A Trilogia de Paris, Colombe Schneck

Schneck, Colombe (2025). A Trilogia de Paris. Lisboa: Publicações Dom Quixote.

Tradução: Ana Maria Pereirinha
N.º de páginas: 232
Início da leitura: 05/07/2025
Fim da leitura: 07/07/2025

**SINOPSE**
"Um livro de grande beleza e coragem sobre o amor, a morte, o sexo e a sobrevivência.

Escrito em resposta a Annie Ernaux e em conversa com Elena Ferrante, A Trilogia de Paris é composta por três planos semiautobiográficos da vida de uma mulher: Dezassete AnosDuas BurguesinhasA Ternura do Crawl.

Explorando questões sobre sexualidade, autonomia corporal, feminilidade, amizade e perda, esta é uma comovente meditação sobre a viagem de uma vida para resgatar o corpo feminino, aceitando-o com todas as suas falhas e aprendendo a celebrar a sua força.

Em Dezassete Anos, a romancista descobre que está grávida mal chega à idade dos primeiros amores e do final do secundário. Decide não ficar com a criança, mas o calvário do aborto transforma a rapariga despreocupada que era, obrigando-a a entrar na idade adulta.

Duas Burguesinhas conta o nascimento de uma amizade entre duas meninas de boas famílias que são parecidas, crescem juntas e seguem o mesmo caminho: casam, têm filhos, divorciam-se ao mesmo tempo, vivem histórias de amor semelhantes... até ao dia em que a morte bate à porta de uma delas.

Em A Ternura do Crawl, uma mulher conta a sua doce e dolorosa história de amor com Gabriel, um homem que lhe assegura a sinceridade dos seus sentimentos, mas cujo comportamento incerto faz pairar a dúvida sobre a solidez da relação."

Esta obra de Colombe Schneck é uma narrativa fragmentada, intensa e profundamente humana, onde a leveza da leitura contrasta com a densidade emocional e filosófica dos temas abordados.

Dividida em três partes que se entrelaçam como capítulos de uma mesma existência, a trilogia conduz-nos pelos recantos da vida contemporânea com um olhar ao mesmo tempo delicado e impiedoso. A autora mergulha nas grandes questões da experiência humana — o amor, a amizade, a maternidade, a perda, a doença, o envelhecimento — sem recorrer a artifícios narrativos, apenas com a força da palavra nua e da memória afetiva.

A escrita de Schneck é marcada por uma fluidez que convida à leitura rápida, quase impulsiva, mas a sua verdadeira força reside naquilo que nos obriga a parar e pensar. É um livro que, ao mesmo tempo que nos envolve na história, nos espelha — somos levados a refletir sobre o que fazemos com o nosso tempo, como construímos os nossos afetos e como lidamos com as inevitabilidades da vida.

A cidade de Paris, mais do que um cenário, é uma presença viva, quase uma personagem. Serve de pano de fundo aos dilemas íntimos da narradora e dos seus afetos, conferindo à narrativa uma dimensão urbana e contemporânea, mas também melancólica e contemplativa.

O texto não procura grandes revelações nem dramatizações excessivas. Ao invés, é no quotidiano, no detalhe aparentemente banal, que Schneck encontra o extraordinário. A autora sabe que a vida é feita de camadas, e é nelas que mergulha — sem medo, sem pudor e com uma honestidade rara. Gostei muito e recomendo vivamente!

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