O Livro Branco, Han Kang

Kang, Han (2018). O Livro Branco. Alfragide: Edições Dom Quixote.

Tradução: Maria do Carmo Figueira

Nº de páginas: 152

Início da leitura: 27/10/2022

Fim da leitura: 28/10/2022

**SINOPSE**

O Livro Branco é uma meditação sobre a cor, que começa com uma simples lista de coisas brancas: a neve, o sal, a espuma das ondas, o papel, o arroz, os cabelos dos velhos, as cobertas em que a mãe da autora embrulhou a primeira filha, que nasceu prematura, muitos anos antes de existir este livro. É também uma reflexão sobre o luto, o renascimento e a tenacidade do espírito humano e uma investigação sobre a beleza, a fragilidade e a estranheza da vida: se, por exemplo, a sua irmã tivesse sobrevivido, teria Han Kang chegado a nascer? Poderíamos nós ler a sua história tão tocante?

O mais autobiográfico e simultaneamente experimental livro de Han Kang até ao momento: uma pequena obra-prima inesquecível, a dor transformada em promessa pela mão de uma grande escritora contemporânea.

Este é um livro difícil de definir, entre a ficção e a não ficção. É narrado na primeira pessoa, quase em jeito de monólogo, em que o “eu” vai desfiando orações, confissões e recordações que, de tão palidamente frias, nos deixam uma sensação de que, como diz a própria narradora, o nosso corpo “é uma casa de areia. Que fora despedaçada e continuava a despedaçar-se. Fugindo-lhe teimosamente por entre os dedos”.

Uma recordação assombra todo o livro, perpassando-o como gelo cortante: a morte da irmã mais velha duas horas depois de ter nascido, em casa, sem ajuda de ninguém. De “um rosto tão branco como um bolo de arroz em forma de meia-lua.”

O branco é tudo o que é puro, e, apesar de fazer a narradora estremecer, ela queria acreditar que poderia ser regenerador e sarar as feridas marcadas pelo tempo na sua alma. Mas nem sempre o branco é puro, pode também impulsionar-nos “da beira de um penhasco invisível em direção aos contornos afiados dos dias”, pode ser o vazio, um livro em branco, a morte, o luto, o pelo branco do velho cão, o acinzentado a macular o branco, o fio de leite materno que já não servirá para ninguém (já que o ténue fio de vida se desprendeu), entre tantos outros brancos, que se enlaçam e nos enlaçam em pensamentos.

Recomendo!

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