A Aluna Americana, João Pedro Marques


Marques, João Pedro (2019). A Aluna Americana. Porto: Porto Editora


288 páginas
Leitura iniciada em 01-05-2020
Leitura terminada em 04-05-2020

A Aluna Americana é um livro de João Pedro Marques, autor de Uma Fazenda em África, a sua obra mais conhecida. Bem escrito, com um ritmo rápido e ações constantes que nem deixam respirar.
A história decorre em 1968, quando Isabel Botelho, uma estudante de românicas recém-chegada dos Estados Unidos da América, começa a assistir às aulas de um professor universitário de História, de meia idade, José Duarte de Sousa. Este fica encantado com esta aluna americana, que o questiona e o desperta da monotonia do seu dia-a-dia de docência, e que o terá levado a investir mais nas suas aulas, num maior cuidado na sua preparação, aulas que eram claramente dadas para ela. É assim que nasce uma relação fogosa entre ambos, despertando este professor para a existência, passando a preocupar-se com aspetos, mesmo em termos de aparência, a que antes não dava valor. Mas este não é um romance linear. Enquanto o professor se apaixona irremediavelmente por Isabel, esta, pássaro livre sem pousio, não se conforma com uma relação de posse, que tenderia, mais tarde ou mais cedo, por cair na rotina e tornar-se monótona. Ela quer viver. Mas, como lhe é dito mais tarde por Nara, uma intuitiva mulher de uma aldeia africana por onde viaja, “A sede de viver tem sempre homens no fundo do copo”. Isabel sempre teve essa sede de viver, conhecer o mundo, conhecer-se a si mesma e sempre esteve rodeada de muitos homens. Esta sua sede de viver chegava a ser, como mais tarde lhe dirá José Sousa, egocêntrica e egoísta.  Mas Isabel tinha algo que a tornava única, compadecia-se com os mais desfavorecidos, ajudava-os se pudesse, revoltava-se contra os opressores e marcava sempre a sua posição.
Este livro, porém, não se fica por aqui. Quando nos é contado o passado de Isabel, entramos no contexto histórico dos anos sessenta nos Estados Unidos, onde se viveu intensamente a liberalização dos costumes, o sexo, droga e rock n’roll, dos festivais de música, da libertação da mulher e da contestação dos valores tradicionais. Em Portugal, depositam-se esperanças no governo de Marcelo Caetano, mas as vivências de Isabel, a figura libertina que representava intensificam a admiração de José Sousa por ela.
Mas estaria José Sousa disposto a aceitá-la sempre nos seus regressos, depois de longos momentos de ausência, sempre acompanhada por outros homens? Até que ponto a ética e a moral dele, o desejo de estabilizar, casar com ela, aceitariam a sua maneira de ser e de viver?

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