VOX, Christina Dalcher

 Dalcher, Christina (2019). Vox. Amadora: Topseller.

Tradução: Renato Carreira

Nº de páginas: 304

Início da leitura: 04/12/2022

Fim da leitura: 08/12/2022

**SINOPSE**

Estados Unidos da América. Um país orgulhoso de ser a pátria da liberdade e que faz disso bandeira. É por isso que tantas mulheres, como a Dra. Jean McClellan, nunca acreditaram que essas liberdades lhes pudessem ser retiradas. Nem as palavras dos políticos nem os avisos dos críticos as preparavam para isso. Pensavam: «Não. Isso aqui não pode acontecer.»

Mas aconteceu. Os americanos foram às urnas e escolheram um demagogo. Um homem que, à frente do governo, decretou que as mulheres não podem dizer mais do que 100 palavras por dia. Até as crianças. Até a filha de Jean, Sonia. Cada palavra a mais é recompensada com um choque elétrico, cortesia de uma pulseira obrigatória.

E isto é apenas o início.

Este é um livro que mexe connosco. É uma distopia que não queremos que aconteça nunca, pois seria uma regressão, ou pior ainda, a uma época em que as mulheres não podiam falar. Calar as mulheres numa sociedade, a sua voz ativa, os seus sentimentos, é caminhar para uma sociedade cruel e injusta, uma sociedade em que cada vez mais se cavaria um fosso entre homens e mulheres, em que, para além de deixar de haver igualdade de género, seria punido quem amasse o mesmo género. 
E quando as crianças do sexo feminino ficam também impedidas de dizer mais de 100 palavras por dia, sob a pena de levarem choques elétricos, é aterrador. E é também aterrador as mães terem de encontrar estratégias para impedirem as filhas de falarem e de conhecerem as consequências de que serão alvo se infringirem as leis dos ditos "Puros". Se uma criança deixar de falar, haverá consequências para a vida: a criança deixa de saber falar, de ter vocabulário, de evoluir, de intervir. É a anulação do ser.
Este é um livro que nos amedronta, enraivece e penso que foi mesmo esse o propósito da autora: abanar as consciências. Podemos não deixar de falar por uma questão de perda da liberdade feminina, mas, hoje em dia, cada vez se exige um maior filtro de tudo o que se diz, quando se diz e porque se diz. A limitação da linguagem (não apenas nas mulheres), a proibição, o medo que se gera através do "isso agora não se pode dizer", a deturpação do que se diz, fazem com que cada vez mais o ser humano limite a fala ao essencial, não tenha liberdade de expressão (liberdade com consciência e civismo), como se tivéssemos de nos formatar, de pensar e dizer todos o mesmo. 
Foi isso que me fez gostar de Jean, a protagonista e narradora do livro, que consegue rebelar-se contra o sistema, consegue assumir a sua quota parte de culpa em não ter feito a parte dela: votar, para que não elegessem o demagogo que viria a tornar-se no seu pior pesadelo e no pesadelo de muitas outras mulheres. E gostei de Lorenzo, um homem que lutou ao lado de Jean, também ele com ideias próprias e que não se deixou formatar.
Um livro que nos faz refletir!

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