Deixar de ser


No dia em que te esqueceste
de quem eu era, quem te era,
senti fugir o chão que me deste
e destruir-se toda a quimera.

A tua voz passou a ser vazia,
oca de histórias e de momentos,
uma voz sem contorno e vadia,
uma voz que não lê os pensamentos.

O teu sorriso também deixou de ser,
nos teus olhos já não moram ilusões,
quem te conhece há de compreender
o vazio em que vivem as tuas emoções.

Já não lês os sentimentos que me tomam,
não afloras os problemas, que desconheces.
E os dias são dias que apenas somam
horas e minutos de que logo te esqueces.

Passa a vida, a teu lado, ombro a ombro.
Tu olha-la de soslaio sem a reconheceres,
e todas as histórias que viveste são escombro
que olhas sem veres e sem entenderes.

E como criança outra vez nascida,
sucumbes ao carinho que ainda te acalenta.
És uma gaivota do ninho perdida,
numa noite sem céu e nevoenta.
   
                                                 Célia Gil






6 Comentarios

  1. Tu nos encantas SEMPRE! Lindíssima! Adorei! bjs praianos, tudo de bom,chica

    ResponderEliminar
  2. Adorei o poema!
    Obrigada pelo carinho, querida Célia.
    Beijo

    ResponderEliminar
  3. Oi Célia,
    O poema é lindo, mas tem uma certa dose de tristeza que me doeu na alma.
    Bjs

    ResponderEliminar
  4. Um poema absolutamente brilhante,desejo tudo de bom para ti!!

    ResponderEliminar
  5. Muito obrigada a todas pelas palavras gentis! Bjs

    ResponderEliminar