O Acontecimento, Annie Ernaux

Ernaux, Annie (2022). O Acontecimento. Porto: Livros do Brasil.

Tradução: Maria Etelvina Santos

Nº de páginas: 96

Início da leitura: 14/10/2022

Fim da leitura: 14/10/2022

**SINOPSE**

“Uma jovem de 23 anos, estudante universitária brilhante, descobre que está grávida. Tomada pela vergonha, consciente de que aquela gravidez representará um falhanço social para si e para a sua família, sabe que não poderá ter aquela criança. Mas, na França de 1963, o aborto é ilegal e não existe ninguém a quem possa acorrer.

Quarenta anos mais tarde, as memórias daquele acontecimento continuam presentes, num trauma impossível de ultrapassar e cujas sombras se estendem para além da história individual.

Escrito com uma clareza acutilante, sem artifícios, este é um romance poderoso sobre sofrimento, justiça e a condição feminina. Escrito por Annie Ernaux em 1999, foi adaptado ao cinema em 2021 por Audrey Diwan, num filme vencedor do Leão de Ouro em Veneza.”

Quantas jovens não terão passado pelo mesmo?

Este livro dá-nos conta dos medos e angústias de uma jovem de 23 anos que nos conta, na primeira pessoa, “o acontecimento” por que passou, constituindo esta narrativa uma forma de expurgação do sentimento de culpabilidade que terá advindo de uma decisão tomada.

É necessário filtrar o acontecimento à luz do momento em que se passou e onde se passou – 1963, em França. A narradora era uma jovem estudante universitária, com um futuro promissor. Quando confrontada com a gravidez, sendo que o pai não quis assumir responsabilidades, uma sociedade que condenava as jovens grávidas, os pais que não esperavam isso da parte dela, vê-se a braços com uma decisão que tem de tomar sozinha – fazer um aborto. Mas, sendo o aborto proibido, havia que pensar numa forma de o fazer: uma agulha de tricô, uma “fazedora de anjos” … certo é que o desespero da jovem é quase palpável nesta narrativa tão dura e crua. Impossível julgá-la se nos pusermos no lugar dela, se tentarmos perceber a dor que a perpassou e que a levou a dizer, por exemplo “Nesse momento, matei em mim a minha mãe” ou “Sem o saber, aquela mulher certamente gananciosa (…) libertou-me da minha mãe e lançou-me no mundo”.

Aconselho vivamente este livro, como já havia aconselhado Os Anos da mesma autora.

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