O Cais das Merendas, Lídia Jorge

Jorge, Lídia (1985; edição de 2023). O Cais das Merendas. Alfragide: Publicações Dom Quixote.

Nº de páginas: 328

Início da leitura: 25/06/2023
Fim da leitura: 28/06/2023

**SINOPSE**
"O Cais das Merendas desenvolve-se em torno dos temas da identidade e da aculturação. Estamos perante uma narrativa poética, teatralizada, em que as personagens rurais, confrontadas com o mundo exterior, dão testemunho da sua intimidade, medos e desejos mais profundos.

A ação desenrola-se à beira-mar, numa praia do Sul de Portugal, girando as figuras em torno de um polo central: o Hotel Alguergue. Ocupado durante a época alta por turistas de várias nacionalidades, o hotel fica completamente despovoado durante os meses de Inverno. É então que os naturais da zona, esquecidos dos seus hábitos, precisam de se embriagar para voltarem a usar a sua língua materna e recitarem em voz alta as histórias tradicionais do seu país.

Figuras como Rosarinho, Pai Patroços, Miss Laura ou Sebastião Guerreiro, que vemos desfilar durante esses parties interpretam a hesitação de uma comunidade dividida entre o desejo de se modernizar e o de manter o que de si mesma entende por próprio e genuíno.

«No momento em que Portugal abandonava as últimas ilusões épicas e o mundo nos descobria como paraíso turístico, Lídia Jorge, cronista minuciosa e irónica da metamorfose do nosso secular cais das merendas, em vitrina cosmopolita, inventou-nos uma singular epopeia» segundo Eduardo Lourenço."
Neste livro, que se debruça sobre um grupo de trabalhadores hoteleiros no Algarve, examinam-se os meandros de uma crise de identidade nacional, nessa região, que foi palco de mudanças socioeconómicas mais flagrantes do que o resto do país.

A narrativa começa depois da morte da jovem Rosaria e, durante todo o romance, os factos que podiam explicar a sua decisão de pôr término à vida são quase impossíveis de descobrir, uma vez que ninguém consegue contar a história do sucedido. Ao longo deste romance, ouvimos apenas as muitas vozes e os pensamentos confusos das personagens, nos seus monólogos interiores, dando voz a um retrato metafórico do país, na pós revolução do 25 de abril.

Assistimos, neste livro, à fragilidade da identidade portuguesa, tão dependente de novas culturas oriundas do estrangeiro. Nesse sentido, a par da linguagem popular regional, surgem expressões inglesas e francesas, transmitindo a ideia incutida de que o que vem do estrangeiro é que é bom.

Um cais repleto de gentes que se divertem em torno de um "barbecue", entre copos e folia, e se questionam...

Não é um livro fácil, mas é um bom livro. Aconselho!

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