Schneck, Colombe (2025). A Trilogia de Paris. Lisboa: Publicações Dom Quixote.
Esta obra de Colombe Schneck é
uma narrativa fragmentada, intensa e profundamente humana, onde a leveza da
leitura contrasta com a densidade emocional e filosófica dos temas abordados.
Dividida em três partes que se
entrelaçam como capítulos de uma mesma existência, a trilogia conduz-nos pelos
recantos da vida contemporânea com um olhar ao mesmo tempo delicado e
impiedoso. A autora mergulha nas grandes questões da experiência humana — o
amor, a amizade, a maternidade, a perda, a doença, o envelhecimento — sem
recorrer a artifícios narrativos, apenas com a força da palavra nua e da
memória afetiva.
A escrita de Schneck é marcada
por uma fluidez que convida à leitura rápida, quase impulsiva, mas a sua
verdadeira força reside naquilo que nos obriga a parar e pensar. É um livro
que, ao mesmo tempo que nos envolve na história, nos espelha — somos levados a
refletir sobre o que fazemos com o nosso tempo, como construímos os nossos
afetos e como lidamos com as inevitabilidades da vida.
A cidade de Paris, mais do que
um cenário, é uma presença viva, quase uma personagem. Serve de pano de fundo
aos dilemas íntimos da narradora e dos seus afetos, conferindo à narrativa uma
dimensão urbana e contemporânea, mas também melancólica e contemplativa.
O texto não procura grandes revelações nem dramatizações excessivas. Ao invés, é no quotidiano, no detalhe aparentemente banal, que Schneck encontra o extraordinário. A autora sabe que a vida é feita de camadas, e é nelas que mergulha — sem medo, sem pudor e com uma honestidade rara. Gostei muito e recomendo vivamente!
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