025

**SINOPSE**
"O meu novo amigo veio de outro planeta. Ele é muito curioso e passa os dias a perguntar:
Porquê?Porquê?Porquê?
Já tentei explicar-lhe que aqui, na Terra, as coisas são como são e pronto!
Mas, bem vistas as coisas, será que tem mesmo de ser assim?
Este é um livro divertido sobre uma amizade invulgar.
Uma história que levará as crianças a refletir sobre as suas ações e as encorajará a pensar por si mesmas.
«Porque o nosso grãozinho de areia, por mais pequeno que seja, é sempre importante.»
Um livro que encoraja as crianças a questionarem o mundo e a valorizarem as próprias opiniões!"


O Meu Amigo Extraterrestre, de Rocio Bonilla, é muito mais do que um simples livro infantil — é uma história delicada e inteligente que aborda temas fundamentais como a aceitação da diferença e a importância da empatia. Através da chegada inesperada de um amigo vindo de outro planeta, as crianças são convidadas a questionar aquilo que consideramos 'normal' e a perceber que, por vezes, o que nos parece estranho ou fora do comum é apenas diferente daquilo a que estamos habituados.

O livro destaca-se pela forma simples e acessível com que transmite uma mensagem profunda. As ilustrações, tão características da autora, cativam desde o primeiro olhar e complementam na perfeição o texto, despertando a curiosidade dos mais pequenos. A história promove o diálogo sobre a diversidade, encorajando as crianças a olharem para o outro sem preconceitos e a verem na diferença uma oportunidade de amizade e de aprendizagem.

Numa altura em que vivemos num mundo cada vez mais multicultural e diverso, considero este livro uma ferramenta essencial para pais, educadores e professores. Não só ajuda as crianças a desenvolverem a sua consciência social, como também as convida, de forma subtil e divertida, a refletirem sobre os seus próprios conceitos de 'normalidade'.

Lapena, Shari (2019). Um Estranho Dentro de Casa. Lisboa: Editorial Presença. 

Tradução: Catarina Gândara
N.º de páginas: 304
Início da leitura: 19/06/2025
Fim da leitura: 22/06/2025

**SINOPSE**

"Porque fugiria ela, assustada, de um lar feliz?
Está à espera que o marido, por quem sente um grande amor, chegue a casa vindo do emprego. Está a preparar o jantar, desejosa de saber como lhe correu o dia.
É a última coisa de que se lembra.
Acorda no hospital, sem ter a mais pequena ideia de como lá foi parar. Dizem-lhe que foi vítima de um acidente: perdeu o controlo do carro quando conduzia numa zona perigosa da cidade.
A polícia suspeita de que ela não estaria lá pelas melhores razões. Mas o marido recusa -se a acreditar. A sua melhor amiga não tem tantas certezas. E nem ela própria sabe em que acreditar..."
Este thriller, apesar de não surpreender verdadeiramente pelo enredo ou pela profundidade das personagens, cumpre com eficácia o objectivo primordial de entreter o leitor.

Este é um daqueles livros que se lê de forma rápida e despreocupada, ideal para intercalar com leituras mais densas ou exigentes. A escrita simples e direta, aliada aos capítulos curtos, imprime um bom ritmo à narrativa e convida facilmente à leitura compulsiva — aquele típico "só mais um capítulo" que rapidamente nos faz chegar ao fim.

Ainda que o mistério central se vá desvendando com relativa facilidade, o que pode retirar alguma tensão ou impacto ao clímax final, a verdade é que o livro consegue manter o interesse graças à construção gradual do suspense e ao ambiente de desconfiança constante entre as personagens. Não se trata, portanto, de um thriller inovador ou memorável, mas sim de um exemplo sólido de literatura de entretenimento, acessível e eficaz no seu propósito.

Diria que estamos perante um livro mediano, no melhor sentido do termo — sem grandes pretensões literárias ou artísticas, mas com a capacidade de proporcionar algumas horas de leitura leve e cativante. Perfeito para quem quer descomprimir durante as férias.

Martin, Madeline (2025). A Biblioteca dos Amantes de Livros. Lisboa: TopSeller.

Tradução: Dinis Pires
N.º de páginas: 384
Início da leitura: 15/06/2025
Fim da leitura: 19/06/2025

**SINOPSE**
"Inglaterra, 1939.
Tendo perdido o marido recentemente, Emma Taylor procura um emprego que a sustente e à filha, Olivia. Na cidade de Nottingham onde vivem, contudo, estão em vigor múltiplas restrições que impedem mães viúvas de serem contratadas por qualquer estabelecimento. Assim, só lhe resta uma opção: persuadir a diretora da biblioteca da Boots a dar-lhe trabalho.

Quando a guerra ameaça atingir Inglaterra, Olivia tem de ser deslocada para o campo, tal como milhares de crianças. Vendo-se obrigada a separar-se da filha, Emma procura consolo nas amizades improváveis que estabelece com os seus vizinhos e colegas, bem como na missão de recomendar livros aos peculiares clientes da biblioteca.

Com o Blitz a intensificar-se em Nottingham, e fazendo tudo ao seu alcance para se reunir com a filha, resta a Emma tentar apoiar-se na sua comunidade e na esperança que a literatura transmite mesmo nos tempos mais sombrios."
Este é um romance envolvente e comovente que cruza duas das temáticas mais sensíveis e inspiradoras: os horrores da guerra e o poder dos livros. Madeline Martin constrói uma narrativa muito humana, focada na separação dolorosa entre pais e filhos durante a II Guerra Mundial — um dos episódios mais tristes mas também mais realistas deste período — e fá-lo com sensibilidade e empatia.

O que torna este livro particularmente especial é o papel central dos livros, da biblioteca e da livraria enquanto refúgios de esperança, consolo e resistência. A leitura surge como uma forma de sobrevivência emocional e intelectual num tempo marcado pela perda, pelo medo e pela incerteza. 

Gostei muito da leitura, não apenas pela temática, mas pela escrita fluida e emocionalmente rica de Madeline Martin. A obra é um tributo à força da literatura em tempos sombrios e um lembrete do impacto profundo que bibliotecas e livrarias podem ter nas vidas das pessoas. Recomendo a leitura para os apreciadores destas temáticas.

Ganho, Tânia (2025). Lobos. Lisboa: Dom Quixote.

N.º de páginas: 352
Início da leitura: 10/06/2025
Fim da leitura: 14/06/2025

**SINOPSE**
"Fedra passou mais de vinte anos nalguns dos piores lugares da Terra. Depois de ter estado no Ruanda, Kosovo, Iraque, Mali, a antropóloga forense regressa por fim a casa. O seu novo trabalho no Instituto de Medicina Legal obriga-a a mergulhar diariamente nas profundezas sórdidas da dark net, uma experiência irreparavelmente solitária.

Stefan vive na cabana que construiu numa floresta. Após décadas de nomadismo, o antigo repórter de guerra alemão leva uma vida de eremita, procurando na sua relação com a natureza um contraponto à crueldade humana que testemunhou.

Leonor, uma adolescente de 14 anos, isola-se no apartamento familiar, num bairro privilegiado de Lisboa, após ser vítima de um crime sexual. Helena, a mãe, revela-se incapaz de lidar com o trauma e refugia-se numa obsessão que ameaça destruí-la a ela e à filha.

Nos bastidores destas vidas que se entrelaçam, Amélia, uma mulher no limite da memória e da sobrevivência, guarda a chave de um mistério que poderá nunca ser desvendado.

O regresso de Tânia Ganho à ficção apresenta-nos pessoas que enfrentam os seus demónios num momento de viragem das suas vidas e do mundo."

Lobos, da escritora Tânia Ganho, é uma obra densa e perturbadora, que mergulha em temáticas difíceis como o abuso sexual, o poder patriarcal e os meandros obscuros da dark web. Trata-se de um romance corajoso que procura denunciar realidades incómodas, dando voz às vítimas e expondo a crueldade muitas vezes silenciada pela sociedade.

Tânia Ganho consegue criar uma atmosfera de tensão constante, com uma escrita direta, crua e sem pudores, o que, por vezes, pode ser desconfortável, mas é justamente esse desconforto que reforça o impacto da narrativa. É um livro que não se lê com leveza — e não deve ser lido assim. A sua força está na capacidade de confrontar o leitor com realidades que preferiríamos ignorar.

Contudo, é importante referir que, em certos momentos, a obra torna-se algo repetitiva. Determinadas ideias e imagens são reiteradas de forma que, embora possam reforçar a gravidade das situações, por vezes enfraquecem o ritmo narrativo. Esta repetição poderá cansar alguns leitores e quebrar um pouco a fluidez da leitura. Ainda assim, esse recurso poderá ser interpretado como intencional — uma tentativa de sublinhar a persistência do trauma e a dificuldade de se libertar de um passado marcado pela violência.

No plano temático, o livro é profundamente atual e necessário. Em tempos em que o debate sobre o consentimento, o silêncio das vítimas e o poder das redes digitais está em destaque, Lobos surge como uma denúncia ficcionada, mas extremamente próxima da realidade. A autora não tem medo de incomodar, e isso é um dos grandes méritos do romance.

Gallagher, Charlie (2025). O Rapaz Perdido. Lisboa: Alma dos Livros.

Tradução: Adriana Falcão
N.º de páginas:352
Início da leitura: 08/06/2025
Fim da leitura: 09/06/2025

**SINOPSE**
"Domingo de manhã em Canterbury. O céu está cinzento, e uma chuva fina cai sobre as ruas desertas. Um rapaz de apenas dez anos atravessa a estrada a correr por entre o trânsito. Está descalço e coberto de sangue que não é dele.

A polícia é chamada ao local, e Maddie Ives é a detetive de serviço. Ao chegar, vê o terror estampado no rosto do rapaz. Está encostado à montra de uma loja, tremendo, imóvel. Não diz uma palavra. Não pode ou não quer. Cada músculo do seu corpo grita terror e medo. Parece estar pronto para fugir novamente. Mas fugir de quê?

Horas depois, um homem é encontrado morto - brutalmente assassinado. E tudo isto é apenas o início de um pesadelo que está prestes a intensificar-se.

O VERDADEIRO TERROR NÃO VEM DO QUE VEMOS
MAS DAQUILO QUE NÃO CONSEGUIMOS VER

À medida que o caso se desenrola, Maddie e o detetive Harry Blaker descobrem que estão a lidar com algo muito mais sombrio e perverso do que imaginaram. Um inimigo implacável está à espreita, e cada segundo conta. Conseguirá Maddie detê-lo antes que seja tarde demais? Ou será este o caso que vai destruir tudo aquilo em que acredita?"

Gostei. Não adorei.

De forma geral, o livro tem um enredo envolvente, especialmente pela premissa forte e o ritmo tenso típico dos thrillers policiais britânicos. Gallagher, como ex-polícia, sabe como montar uma história realista e cheia de suspense, o que prende o leitor logo nas primeiras páginas.

No entanto, considero que houve alguns momentos de monotonia. O foco excessivo nos procedimentos policiais ou em personagens secundárias, faz com que a narrativa perca alguma intensidade — especialmente quando o leitor cria expetativas em torno da história do rapaz desaparecido. A ligação emocional com o miúdo é prometida desde o título e sinopse, mas nem sempre é aprofundada como eu gostaria. 

Teria sido mais impactante se a narrativa se focasse mais constante na perspetiva do rapaz ou explorado melhor o seu passado e motivações. Isso traria uma carga emocional mais forte, tornando o mistério não só policial, mas também pessoal. Ainda assim, é um bom thriller. Recomendo a quem aprecia o género literário.

 D'Orey, Frederico (2024). Nascido de Ninguém. Lisboa: Guerra e Paz.

N.º de páginas: 144
Início e fim da leitura: 07 de junho de 2025

**SINOPSE**
"Na sombra dos horrores da Segunda Guerra Mundial, Hans, um menino austríaco, é adoptado por uma influente família portuguesa. Já adulto, a perturbante notícia de um massacre leva-o a iniciar uma jornada em busca das suas verdadeiras origens.

Será que o que irá encontrar poderá abalar a sua identidade para sempre? Conseguirá Hans reconciliar-se com as suas memórias e aceitar a sua herança?

Tocando numa das grandes feridas da Humanidade, Nascido de Ninguém narra a emocionante jornada de autodescoberta de um homem que, para se encontrar a si mesmo, terá de enfrentar um passado turbulento.

Nascido de Ninguém é um romance de estreia de Frederico d’Orey sobre como mesmo nas circunstâncias mais difíceis, o coração humano consegue sempre encontrar a luz."

Gostei muito deste livro. A escrita de Frederico d’Orey é contida, elegante e profundamente humana. Não precisa de grandes artifícios para comover — há uma honestidade crua na forma como nos apresenta Hans, esse rapaz com um passado manchado por culpas, que nem sempre lhe pertencem.

A relação entre o trauma individual e o peso da História foi muito bem explorada. Senti que o autor não estava interessado apenas em contar uma história “comovente”, mas sim em mostrar como as feridas do passado nos moldam — mesmo quando tentamos recomeçar, longe de tudo. Há uma dimensão humana, quase silenciosa, que nos obriga a olhar para dentro. 

Além disso, a construção da identidade do protagonista — entre a Áustria e Portugal, entre o passado e o presente — tem uma delicadeza rara. O livro não nos dá tudo de bandeja, e isso torna-o ainda mais poderoso. Há espaço para o leitor respirar, imaginar, sentir.

É daqueles romances que terminamos devagar, quase com pena, e que nos acompanha por muito tempo. Recomendo.

Sōseki , Natsume. Botchan. Lisboa: Presença, 2025.

Tradução do japonês para o francês: Le Serpent à Plumes
Tradução do francês: Helder Guégués
N.º de páginas: 168
Início da leitura: 05 de junho de 2025
Fim da leitura: 06 de junho de 2025

**SINOPSE**
"Um clássico literário japonês aclamado pela crítica e pelos leitores em todo o mundo.

Arrogante, imaturo e com uma visão rígida da vida, Botchan é um jovem professor de Matemática, residente em Tóquio. Depois da morte dos seus pais, aceita partir para uma pequena localidade rural no distante distrito de Matsuyama e vê-se confrontado com muitos e distintos desafios, por parte tanto dos seus alunos como dos seus colegas.

Com uma moral rígida e uma visão simplista da vida num mundo cheio de contradições e complexidades, Botchan terá de aprender que ser adulto pode ser bem menos tranquilo do que perspetivava e irá confrontar-se com as suas próprias limitações e as de quem o rodeia.

Por meio de uma crítica mordaz às atitudes de superioridade, preconceito e falta de autocrítica, Botchan é também uma história de crescimento, em que as falhas do protagonista revelam as fragilidades da sociedade japonesa do final do século XIX e início do século XX.

Com personagens marcantes, humor irreverente e uma reflexão sobre os valores humanos, este livro continua a ser uma das obras mais amadas e influentes da literatura japonesa."
Este livro é um clássico da literatura japonesa, que combina humor e crítica social. Apesar de aparentar simplicidade, é uma obra profunda, cheia de tensões entre tradição e modernidade, honestidade e cinismo. É especialmente recomendada para quem se interessa pela cultura japonesa, pela transição histórica do Japão.
O que me surpreendeu mais foi o tom directo e quase infantil do protagonista — mas não no mau sentido. Botchan é alguém que vê o mundo de forma muito binária: ou é certo ou é errado, ponto final. Esta forma de estar, embora algo ingénua, torna-se incrivelmente humana, e, grande parte das vezes, até comovente. Ao longo do livro, dei por mim a rir das suas reacções impulsivas, mas também a sentir simpatia pela sua luta contra a hipocrisia à sua volta.
Gostei, particularmente, da maneira como Sōseki satiriza o ambiente escolar, que funciona como um espelho da sociedade. Aquilo que, à partida parece uma comédia leve sobre um professor de matemática desajeitado, transforma-se numa crítica mordaz à falta de carácter, à bajulação e ao compadrio — temas que, sinceramente, continuam bem atuais.
Algo que também me tocou foi a relação de Botchan com Kiyo, a criada, que praticamente o criou. Há entre eles um carinho verdadeiro e uma lealdade que contrasta fortemente com as relações artificiais que ele encontra no novo emprego. É uma personagem simples, mas cheia de ternura.
Por outro lado, confesso que algumas partes me pareceram um pouco repetitivas — o Botchan é tão teimoso e tão convicto nas suas opiniões que, a certa altura, quase parece que estamos a ouvir o mesmo discurso em loop. Mas talvez seja isso também que lhe dá alguma graça: é transparente, é o que é, sem filtros.
Em suma, Botchan é um daqueles livros que, apesar de ter sido escrito há mais de um século, continua surpreendentemente atual. A sua crítica social continua relevante e a sua voz narrativa, tão peculiar, é capaz de cativar leitores mesmo nos dias de hoje. Não é uma leitura pesada, mas obriga a pensar — e talvez isso seja o seu maior trunfo.

Fosse, Jon. Manhã e Noite. Lisboa: Cavalo de Ferro, 2020.

Tradução: Manuel Alberto Vieira
N.º de páginas: 112
Início da leitura: 04/06/2025
Fim da leitura: 06/06/2025

**SINOPSE**
"Um menino está prestes a nascer, chamar-se-á Johannes como o avô e será pescador como o pai. Uma vida boa, é esse o desejo de quem o traz ao mundo, embora este seja um mundo duro, ruim e cruel. Um homem, velho e sozinho, morre, chama-se Johannes e foi pescador.

É o seu melhor amigo que o vem buscar rumo a esse destino onde não há corpos nem palavras, apenas tudo aquilo que se ama. Antes do regresso definitivo ao nada, Johannes revisita o museu da sua vida, longa, simples e quotidiana, confrontando-se paulatinamente com a morte num constante entrelaçamento de real e alucinação, passado e presente.

Manhã e Noite é um romance sobre o maravilhoso sonho que é viver e a aceitação do ciclo natural das coisas. Numa linguagem poética e elíptica, inovadora e despojada, Jon Fosse condensa toda uma existência em dois momentos-chave, urdindo uma reflexão encantatória sobre o significado da vida, Deus e a morte."

Nunca tinha lido nada do autor e confesso que não é uma forma de escrita que me atraia muito, ainda que lhe reconheça grandes qualidades literárias. A forma como a linguagem flui, com frases longas e cadenciadas e uma pontuação que desafia as convenções tradicionais, é algo que me incomoda. Sinto a falta de pontuação, as repetições constantes, acabam, quanto a mim, por cansar um pouco e não me permitem sentir a história e dar corpo às personagens.

É uma obra breve mas profundamente evocativa, que condensa toda uma existência humana em dois momentos-chave: o nascimento e a morte de Johannes, um pescador norueguês. Destaca-se pela sua linguagem poética e elíptica, explorando temas como a efemeridade da vida, a espiritualidade e a aceitação do ciclo natural da existência.

Aconselho a quem gosta do género.

Carroll, Lewis. Alice no País das Maravilhas. Lisboa: LEVOIR.

Tradução: Pedro Cleto.
N.º de páginas: 96
Início da leitura: 03/06/2025
Fim da leitura: 04/06/2025

**SINOPSE**
«Professor de Matemática na Universidade de Oxford, Charles Lutwidge Dodgson, conhecido como Lewis Carroll, escreveu Alice no país das maravilhas em 1865 após um passeio de barco coma jovem Alice Liddell, para quem imaginou a história. no início do livro, Alice penetra na toca de um coelho branco, entrando num mundo subterrâneo muito estranho, um autêntico país das maravilhas onde, pela completa subversão de todas as regras da lógica, reina o absurdo. É lá que encontra um areópago de personagens fabulosas, como aquele gato de Cheshire que lhe diz: "Aqui, somos todos loucos. Eu sou louco, tu és louca."»
Esta adaptação da obra de Lewis Carroll é uma versão muito interessante do clássico, oferecendo uma nova abordagem visual para esta história tão conhecida, respeitando bastante o conteúdo original. A adaptação, tanto em termos de narrativa como de ilustração, é cuidadosamente feita para capturar a essência do livro de Carroll, ao mesmo tempo que a revigora com uma linguagem gráfica moderna.

As ilustrações da adaptação gráfica são detalhadas e cheias de vida, transmitindo o tom surreal e excêntrico da história original. O estilo das ilustrações é claramente inspirado no universo fantástico e ilógico do livro original, mas, ao mesmo tempo, apresenta uma estética mais contemporânea que pode atrair uma nova geração de leitores. As expressões exageradas e os ambientes excêntricos das personagens, como o Coelho Branco, a Rainha de Copas e o Chapeleiro Maluco, estão muito bem trabalhados. 
Alice surge-nos como uma criança inocente, curiosa, persistente e com uma grande capacidade imaginativa. Um bom livro para os jovens mais renitentes à leitura dos clássicos.

Peixoto, José Luís (2017). O Caminho Imperfeito. Lisboa: Quetzal Editores.

N.º de páginas: 195
Início da leitura: 01/06/2025
Fim da leitura: 03/06/2025

**SINOPSE**

"Entre Banguecoque e Las Vegas, José Luís Peixoto regressa à não-ficção com um livro surpreendente, repleto de camadas, de relações imprevistas, transitando do relato mais íntimo às descrições mais remotas e exuberantes. O Caminho Imperfeito é, em si próprio, a longa viagem a uma Tailândia para lá dos lugares-comuns do turismo, explorando aspetos menos conhecidos da sua cultura, sociedade, história, religiosidade, entre muitos outros.

A sinistra descoberta de várias encomendas contendo partes de corpo humano numa estação de correios de Banguecoque fará que, com consequências imprevisíveis, a deambulação se transforme em demanda. Todos os episódios dessa excêntrica investigação formam O Caminho Imperfeito e, ao mesmo tempo, constituem uma busca pelo sentido das próprias viagens, da escrita e da vida."

Este é um daqueles livros que não se lê apenas com os olhos — lê-se com o corpo inteiro. Desde a primeira página, sente-se que não se trata de uma viagem tradicional, mas de uma procura interior, quase espiritual, que se desenrola em paralelo com os quilómetros percorridos na Tailândia.

José Luís Peixoto tem uma escrita profundamente sensorial. Ele não se limita a descrever o que vê; transmite cheiros, texturas, estados de espírito. A viagem física torna-se apenas pano de fundo para uma viagem muito mais relevante: a viagem ao interior de si mesmo. E é isso que torna o livro tão poderoso — a honestidade com que ele se expõe, sem filtros, com fragilidades e dúvidas.

Um dos aspetos que mais me marcou foi essa fusão entre o mundo externo (exótico, caótico, fascinante) e o universo íntimo do autor (repleto de memórias, perdas, saudades e inquietações). Há momentos em que parece que estamos a ler um diário emocional, e não um livro de crónicas — e é aí que reside a sua beleza imperfeita.

A certa altura, deixei de ler para "viajar" e comecei a viajar para "sentir". Este livro não oferece respostas, nem um itinerário claro. Mas convida à pausa, à contemplação e à aceitação do imperfeito — como o próprio título sugere. No fundo, é um livro para quem já percebeu que o mais importante da viagem não é o destino, mas o que se transforma em nós pelo caminho.

Recomendo para os apreciadores deste género.

Gama, Maria Francisca (2025). Filha da Louca. Lisboa: TopSeller.

N.º de páginas: 224
Início da leitura: 29/05/2025
fim da leitura: 31/05/2025

**SINOPSE**
Esta é a história de uma família: de um pai e marido que não sabia ser melhor, de uma filha que se esforçava por cumprir todos os papéis e de uma mãe e mulher que, aos olhos de todos, era louca.
Matilde viveu com os pais, Clara e António, até aos 18 anos, altura em que a mãe morreu. Sete anos depois, vê-se órfã, agora, também sem pai. E é então, dois dias depois da mudança abrupta - a solidão, a perda de referências, o silêncio e o vazio da casa -, que Matilde descobre algo que muda, irremediavelmente, a sua vida.

Uma narrativa comovente sobre como a infância e a adolescência se entranham em nós, sobre o peso do passado e da família, e como a morte de quem nos antecede cria um misto de vazio e liberdade. Filha da Louca é, acima de tudo, um romance sobre como julgamos os outros e os diminuímos a rótulos, sem sabermos quem são ou do que precisam.

Maria Francisca Gama, autora d’ A Cicatriz, tece novamente, uma história poderosa e melancólica, que nos arrebata da primeira à última página.

«Era nesta máxima que eu me concentrava para a amar: a minha mãe não é manipuladora, nem sádica, nem perversa. Se ela pudesse, não seria assim.»
Gosto da forma como Maria Francisca Gama escreve, direta, sem floreados. Porém, de uma intensidade e correção desconcertantes. Desde o início das histórias, que nos transportamos para os espaços das personagens e as acompanhamos nos seus dramas pessoais. E, como oxigénio de que precisamos para respirar, assim ficamos dependentes da página seguinte. Chegamos ao fim, com o amargor de ter de largar aquelas personagens que nos fizeram sentir, pensar e acompanhar o seu percurso de vida. Não queremos terminar...
Sem dizer muito mais, apenas acrescento que é uma excelente história e que, apesar de o fim, nos deixar boquiabertos, é muito compreensível e vai ao encontro do que a história e as personagens vivenciaram. Não levanto qualquer véu, deixo que partam como eu, sem saber para o que vão e que fiquem tão surpreendidos quanto eu! Muito obrigada, Maria Francisca Gama, por nos permitires entrar neste teu mundo da escrita. Continuamos a aguardar sempre o que publiques!

Arenz, Ewald (2025). O Perfume das Peras Selvagens. Lisboa: Presença.

Tradução: Mónia Filipe
N.º de páginas: 256
Início da leitura: 26/05/2025
Fim da leitura: 29/06/2025

**SINOPSE**
"Quando duas mulheres a quem o destino não sorriu têm um encontro inesperado, a vida mostra-lhes que há uma forma poderosa de curar as feridas: abrir a nossa alma e o nosso coração.

Sally, 17 anos, anorética, foge da vida, de todos, do mundo. Liss, 50 anos, fugiu do mundo, está longe de todos, e o centro da sua vida é uma quinta, de que cuida sozinha. Por um acaso do destino, cruzam-se, e Liss estende a mão a Sally. Ao contrário de todos os outros adultos que conhece, Sally percebe que Liss não a julga. E, ao decidir ajudar Sally, Liss percebe que está a quebrar, pela primeira vez, a solidão dos seus dias.

Assim começa uma história que não teria história se Sally tivesse ficado apenas uma noite, como previsto. Porém, os dias transformam-se em semanas, enquanto Liss vai mostrando àquela adolescente tão magoada o seu mundo: como tratar das árvores, cuidar das abelhas, colher as peras selvagens. E, devagar, ambas abrem as suas almas e os seus corações, partilhando, tímida mas genuinamente, o que as fez chegar ali, tão longe dos outros, feridas pela vida; e há uma esperança, suave, doce e perfumada que começa a perfilar-se no horizonte.

Profundo, belo e inspirador, este é o romance que tocou milhares de leitores, sendo um dos livros mais recomendados pelos livreiros alemães nos últimos anos. Uma história que nos revela o poder transformador da amizade e nos recorda como podemos voltar a encontrar-nos a nós mesmos, se partilharmos a verdade que há em nós."
Neste livro são abordados temas como o trauma, a saúde mental, a maternidade, o silêncio e a regeneração pela natureza, de foma subtil, sem dramatismos exagerados nem a reviravoltas artificiais; em vez disso, oferece um retrato realista, tocante e profundamente humano do sofrimento e da lenta, mas possível, redenção emocional.
A prosa de Arenz é lírica e sensorial. A descrição da paisagem rural — os campos, as árvores, os cheiros, o ritmo das estações — torna-se quase uma personagem por si só, funcionando como espelho e contraponto do estado emocional de Sally. A natureza surge como lugar de reencontro, de silêncio fecundo e de purificação. O "perfume das peras selvagens" é um símbolo central: remete para memórias, para o passado e para a beleza frágil das coisas simples.
As personagens são autênticas e enigmáticas, e, sem serem idealizadas, apresentam os seus defeitos e, grande parte das vezes, interagem através dos seus silêncios.
Aconselho.
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Sobre mim

Professora de português e professora bibliotecária, apaixonada pela leitura e pela escrita. Preza a família, a amizade, a sinceridade e a paz. Ama a natureza e aprecia as pequenas belezas com que ela nos presenteia todos os dias.

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