O Teu Olhar Ilumina o Mundo, Susana Tamaro


Tamaro, Susana (2019). O Teu Olhar Ilumina o Mundo. Barcarena: Editorial Presença
Nº de páginas: 136
Início da leitura: 10 de maio de 2020.
Fim da leitura: 17 de maio de 2020.

O Teu Olhar ilumina o Mundo é o mais recente livro de Susana Tamaro, traduzido por Maria Mercês Peixoto. É um livro que surge da promessa que fez com o poeta Pierluigi Cappello, antes da morte deste, de escreverem um livro em conjunto.
Neste livro, Susana Tamaro relembra os momentos passados com Pierluigi, a amizade que existiu sempre e que serviu de amparo nos momentos menos bons. Ambos incapacitados, Pierluigi fisicamente, desde um acidente que o deixara confinado a uma cadeira de rodas e Susana, cujo distúrbio neurológico, a síndrome de Bordeline, lhe criou uma invalidez mental e social, com a qual teve de se habituar a viver, a sua “cadeira de rodas invisível”, como ela lhe chama. É um livro que fala do direito à diferença, dos mistérios do amor, da vida e da morte e da escrita, elo de ligação entre os dois escritores.
É impossível, ao ler este livro, fazê-lo a um ritmo apressado. Sente-se a necessidade de saborear as palavras e a mensagem transmitida, pois cada frase nos faz pensar e partilhar com a autora desta dor que pautou principalmente a sua infância e adolescência. É assim que temos conhecimento das suas vivências terríveis com a mãe, que a ignorava e com o padrasto cruel e passo a citar um exemplo “Vivia na violência, no ódio, ninguém se importava comigo”. Estas partilhas em jeito de confissão, vão sendo intercaladas com poemas de Pierluigi, numa linguagem delicada, sincera e despojada. Se já antes admirava a escritora e a sua capacidade de exprimir sentimentos, emoções, de nos remeter para os espaços referidos através de descrições belíssimas, fiquei, sem dúvida, a admirá-la ainda mais. E esta caixinha de surpresas é equiparável à casinha de madeira mágica onde escreve, no bosque.
Não posso deixar de mencionar um excerto com que me identifico particularmente, em que a autora explica como foi recebido um dos seus livros de referência, que eu adorei, e passo a citar: “Quando saiu Vai Aonde Leva o Coração, a coisa que mais me impressionou foram as reações pálidas que suscitava nas elites culturais a palavra «coração». O livro era considerado lixo cultural, coisa para pessoas ignorantes fáceis de enganar, trivialidades… Agora já não me surpreendo. A remoção da alma e a remoção do coração são a mesma coisa. A nossa identidade deve estar toda concentrada na cabeça e nos genitais; no meio não deve haver nada.” (pág. 57).
                                                                                             Célia Gil



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