O Tamanho do Mundo, António Lobo Antunes

Antunes, António Lobo (2022). O Tamanho do Mundo. Alfragide: Publicações Dom Quixote.

Nº de páginas: 288

Início da leitura: 09/11/2022

Fim da leitura: 11/11/2022

**SINOPSE**

Por entre os estalos dos móveis da sua casa em Lisboa, um idoso observa o outro lado do Tejo enquanto se perde nas memórias sobre uma cave e um pequeno jardim com um baloiço.

Independentemente de ter acabado por se tornar presidente de uma grande empresa, o sucesso jamais debelou a perda daquele tempo, acorrendo repetidas vezes ao local e imaginando que as pequenas coisas e as personagens (mais significativas, como a filha, ou mais casuais, como uma senhora que passa com um carrinho das compras) se mantêm intactas, tal qual um tempo impoluto.

A escrita de Lobo Antunes deixa-nos sem fôlego. Para acompanharmos a história, temos de nos deixar ir ao sabor da narrativa que, inicialmente, parece tão desfragmentada quanto a forma escrita (com as suas frases inacabadas, mudanças repentinas de narrador, mudanças repentinas das histórias dentro da história...) e temos de o fazer sem perder muito tempo, sem pousarmos o livro por muitas horas seguidas, pois corremos o risco de nos perdermos na narrativa, de sentirmos necessidade de voltar atrás para retomar o "fio à meada". 
É incrível como, aos poucos, todas essas histórias se juntam e fazem tanto sentido! É como se acompanhássemos um caso policial de difícil resolução, que nos desorienta mas, ao mesmo tempo, nos cativa. Assim foi ler este livro. 
Uma forma linguística de nos manter presos está num certo coloquialismo, numa narrativa que nos parece dialogar com os nossos pensamentos, o que Lobo Antunes consegue pelas inúmeras repetições ao longo do livro. Essas repetições avivam-nos a memória em relação a acontecimentos narrados anteriormente, captam-nos a atenção para os pormenores e, ao mesmo tempo, encaixam perfeitamente na personagem do idoso que é invadido por recordações e cuja "memória é um sótão onde tudo acaba por se misturar num nada sem nexo".
E há um vaivém entre memórias de um passado economicamente difícil numa cave, mas em que recorda momentos felizes, como aquele em que, no "jardinzeco", empurrava a filha no baloiço, quando "o relógio do corredor, cheio de ancas, baloiçava horas gordas"; o baloiço abandonado, quando se tornou num homem de sucesso nos negócios e se afastou, tornando-se num homem pretensioso, arrogante, mulherengo... Sempre um vaivém, do baloiço, do amor, da cama que rangia na parede, das histórias, da própria vida.
Agora, resta-lhe uma solidão que se mede "pelos estalos dos móveis", "pelo pânico das ambulâncias na rua", com um relógio "a tricotar minutos graças às agulhas dos ponteiros, tecendo o cachecol do tempo a caminho da noite". 
Aconselho vivamente! Para quem gosta do género, claro!

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