Histórias Soltas Presas Dentro de Mim

 Morgado, André F. (2025). A Vida Oculta de Fernando Pessoa.Lisboa: Iguana.


Ilustrador: Alexandre Leoni
N.º de Páginas: 96
Início da Leitura: 24/12/2025
Fim da Leitura: 26/12/2025

**SINOPSE**
Em plena Lisboa do século XX, Fernando Pessoa move-se entre dois mundos: o que todos conhecem… e o das sombras, onde opera como agente de uma ordem secreta que combate uma ameaça silenciosa prestes a alastrar-se pela sociedade portuguesa. Ele sabe que só há uma forma de o impedir. Mas cada missão deixa marcas. E essas marcas obrigam-no a escrever.
Nesta narrativa sombria e original, onde o real se mistura com o sobrenatural, A Vida Oculta de Fernando Pessoa transforma o nascimento dos heterónimos numa resposta a um trauma profundo — uma tentativa de manter vivos aqueles que foi forçado a eliminar.
Dez anos depois da publicação original, um dos principais sucessos comerciais da BD nacional está de regresso... e dizem que o mal também.
A obra A Vida Oculta de Fernando Pessoa, de André F. Morgado, parte de uma premissa extremamente ousada: Fernando Pessoa é retratado como um agente secreto pertencente a uma sociedade que combate zombies e forças ocultas. Esta abordagem fantástica procura explicar, de forma criativa, o surgimento dos heterónimos, estabelecendo desde o início um tom irreal e provocador.

Cada heterónimo surge como uma entidade com voz própria, embora sempre ligada à psique do poeta. O recurso ao diálogo entre Fernando Pessoa e os seus heterónimos revela-se eficaz, permitindo explorar os seus conflitos internos de forma dramática e, em certos momentos, humorística. Este aspeto contribui para uma leitura dinâmica e imaginativa.

Um dos pontos mais positivos da obra é, sem dúvida, a integração de poemas reais de Fernando Pessoa. O autor consegue inserir versos autênticos nos diálogos de forma natural, reforçando a atmosfera e a carga emocional das cenas, sem que estes pareçam deslocados ou forçados no enredo.

Apesar destes méritos, a obra não foi totalmente do meu agrado. O retrato de um Fernando Pessoa extremamente violento causa algum estranhamento. Embora se compreenda que o objetivo seja explorar criativamente aquilo que desconhecemos da vida do autor, esta caracterização não vai ao encontro do meu gosto pessoal. Além disso, o enredo parece excessivamente elaborado, o que acaba por dificultar a minha identificação com a narrativa.

 Ridzén, Lisa (2025). Quando as Aves Voam para Sul. Lisboa: Suma das Letras.

Tradução: João Reis
N.º de páginas: 352
Início da leitura: 22/12/2025 
Fim da leitura: 23/12/2025

**SINOPSE**
"Bo vive uma vida tranquila no norte da Suécia, rodeado pelas suas memórias, telefonemas com o amigo Ture e a companhia fiel do seu cão Sixten. Mas a velhice chega com perdas — de autonomia, de espaço, de voz — e o seu filho, com quem sempre teve uma relação difícil, quer agora levar-lhe tudo o que lhe resta: o cão.

Na iminência de perder Sixten, Bo sente-se obrigado a resistir. É nesse confronto que emergem os silêncios de uma vida inteira, os amores mal expressos e a urgência de se reconciliar com o que — e quem — realmente importa.

Terno e lúcido, Quando as Aves Voam para Sul é um romance comovente sobre envelhecer, lutar por dignidade e encontrar palavras para o que nunca se soube dizer."
Gostei muito deste livro. Quando as Aves Voam para Sul, de Lisa Ridzén, é um romance de uma delicadeza comovente que aborda a velhice não como um acontecimento súbito, mas como um inverno que se aproxima em silêncio, retirando lentamente aquilo que julgávamos como adquirido. A narrativa acompanha Bo, um homem idoso que vive no norte da Suécia, num quotidiano feito de rotinas simples, memórias persistentes, telefonemas com o amigo Ture e da presença insubstituível do cão Sixten. É nesse espaço íntimo e contido que o romance constrói a sua força: na atenção ao detalhe, na escuta do que se perde antes mesmo de ser nomeado, na dignidade silenciosa de quem continua a amar apesar de tudo.
A leitura é, inevitavelmente, triste e dolorosa. Ridzén escreve sobre a perda de autonomia, de lugar no mundo e, sobretudo, de voz, essa forma subtil de desaparecimento que tantas vezes antecede o fim. A relação difícil entre Bo e o filho intensifica este sentimento de expropriação: quando este decide que o pai já não pode cuidar do cão, ameaça retirar-lhe o último vínculo afetivo que ainda lhe dá sentido aos dias. A iminente separação de Sixten não é apenas um conflito narrativo; é o símbolo maior daquilo que a velhice impõe sem pedir consentimento. Ainda assim, o romance recusa o melodrama fácil. A resistência de Bo é discreta, quase frágil, mas profundamente humana, e é nela que reside a coragem de envelhecer com dignidade.
Distinguido com o Prémio de Melhor Livro do Ano na Suécia, Quando as Aves Voam para Sul confirma-se como um romance comovente sobre o amor e a perda, mas também sobre a persistência dos afetos quando tudo o resto ameaça desaparecer. Lisa Ridzén escreve com contenção e empatia, oferecendo ao leitor uma experiência de leitura que dói, mas que permanece. Gostar deste livro é aceitar a sua tristeza, reconhecer-se na sua verdade e compreender que, no inverno da vida, aquilo que mais importa são, muitas vezes, as pequenas coisas que nos ligam uns aos outros, antes que as aves partam para sul.

 Clemmons, Zinzi (2018). O Que Perdemos. Lisboa: Almedina.

Tradução: Inês Fraga
N.º de páginas: 196
Início da leitura: 21/12/2925
Fim da leitura: 22/12/2025

**SINOPSE**
"Criada na Pensilvânia, Thandi vê o mundo da infância da sua mãe em Joanesburgo demasiado longínquo, mas ao mesmo tempo indelevelmente presente. Sente-se diferente onde quer que vá, no intervalo entre ser branca e negra, americana ou estrangeira. Tenta juntar todas estas peças da sua vida e, enquanto a sua mãe sucumbe ao cancro, Thandi procura por uma âncora: alguém, algo, para amar.

Numa prosa perturbadora e fugaz, acompanhamos a vida de Thandi, desde a perda da mãe à habituação de viver num mundo sem a figura que moldou a sua existência, até às suas aventuras românticas e maternidade inesperada. Através de pequenas descrições, Clemmons cria um retrato fabuloso sobre a força de escolher viver depois de enfrentarmos uma grande perda."
O Que Perdemos, de Zinzi Clemmons, parte de uma experiência profundamente íntima e universal, o luto, a identidade e a herança emocional, e constrói uma narrativa marcada pela introspeção e pela contenção. No entanto, apesar da sensibilidade com que os temas são abordados, a leitura deixou-me a sensação de que faltava algo essencial para que o impacto fosse pleno. A história privilegia fragmentos de pensamento e momentos quase ensaísticos em detrimento de um desenvolvimento mais aprofundado das personagens, o que dificulta a criação de uma ligação mais sólida entre o leitor e as figuras que atravessam o livro. As personagens surgem esboçadas, mas raramente exploradas em profundidade, ficando a impressão de que se conhece mais o tom emocional da narradora do que a sua complexidade interior ou a dos que a rodeiam. Essa escolha estilística, embora coerente com uma escrita mais contemplativa e minimalista, acaba por limitar o envolvimento e deixa a sensação de potencial não concretizado. Assim, O Que Perdemos revela-se um livro delicado e bem-intencionado, mas que teria beneficiado de um maior desenvolvimento das personagens e de uma exploração mais profunda das suas relações, de forma a tornar a experiência de leitura mais completa e emocionalmente marcante.


Fadden, Freida (2024). A Professora. Lisboa: Alma dos Livros. 

Tradução: carla Ribeiro
N.º de páginas: 353
Início da leitra: 19/19/2025
Fim da leitura: 21/19/2025

**SINOPSE**
Eve tem uma vida boa. Levanta-se todos os dias de manhãzinha, recebe um beijo do seu marido, Nate, e vai dar aulas de matemática na escola secundária da cidade em que vivem. Tudo é perfeito, tal como deve ser. Exceto que
No ano anterior, um escândalo abalou a Escola Secundária de Caseham. No centro de toda a polémica, estava Addie, uma aluna, sobre a qual corriam rumores de que tinha um caso com um dos professores. Eve tem a certeza de que, por trás do escândalo, se esconde uma verdade bem mais sombria.
Addie não é de confiança. A rapariga mente. Magoa as pessoas. Destrói vidas. Pelo menos, é o que toda a gente diz.
Porém, ninguém conhece a verdadeira Addie. Os segredos que guarda poderão vir a arruiná-la, por isso fará de tudo para que as coisas se mantenham exatamente como estão."
A Professora, de Freida McFadden, acabou por confirmar a desilusão que já vinha do contacto anterior com a autora, tornando esta segunda oportunidade particularmente frustrante. A história centra-se em Eve, uma professora de matemática com uma vida aparentemente perfeita, no seu marido Nate, professor de inglês, e em Addie, uma aluna do secundário envolvida num escândalo por alegadamente ter mantido uma relação com um antigo professor. Apesar de o ponto de partida ser provocador e de, no início, parecer relativamente fácil antecipar o rumo da narrativa, o livro acaba por seguir caminhos inesperados, recorrendo a reviravoltas sucessivas que chocam mais pela gratuitidade do que pela eficácia narrativa, ao ponto de quase afastarem o leitor da vontade de concluir a leitura. As personagens revelam-se pouco desenvolvidas, funcionando mais como instrumentos ao serviço do choque do que como figuras credíveis e complexas, o que compromete o impacto emocional da história. O desfecho surge apressado, deixando várias pontas soltas e a sensação de que o enredo foi forçado até ao limite sem o cuidado necessário na sua resolução. No conjunto, A Professora revelou-se uma leitura desapontante, com uma execução frágil e escolhas narrativas questionáveis, deixando uma sensação de desconforto e até de repulsa, difícil de ignorar, e levantando inevitavelmente a pergunta de como uma premissa com tanto potencial resulta num livro tão pouco conseguido. Ainda não foi desta que a autora me conquistou.

Tavares, Gonçalo M (2014). Uma menina está perdida no seu século à procura do pai. Porto: Porto Editora.

N.º de páginas:200
Início da leitura: 18/12/2025
Fim da letura: 19/20/2025

**SINOPSE**
Hanna e Marius, Berlim, Século XX.
Marius encontra uma menina perdida à procura do pai. Hanna, rapariga, cabelos castanhos, olhos pretos, catorze anos. Hanna fala com dificuldades, entende mal o que lhe acontece, não percebe o raciocínio dos outros. Está perdida.
Marius está com pressa mas muda o seu percurso, acompanha-a.
A sua busca leva-os até Berlim, a um hotel com corredores que lembram fantasmas da guerra — e os dois circulam entre as obsessões e os escombros do seu século.
"- E vocês? De onde vêm?
Tentei explicar-lhe que não era um homem falador. Gosto de ouvir, disse-lhe, não tenho muito para dizer.
Ele perguntou, virado para Hanna:
- Como te chamas?
Hanna respondeu. Ele não percebeu. Hanna repetiu, ele continuou sem perceber. Eu repeti:
- Chama-se Hanna.
- Hanna - disse Fried. - Bom.
- Que idade tens?
- Catorze - respondeu, e agora percebeu-se.
Fried sorriu para ela, simpaticamente. Ela disse:
- Olhos: pretos. Cabelo: castanho.
Eu disse: - Ela aprendeu assim.
Depois ela disse:
- Estou à procura do meu pai.
Fried sorriu, não disse nada."
"Uma Menina Está Perdida no Seu Século à Procura do Pai, de Gonçalo M. Tavares, apresenta uma premissa que, à partida, desperta curiosidade e promete um percurso emocional e simbólico forte: a procura do pai como metáfora de identidade, pertença e reconstrução num mundo ferido. No entanto, apesar do potencial da ideia central, a forma como é desenvolvida cria distanciamento no leitor, sobretudo para quem não se revê na escrita fragmentária e conceptual do autor. A narrativa dispersa-se em histórias paralelas que surgem frequentemente de modo desgarrado, mais próximas de exercícios filosóficos do que de um enredo coeso, o que enfraquece o envolvimento emocional e a progressão da história principal. O contexto remete claramente para um pós-Segunda Guerra Mundial reconhecível, mas a realidade apresentada afasta-se da reconstrução histórica expectável, optando antes por um universo alegórico e artificial, quase abstrato. Essa escolha estilística, embora intencional e coerente com o projeto literário de Tavares, pode gerar frustração em leitores que esperavam maior aprofundamento psicológico das personagens ou um desenvolvimento narrativo mais linear. Assim, o livro revela-se mais estimulante a nível intelectual do que narrativo, funcionando melhor como reflexão do que como romance no sentido tradicional."

Couto, Mia (2025). As Sementes do Céu. Alfragide: Editorial Caminho. 

Ilustração: Susa Monteiro
N.º de páginas: 40
Início e fim da leitura: 18/12/2025

**SINOPSE**
"«Um dia, o avô espreitou pela janela e contemplou as montanhas. Deu um passo atrás, com as mãos no peito, como se lhe faltasse o ar. Apontou para o topo dos montes, lá onde vivia uma imensa floresta. Agora, restava apenas areia e pedra. Tinham cortado as árvores todas.»

Um conto de grande atualidade, narrado com sensibilidade e poesia, que brota do silêncio e da espera pelo momento certo de nascer. Uma história que convida à reflexão sobre a preservação do meio ambiente e ao diálogo entre gerações, assinada por uma dupla de autores de reconhecida qualidade literária e artística, que aqui se reúne pela primeira vez num álbum ilustrado."
As Sementes do Céu, de Mia Couto, é um livro breve, mas profundamente sugestivo, que confirma a capacidade do autor de dizer muito com poucas palavras. Trata-se de uma obra que pode ser lida por leitores mais jovens, mas que revela camadas de significado especialmente ricas para o público adulto, convidando à reflexão sobre a relação entre o ser humano, a natureza e a memória.
A narrativa constrói-se a partir do olhar de uma criança e da sua ligação ao avô, numa relação marcada pela escuta, pela transmissão de saberes e pela contemplação do mundo. É nesse diálogo intergeracional que o livro encontra o seu centro emocional. A paisagem, caracterizada pela ausência de árvores e pela degradação ambiental, transforma-se num poderoso símbolo de perda, mas também de possibilidade de regeneração. As “sementes” do título representam não apenas a esperança num futuro mais equilibrado, mas também as histórias, os valores e os gestos que passam de geração em geração.
Mesmo num registo mais contido e aparentemente simples, Mia Couto não abdica da sua linguagem poética e metafórica. As frases são cuidadosamente trabalhadas, com um ritmo próprio e uma musicalidade que convida a uma leitura pausada. Não é um livro de ação ou de acontecimentos rápidos; é, antes, uma obra de contemplação, em que o silêncio e o não dito têm tanto peso quanto as palavras.
A brevidade do texto pode deixar alguns leitores com vontade de uma maior exploração das personagens ou dos temas, mas essa concisão parece ser uma escolha deliberada. Aconselho.

Morgan, Sarah (2023). O Clube de Leitura de Natal. Alfragide: Quinta Essência.

Tradução: Salomé Castro
N.º de páginas: 392
Início da leitura: 14/12/2025
Fim da leitura: 17/12/2025

**SINOPSE**

"Será que este Natal vai ser o início de um novo capítulo?

Uma amizade duradoura
Todos os anos, Erica, Claudia e Anna reúnem-se para as férias do clube do livro. Une-as uma longa amizade e um profundo amor pelos livros, mas ainda escondem muitas coisas umas das outras...

Este ano, o destino leva-as a um hotel acolhedor e à sua adorável proprietária.

Uma escapadela de Natal perfeita
No hospitaleiro Hotel Maple Sugar, Hattie é especialista em realizar os sonhos dos seus hóspedes, mas neste Natal ela só quer sobreviver à época festiva. Entre gerir o hotel e ser mãe solteira, Hattie está perto do limite. Ela só espera que o recente beijo de tirar o fôlego a Noah, o amigo de longa data, não a faça perder o equilíbrio...

O começo de uma nova história?
Ao longo de uma semana agitada, Hattie percebe que as amigas escondem verdades por dizer e que a bagagem emocional delas é maior do que os presentes debaixo da sua árvore de Natal!

Mas nada a prepara para a forma como a sua história se vai entrelaçar com as delas.

Poderá este Natal ser o fim do clube do livro ou o início de um novo e emocionante capítulo?"

O Clube de Leitura de Natal é um romance que se assume, sem reservas, como um livro de leitura leve e reconfortante. Sarah Morgan constrói uma narrativa simples e descontraída, pensada para ser apreciada sem grandes exigências interpretativas, funcionando como um verdadeiro refúgio literário, especialmente adequado à época natalícia.
A obra destaca-se sobretudo pela forma como aborda temas universais como a amizade, a família e a concretização de sonhos pessoais. As relações entre as personagens são o eixo central da narrativa, transmitindo uma sensação constante de proximidade e calor humano. O espírito de partilha, tão associado ao Natal, manifesta-se não apenas nos encontros do clube de leitura, mas também na forma como cada personagem encontra apoio nos outros para enfrentar inseguranças, perdas e mudanças de rumo.
Do ponto de vista estilístico, a escrita é fluida e acessível, o que torna a leitura rápida e agradável. A autora não pretende surpreender o leitor com grandes reviravoltas narrativas, e a previsibilidade da história é, ao mesmo tempo, uma limitação e uma escolha consciente. Para leitores mais exigentes, essa previsibilidade pode reduzir o impacto emocional ou literário; contudo, para quem procura conforto e familiaridade, ela contribui para a sensação de segurança e tranquilidade que o livro oferece.
Embora não apresente grande profundidade psicológica nem inovação estrutural, o romance cumpre eficazmente o seu propósito: proporcionar momentos de lazer, descanso e bem-estar. O Clube de Leitura de Natal não ambiciona ser uma obra marcante do ponto de vista literário, mas sim um livro acolhedor, que celebra os laços humanos e o poder das histórias partilhadas.

Gago, André (2010). Rio Homem. Alfragide: Edições ASA II.


N.º de páginas:320

Início da leitura: 09/12/2025

Fim da leitura: 13/12/2025


**SINOPSE**

"Em plena Guerra Civil de Espanha, Rogelio - um jovem galego de ideais republicanos - e alguns dos seus companheiros de guerrilha entram em Portugal clandestinamente com o propósito de apanhar, na cidade do Porto, um navio que os leve aos Estados Unidos e os liberte para sempre da ameaça do fuzilamento e da prisão. Porém, no momento em que Rogelio se afasta do grupo para testar a segurança da próxima etapa da viagem, desconhece que virou do avesso o próprio destino: doravante completamente só num país que desconhece, o jovem sofrerá uma experiência pró-xima da morte que, paradoxalmente, o fará renascer como homem no seio de uma comunidade algo visionária, visitada e admirada por grandes intelectuais - a aldeia de Vilarinho da Furna. Aí encontrará o amor, de muitas maneiras. Exaustivamente investigado, narrado com mestria e beleza e com uma galeria de personagens admiráveis (entre as quais não podemos deixar de reconhecer, por exemplo, Miguel Torga), Rio Homem cruza duas histórias magistrais - a de um refugiado que perdeu todas as suas referências e a da aldeia comunitária que o acolheu e que hoje jaz submersa na albufeira de uma barragem."

Não conhecia a escrita do autor e estava curiosa. Surpreendeu-me a escrita, cuidada e segura, com rigor narrativo e que se lê com agrado.
Contudo, essa solidez estilística nem sempre encontra correspondência na força da história. A narrativa, apesar de competente, não se revela particularmente instigante, faltando-lhe, por vezes, tensão ou surpresa suficientes para manter o leitor emocionalmente envolvido. Em vários momentos, o romance parece perder fôlego e arrasta-se, como se estivesse excessivamente preso ao dever de explicar em vez de avançar. Essa sensação é acentuada pela presença de longas digressões que interrompem o fluxo narrativo e diluem o impacto dramático dos acontecimentos.

Um dos aspectos mais problemáticos do livro reside precisamente no excesso de contextualização histórica. André Gago demonstra um claro empenho em situar o leitor no tempo e no espaço, oferecendo um enquadramento histórico detalhado e rigoroso. Essa contextualização é, em si mesma, bem conseguida e revela um trabalho de pesquisa sólido. No entanto, torna-se excessiva. As explicações alongam-se e, não raras vezes, tornam-se repetitivas. O que poderia servir para enriquecer o romance acaba por o sobrecarregar, travando o ritmo e diminuindo o envolvimento do leitor.
Ainda assim, pelo rigor e escrita, recomendo a leitura.

 

Passaporte Digital de Leitura

Passaporte Digital de Leitura

Atividade: A Minha Escola Lê + Digital — Biblioteca Escolar

Mastragostino, Matteo e Ragghiasci, Alessandro (2023). Primo Levi. Lisboa: Levoir.

Tradução: Vasco Gato
N.º de páginas: 128
Início da leitura: 08/12/2025
Fim da leitura: 09/12/2025

**SINOPSE**
Sabem, crianças, quando eu tinha a vossa idade, gostava muito de números, mas não podia imaginar que iria usar seis deles no meu braço durante toda a minha vida. É desta forma que Primo Levi começa a sua visita à escola primária Felice Rignon, que tinha frequentado quando criança. E revisitada na ficção da história: ele regressa lá, chamado pela professora, para contar a sua própria história Em 1943 juntou-se à resistência como nos conta Francisco Louçã no prefácio deste livro: Primo Levi, que se tinha juntado a um grupo de guerrilheiros no Val d’Aosta, mal preparados e algo ingénuos, foi preso ao fim de poucos meses e enviado num desses comboios para Auschwitz. A sua prima Vanda, que o convencera a tornar-se partigiano, foi enviada para o campo de Birkenau, onde foi das últimas mulheres a ser assassinada. E ele viveu onze meses no campo de memória mais sinistra, até à chegada das tropas soviéticas. Também Frediano Sessi, numa entrevista a Francesco Mannoni nos fala de Levi como resistente: "partigiano não violento que usava a palavra para convencer quem não concordasse consigo" .


A novela gráfica Primo Levi, de Matteo Mastragostino com ilustrações de Alessandro Ranghiasci, oferece uma abordagem única à memória do Holocausto ao partir de Se Isto é um Homem, sem nunca tentar reproduzir o livro de Levi. Em vez disso, constrói uma narrativa própria, na qual o autor, ou melhor, a figura literária de Primo Levi, visita uma escola e relata às crianças aquilo que viveu em Auschwitz. Esta opção narrativa, aparentemente simples, revela-se uma solução poderosa: aproxima Levi dos leitores contemporâneos, sobretudo dos mais jovens, e torna a transmissão da memória um gesto íntimo, direto, quase urgente.
O grande mérito da obra reside precisamente neste diálogo intergeracional. À medida que Primo Levi descreve as etapas da perseguição, da deportação e da vida no campo, vemos crianças inicialmente inquietas, céticas ou simplesmente desinteressadas a transformarem-se. A incredulidade dá lugar ao respeito, e o distanciamento à empatia, prova de que a narrativa, quando bem conduzida, continua a ter força para desarmar resistências e despertar consciências. Mastragostino sabe equilibrar o peso do testemunho com uma linguagem acessível, sem nunca banalizar o horror nem infantilizar o leitor.
As ilustrações de Ranghiasci desempenham aqui um papel fundamental. O traço contido, quase austero, evita o sensacionalismo e reforça a sobriedade do relato. As tonalidades esbatidas e o uso expressivo do vazio gráfico sublinham a desolação dos episódios narrados, ao mesmo tempo que permitem uma leitura clara, emocional, mas não opressiva, um equilíbrio difícil quando se trata de representar o Holocausto.
No conjunto, Primo Levi é uma obra que honra a memória sem a cristalizar. Ao inserir o testemunho num contexto escolar contemporâneo, a novela gráfica renova a relevância de Levi e convida o leitor a refletir sobre a forma como transmissões de memória podem e devem continuar a ser construídas. Comovente, pedagógica e artisticamente contida, esta adaptação demonstra que há sempre novas maneiras de contar o indizível, desde que o respeito e a responsabilidade sejam os seus pilares.

 Ondjaki (2010). Quantas Madrugadas Tem a Noite. Alfragide: Editorial Caminho.

N.º de páginas: 192
Início da leitura: 07/12/2025
Fim da leitura: 07/12/2025

**SINOPSE**
"Quantas Madrugadas Tem a Noite" está destinado a ser um marco na literatura angolana e na literatura de língua portuguesa em geral. Com uma extraordinária mestria narrativa, Ondjaki conta aqui uma história em que não se sabe o que admirar mais, se a fulgurante imaginação do autor, se a sua capacidade para a criação de tipos e situações carregados de significado, se a sua capacidade para elevar a linguagem coloquial a um altíssimo nível literário. O humor, a farsa, o lirismo, a tragédia, o horror, todos estes sentimentos são aqui convocados e expostos, com a fluência de quem conta, simplesmente, uma história, na Luanda dos dias de hoje. Assim:
«Num tenho dinheiro, num vale a pena te baldar. Mas, epá, vamos só desequilibrar umas birras; sentas aí, nas calmas, eu te pago em estória, isso mesmo, uma pura estória daquelas com peso de antigamente, nada de invencionices de baixa categoria, estorietas, coisas dos artistas: pura verdade, só acontecimentos factuais mesmo. A vida não é um carnaval? Vou te mostrar alguns dançarinos, damos e damas, diabo e Deus, a maka da existência.
Transformo só o material pra lhe dar forma, utilidade. O artista molha as mãos pra trabalhar o destino do barro? Eu molho o coração no álcool pra fazer castelo das areias em cima das estórias...
Uma noite, quantas madrugadas tem?»
Tinha este livro há muito perdido entre outros da estante, porque, apesar de gostar da escrita do autor, foi perdendo prioridade para outros mais recentes e porque nunca gostei desta capa. Mas foi desta!
Em Quantas Madrugadas Tem a Noite, Ondjaki conduz-nos para uma noite suspensa no tempo, num bar de Luanda onde o narrador, amante de cerveja, de conversas longas e de estórias picantes, nos toma diretamente como interlocutores. Através dele, avançamos madrugada adentro e entramos na vida (e sobretudo na morte atribulada) de Adolfo Dido, figura de nome insólito e destino ainda mais improvável. A morte, causada por uma simples mordidela da carraça do enorme cão da Kota das Abelhas, está longe de trazer sossego: as ex-mulheres de Adolfo, Dona Divina e Kibebucha, tentam aproveitar a última política governamental de apoio às viúvas de antigos combatentes e inventam, sem pudor, um passado militar para o falecido. A farsa cresce a tal ponto que se abre um processo judicial, arrastando para o centro da intriga amigos, familiares e até o aparentemente intocável cão tratado como um autêntico sultão.
Uma das características mais marcantes do livro é o registo linguístico: Ondjaki escreve num português angolano popular, vivo, de rua, conferindo ao texto uma musicalidade própria e uma autenticidade difícil de replicar. O glossário final, longe de distrair, funciona como ponte cultural para o leitor menos familiarizado com certas expressões, sem nunca quebrar o ritmo da narrativa. A intriga, original e cheia de reviravoltas, sobressai não só pelo humor, mas também pela subtileza com que expõe tensões sociais e económicas de uma Angola marcada pela guerra e pelas cheias.
Gostei particularmente da forma como o narrador, com a sua alegria simples e espontânea, nos leva a refletir sobre temas de maior fôlego: a mudança, o peso do passado, o valor das pequenas coisas, a morte e, claro, o número quase infinito de madrugadas que pode caber numa só noite. Entre riso, melancolia e devaneio, Ondjaki compõe um retrato afetivo do povo angolano, mostrando como, mesmo nas situações mais absurdas, há sempre espaço para humanidade, ternura e espanto.

Diftevsen, Tove. A Trilogia de Copenhaga. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2022.

Tradução: 
N.ºde Páginas: 392
Início da leitura: 01/12/2025
Fim da leitura: 06/12/2025

**SINOPSE**

"Considerada «uma obra-prima» pelo The Guardian, A Trilogia de Copenhaga reúne num único volume Infância, Juventude e Relações Tóxicas, os três livros fundamentais de Tove Ditlevsen, aclamada como uma das vozes mais importantes e singulares da literatura dinamarquesa do século XX. Uma obra corajosa e honesta que representa um exercício pioneiro no campo da escrita confessional, explorando temas como a família, o sexo, a maternidade, a toxicodependência e as dificuldades da mulher para ser artista.

Durante a sua vida, Ditlevsen teve de lidar com a tensão entre a sua vocação de escritora e os seus papéis de filha, esposa e mãe, bem como a sua condição de viciada, o que a levou a escrever sobre a experiência e a identidade feminina de uma maneira muito à frente do seu tempo e ainda pertinente para as discussões atuais em torno do feminismo. Embora baseada nas experiências da autora, A Trilogia de Copenhaga lê-se como a ficção mais empolgante, sendo notável pela sua intensidade e descrição imersiva de um mundo de complexas amizades femininas, relações familiares e literatura - nesse sentido, é a resposta de Copenhaga aos romances napolitanos de Elena Ferrante. Por outro lado, Ditlevsen pode também ser vista como uma precursora espiritual de escritores confessionais como Karl Ove Knausgård, Annie Ernaux, Rachel Cusk e Deborah Levy."

A Trilogia de Copenhaga apresenta-se como um testemunho autobiográfico de grande intensidade, no qual Tove Ditlevsen revisita a infância, a juventude e a vida adulta, com uma lucidez desarmante. A escrita combina franqueza, simplicidade e um sentido agudo de observação, permitindo ao leitor aceder à intimidade de uma autora marcada por vulnerabilidades profundas e por uma constante sensação de deslocação.
A primeira parte, dedicada à infância, revela a dureza de crescer num ambiente pobre de Copenhaga, atravessado por afetos instáveis e expectativas contraditórias. A relação distante com o pai, a severidade da mãe e a humilhação provocada pelo irmão compõem um quadro de isolamento precoce, que ajuda a explicar tanto a fragilidade emocional da autora como a necessidade imperiosa de escrever.
A juventude, narrada na segunda parte, confirma essa vulnerabilidade: empregos instáveis, relações afetivas efémeras e um desejo persistente de afirmação literária coexistem com um quotidiano marcado pela precariedade. A publicação do primeiro livro de poesia traz reconhecimento, mas não serenidade, e o percurso sentimental mantém-se errático, como se o mundo exterior fosse sempre um território alheio.
A terceira parte, centrada nas relações tóxicas, é a mais perturbadora e reveladora. A dependência da petidina, induzida por um marido manipulador, transforma-se no eixo trágico da narrativa. Ditlevsen descreve a progressiva anulação de si própria com uma frieza quase clínica, sem dramatização, o que reforça o impacto emocional da narrativa. 
É, sem dúvida, uma obra de grande poder evocativo, cuja sobriedade confessional e capacidade de olhar o próprio sofrimento sem artifícios fazem dela um marco da autobiografia moderna. Muito bom!

 Afonso, Olivier e Chico (2022). Os/Les Portugais. Benavente: Ala dos Livros.

Tradução: Catherine Labey e Maria José Magalhães Pereira
N.º de páginas:136
Início da leitura: 01/12/2025
Fim da leitura: 04/12/2025

**SINOPSE**
"Aos dezoito anos, Mário foge de Portugal escondido na bagageira de uma velha viatura. Na fronteira franco-espanhola, local onde o seu passador o deixa, conhece Nel. Na companhia deste jovem compatriota, vai descobrir a vida aventureira dos emigrados num bairro de lata da região parisiense: trabalho nas obras, noites regadas a vinho verde, conversa, esquemas…
Esta história de amizade singular é transversal ao destino de milhares de Portugueses que, nos anos 1970, fugiram da ditadura de Salazar e tentaram, cada um à sua maneira, reconstruir a sua vida. Estória pessoal e simultaneamente história de um país que em 1974 saiu da ditadura para dar os primeiros passos em democracia, o livro Os/Les Portugais é uma obra imperdível."
Os Les Portugais afirma-se como um relato ficcional que recupera, com sensibilidade e rigor, a experiência migratória portuguesa rumo a França no final dos anos 60 e ao longo da década de 70. Através da figura de Mário, jovem que abandona Portugal de forma clandestina, o livro restabelece a memória de um movimento coletivo motivado tanto pela necessidade económica como pela fuga ao clima político e militar do país.
O argumento evidencia um trabalho de pesquisa atento, mas nunca se transforma num simples exercício documental. Afonso e Chico integram o contexto histórico com naturalidade, preservando a centralidade das personagens e das suas vivências concretas. O percurso de Mário, desde a travessia improvisada até à chegada aos subúrbios parisienses, ilustra a vulnerabilidade, o desamparo e a esperança contraditória que acompanharam muitos emigrantes de então. A relação com Nel, companheiro ocasional de fuga, e o encontro com Eva, já habituada ao quotidiano árduo do bidonville, ampliam o olhar sobre a formação de pequenas comunidades improvisadas, unidas por necessidades comuns e por um desejo de pertença.
A dimensão gráfica da obra contribui decisivamente para a sua força expressiva. A representação visual dos bairros de lata, dos espaços exíguos e da rotina laboral sem garantias reforça o tom contido e realista da narrativa. Os autores evitam tanto a idealização como o melodrama, optando por uma abordagem direta que confere dignidade às personagens e sublinha a resiliência que marcou grande parte desta geração. Aconselho a leitura!

 Sendker, Jean-Philipp (2025). O Silêncio Que Guardaste no Coração. Lisboa: Alma do Livros.

Tradução: Hugo Alves
N.º de páginas: 336
Início da leitura: 24/11/2025
Fim da leitura: 27/11/2025

**SINOPSE**
"Julia Win é uma advogada bem-sucedida em Manhattan, mas a sua vida privada está numa encruzilhada; acabou recentemente o namoro, sofreu um aborto espontâneo e, apesar do sucesso profissional, sente-se perdida, exausta e infeliz.

Um dia, a meio de uma importante reunião de negócios, ouve uma voz na sua cabeça que a leva a abandonar o escritório sem dar nenhuma explicação. Nos dias seguintes, a crise agrava-se. Não só a voz se recusa a desaparecer, como começa a fazer perguntas que Julia tem tentado evitar:

Porque é que vives sozinha?
De quem é que te sentes próxima?
O que é que queres da vida?

Entrelaçada com a história de Julia, está a de uma mulher birmanesa chamada Nu Nu, que vê o seu mundo virado do avesso quando a Birmânia entra em guerra e chama os seus dois filhos para serem crianças-soldado."

O Silêncio que Guardaste no Coração é uma obra que se inscreve na linha narrativa típica de Jan-Philipp Sendker, marcada pela delicadeza emocional, pela introspeção e por uma atmosfera que combina intimidade psicológica com um exotismo contido. O autor constrói uma história que se desenvolve num registo pausado, sustentada por uma escrita clara e emocionalmente depurada, que se centra menos sobre a ação e mais sobre os estados de alma das personagens.
A força do romance reside sobretudo na capacidade de Sendker para explorar o tema do silêncio, enquanto ausência de palavras, mas também como espaço interior onde se acumula aquilo que não pôde ser dito. O título é, nesse sentido, fiel ao tom da narrativa: há nos protagonistas uma dor contida que só se revela gradualmente, à medida que o enredo avança. Esta abordagem favorece uma leitura contemplativa, convidando o leitor a acompanhar o processo de reconciliação entre o passado e o presente.
Contudo, considero que essa mesma contenção emocional limita o impacto da obra. O autor tende a privilegiar um sentimentalismo subtil, mas constante, que nem sempre encontra equilíbrio com o desenvolvimento das personagens secundárias, algumas das quais surgem como figuras mais simbólicas do que reais. Há também momentos em que o ritmo lento se aproxima de uma certa previsibilidade.
Ainda assim, a sensibilidade do autor ao abordar temas como a perda, a distância emocional e a possibilidade de redenção, confere ao livro uma profundidade discreta. A narrativa destaca-se pela forma como articula paisagens exteriores e interiores, transformando a geografia numa metáfora da vida emocional das personagens. A premissa prometia, mas, quanto a mim, não foi desenvolvida de forma interessante. Esperava mais.

 Kellen, Alice (2025). A Teoria dos Arquipélagos. Lisboa: Editorial Presença.

Tradução: Ana Rita Sintra
N.º de páginas: 200
Início da leitura: 23/11/2025
Fim da leitura: 23/11/2025

**SINOPSE**
"Ninguém está sozinho no mudo. Somos ilhas, sim, cada um de nós, mas podemos aproximar-nos, tocar-nos… e formar arquipélagos de amor.

Se as nossas vidas apenas se medissem em tempo, o amor não existia: ele não se compadece das ciências exatas, não quer nem saber do politicamente correto, manda às urtigas a opinião dos outros. Porque, quando o amor existe, se realmente é amor, a nossa vida passa a medir-se por ele.

Martín e Isaac conheceram-se no verão de 1980 e, como duas ilhas que o mar aproxima com ondas de paixão, foram-se aproximando, formando um arquipélago. Mas a vida avançou, as ilhas afastaram-se, e só na primavera de 2018 voltarão a juntar-se.

Em fogo lento, esta é a história de duas pessoas que o destino parece querer juntar, separar e voltar a pôr à prova; é uma história em que a delicadeza da escrita acompanha a beleza do impossível; é um romance que mostra a alegria e a dor, os dias de sol e a chuva que cai, brutal, sem aviso, na mesma medida - como todos os beijos que demos, sonhámos, esperámos ou nunca tivemos."


A Teoria dos Arquipélagos, de Alice Kellen, é um romance que se distingue pela delicadeza com que aborda temas emocionalmente densos, convidando o leitor a entrar num espaço íntimo onde o amor, nas suas múltiplas formas, se confronta com as convenções sociais e familiares. A autora constrói uma narrativa que, sem recorrer a excessos melodramáticos, comove pela sinceridade com que penetra nas fragilidades humanas. É precisamente nesta abordagem sensível que reside grande parte da força do livro: a consciência de que cada gesto, cada silêncio e cada renúncia carregam um peso que o tempo nem sempre dissolve.
A alternância entre o passado e o presente, entre o verão de 1980 e a primavera de 2018, é conduzida com fluidez, permitindo ao leitor acompanhar a evolução interior de Martín. Aos setenta anos, ele decide revisitar um acontecimento que mudou o rumo da sua vida, numa tentativa de compreender, reparar ou simplesmente fechar um momento da sua vida que ficou suspenso durante décadas. Esta estrutura fragmentada em dois tempos, não só acrescenta ritmo ao romance, como também sublinha a ideia de que o presente nunca existe sem a sombra (ou a luz) do passado.
Alice Kellen cria aqui uma espécie de geografia sentimental, onde cada personagem ocupa a sua “ilha”, com medos, desejos e limitações próprios. A metáfora dos arquipélagos torna-se central para a leitura: é o amor, e apenas o amor, que tem a capacidade de construir pontes entre essas ilhas, de aproximar vidas que, à primeira vista, pareceriam condenadas à distância. A narrativa da autora, marcada por um tom poético e melódico, reforça esta dimensão contemplativa, conferindo ao romance um ritmo suave que convida à introspeção.
Escolhi este livro pela sinopse, uma vez que ainda não tinha lido nada da autora. Esta é uma leitura triste, mas que acalma e, em determinados momentos, conforta e que, sem dúvida, vicia. Gostei muito.

Pattee, Emma (2025). Tremor. Lisboa TopSeller.

Tradução: Fernanda Semedo
N.º de páginas: 208
Início da leitura: 21/11/2025
Fim da leitura: 22/11/2025

**SINOPSE**
"Quando um sismo de enorme magnitude atinge Portland, no Oregon, Annie encontra-se grávida e sozinha numa grande superfície comercial. Sem forma de falar com o marido, sem telefone ou dinheiro, e com a cidade mergulhada no caos, nada lhe resta a não ser caminhar
Atravessando os destroços da cidade, Annie experiencia o desespero e a bondade humana: estranhos a oferecer ajuda, uma rebelião num supermercado, uma amizade improvável com uma jovem mãe… Enquanto caminha, Annie reflete sobre o seu casamento em dificuldades, a sua carreira dececionante e a ansiedade em ter um bebé. Se conseguir voltar para casa, está determinada a mudar de vida.
Passado ao longo de um único dia, Tremor é um romance vibrante de uma nova e poderosa voz literária, que acompanha a viagem de uma mulher por uma cidade transformada, carregando o peso do passado e a esperança fervorosa no futuro."
Tremor, de Emma Pattee, parte de uma premissa promissora, capaz de suscitar expetativas elevadas, sobretudo para quem chega ao livro depois de ler críticas particularmente entusiásticas. Há, de facto, um potencial inicial evidente: a autora constrói um cenário emocionalmente denso e procura explorar as consequências de um acontecimento marcante através de diferentes camadas temporais. A alternância entre passado e presente é, talvez, o elemento mais conseguido da narrativa. Esse movimento entre tempos oferece ao leitor um olhar mais amplo sobre as personagens, permitindo compreender não apenas o que as define no momento presente, mas também as feridas, escolhas e hesitações que as moldaram.
No entanto, apesar desta estrutura eficaz, a força narrativa acaba por não acompanhar plenamente as ambições do livro. A escrita, embora competente, por vezes parece hesitante, como se se detivesse demasiado em pormenores que não acrescentam profundidade real à história. Falta-lhe, em certos momentos, uma intensidade que sustente o impacto emocional que o enredo promete. A sensação que fica é a de um terreno literário fértil, mas explorado com alguma contenção, deixando-nos a desejar um desenvolvimento mais vigoroso, mais ousado ou mais incisivo.

Rodrigues, Pedro (2020). Alice do Lado Errado do Espelho. Lisboa: Cultura Editora.

N.º de páginas: 128
Início da leitura: 16/11/2025
Fim da leitura: 19/11/2025

**SINOPSE**
"E se um dia acordássemos do outro lado do espelho? E se a maçã vermelha de Eva fosse a mesma que a Branca de Neve trincou? Será que a Rapunzel cortou o cabelo para evitar o contacto social? E o Lobo: porque é que é sempre ele o mau da fita? Estaria a profecia da Bela Adormecida certa? E a Cinderela: precisaria, ela, de ir ao baile para ser feliz? De uma coisa devemos estar certos: o mundo pode ruir como um póquer de ases - mas voltará a erguer-se como um castelo de cartas.

A Capuchinho-Vermelho encomendou a comida para a avó pela Uber Eats mal sabia ela que o entregador era o Lobo Mau."
Em Alice do Lado Errado do Espelho, Pedro Rodrigues propõe um exercício literário que parte de um gesto simples: revisitar figuras clássicas do imaginário infantil e transportá-las para o quotidiano contemporâneo, marcado pelo contexto pandémico. O livro, composto por sete contos breves, funciona como um espelho estilhaçado onde cada fragmento devolve uma imagem familiar mas subtilmente distorcida, obrigando o leitor a rever aquilo que julgava conhecer.
A escolha das protagonistas, Alice, Bela, Capuchinho Vermelho, Cinderela, Rapunzel, Branca de Neve e Bela Adormecida, não é casual. Representam arquétipos profundamente enraizados na cultura popular, facilmente reconhecíveis, mas que aqui surgem reconstruídos num registo sóbrio e atual. O diálogo com os contos de fadas originais existe, mas serve sobretudo para expor fragilidades humanas contemporâneas, medos atuais e distorção de conceitos morais, marcados pela pandemia.
A presença da pandemia, recorrente em todos os contos, não é tratada de forma sensacionalista. Surge como pano de fundo e, por vezes, como força determinante na narrativa, alterando rotinas, expondo solidões e acelerando processos de transformação interna. Esta atualização não desvirtua os contos originais, antes lhes acrescenta camadas de leitura que os tornam mais próximos do leitor adulto.
A escrita de Pedro Rodrigues é contida e direta, apostando na limpidez em vez do ornamento. Isso confere aos textos uma tonalidade sóbria que contrasta, de forma interessante, com o caráter fantástico das personagens. A brevidade dos contos, contudo, deixou-me uma sensação de que certas ideias mereciam maior desenvolvimento; há universos que se abrem rapidamente e se fecham com igual rapidez, deixando ecos que, embora sugestivos, poderiam ter sido explorados com mais profundidade.
Ainda assim, Alice do Lado Errado do Espelho cumpre o propósito de um livro de contos contemporâneo: surpreende, questiona e reinterpreta. 

 Dueñas, Maria (2025). Se Um Dia Voltarmos. Porto: Porto Editora.

Tradução: Carla Ribeiro
N.º de páginas: 448
Início da leitura:14/11/2025
Fim da leitura:17/11/2025

**SINOPSE**

"Orán, Argélia francesa, finais da década de 1920.
Ana Cecilia Belmonte, uma jovem espanhola de apenas 17 anos, foge de casa após um episódio traumático. Sem documentos nem destino, atravessa o mar Mediterrâneo e refugia-se numa terra estranha.
Num ambiente hostil, onde imperam a desigualdade, o colonialismo e a opressão, Cecilia encontra trabalho nas fábricas de tabaco, nos campos e nos bairros mais esquecidos de Orán. A cada passo, enfrenta humilhações, perigos e perdas. Mas é também aí, na margem da sociedade, que descobrirá alianças inesperadas, redes de apoio e de solidariedade feminina, vínculos e paixões que, aliados à sua coragem e resiliência, acabarão por conduzi-la por um caminho repleto de reviravoltas, conquistas e desafios.
A Guerra Civil Espanhola, o avanço nazi no Norte de África e o conflito pela independência da Argélia marcam o contexto desta poderosa história de resistência, que é também uma reflexão sobre identidade, pertença e os laços que nos unem à terra de onde partimos – mesmo quando já não é possível voltarmos."
Se Um Dia Voltarmos é um romance que se impõe pela forma como cruza destinos pessoais com momentos decisivos da história do século XX. María Dueñas constrói uma narrativa ampla, guiada por personagens que se movem entre o íntimo e o político, sempre com uma humanidade discreta, mas persistente.
A autora acompanha trajetórias marcadas por violência, perda, deslocação e resistência. As vidas que aqui encontramos são consistentes, feitas de escolhas imperfeitas, erros, avanços e recuos. Essa verosimilhança sustenta a força do livro: não há heroísmos fáceis, apenas pessoas confrontadas com circunstâncias que as ultrapassam e que, ainda assim, procuram manter alguma forma de dignidade.
O pano de fundo histórico, a Argélia francesa, a presença espanhola no Norte de África, a Guerra Civil Espanhola, o exílio, a Segunda Guerra Mundial e, mais tarde, a Guerra da Independência argelina, não surge como simples cenário. Funciona antes como estrutura que molda os percursos individuais, revelando a forma como a história coletiva interfere, condiciona e, por vezes, derrota ou reorienta a vida de quem a atravessa. Dueñas articula estes contextos com clareza e sem excessos, dando espaço ao leitor para acompanhar a evolução das personagens ao longo de décadas de conflito e transformação.
A narrativa é marcada por momentos de abuso, homicídio, silêncio e ruptura, mas também por gestos de coragem, reencontros e uma persistência quase teimosa em manter viva alguma esperança, mesmo quando esta parece frágil. A escrita mantém-se contida, evitando dramatizações exegeradas, o que torna o impacto emocional mais efetivo.
Adorei e recomendo vivamente!

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Professora de português e professora bibliotecária, apaixonada pela leitura e pela escrita. Preza a família, a amizade, a sinceridade e a paz. Ama a natureza e aprecia as pequenas belezas com que ela nos presenteia todos os dias.

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