Tyce, Harriet (2020). Laranja de Sangue. Amadora: Topseller.
A vida de Alison parece perfeita. Tem um marido dedicado, uma filha adorável, uma carreira em ascensão como advogada e acaba de lhe ser atribuído o primeiro caso de homicídio. Só que Alison bebe. Demasiado. E tem vindo a negligenciar a família. Além de que esconde um caso amoroso quase obsessivo com um colega que gosta de ultrapassar os limites.
«Eu fi-lo. Matei-o. Devia estar presa.»
A cliente de Alison não nega ter esfaqueado o marido e quer declarar-se culpada. No entanto, há algo na sua história que não parece fazer sentido. Salvar esta mulher pode ser o primeiro passo para Alison se salvar a si própria.
«Estou de olho em ti. Sei o que andas a fazer.»
Mas alguém conhece os segredos de Alison. Alguém quer fazê-la pagar pelo que fez. E não irá parar até ela perder tudo o que tem.
Um thriller envolvente, com um final absolutamente inesperado e chocante, protagonizado por uma personagem muito empática."
Ao começar a leitura deste
livro, esperava encontrar um thriller jurídico centrado na investigação de um crime
— especialmente tendo como protagonista uma advogada especializada em
investigação criminal. No entanto, depressa percebi que o foco da narrativa não
está tanto no crime cometido por Madeleine Smith, mas sim na vida pessoal,
profissional e emocional de Alison, a advogada que a defende.
No entanto, reconheço que essa
opção da autora traz uma camada mais profunda ao livro. Harriet Tyce conduz-nos
por um percurso psicológico sombrio, onde o verdadeiro "crime" parece
ser emocional: os abusos, as manipulações e as relações tóxicas que se instalam
de forma quase invisível na sua vida quotidiana.
A forma como a autora
entrelaça a história pessoal de Alison com o caso de Madeleine funciona como um
espelho narrativo muito eficaz. Ambas as mulheres estão presas em relações
destrutivas, e o processo judicial torna-se simbólico — mais do que uma busca
pela verdade dos factos, é uma espécie de catalisador para que Alison confronte
a sua própria vida.
Gostei especialmente da metáfora sugerida no título: a laranja de sangue, que por fora parece normal, mas por dentro esconde algo denso, escuro e inesperado — tal como a vida da protagonista. A escrita é envolvente, e senti um crescendo de tensão emocional mais do que policial, o que acabou por me prender ao livro de uma forma diferente da esperada.
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