2084. O Fim do Mundo, Boualem Sansal

Sansal, Boualem (2016). 2084. O Fim do Mundo. Lisboa: Quatzal Editores.

Tradução: Ana Cristina Leonardo
N.º de páginas: 280
Início da leitura: 01/07/2025
Fim da leitura: 02/07/2025

**SINOPSE**
"Um romance-fábula aterrador, inspirado em 1984, de George Orwell, sobre o estabelecimento de uma ditadura religiosa de raiz muçulmana. Prémio da Academia Francesa. A globalização vai conduzir o Islamismo ao poder, por todo o mundo, dentro de 50 anos, a começar pela Europa - é a previsão do escritor argelino Boualem Sansal, em 2084, um romance-fábula, aterrador, inspirado em 1984, de George Orwell, sobre o estabelecimento de uma ditadura religiosa. Segundo Sansal - Grande Prémio da Francofonia da Academia Francesa, em 2013 -, os três totalitarismos imaginados por Orwell coincidiram na globalização financeira de hoje, que vai a breve prazo ser tomada pelo Islamismo. É a primeira vez que afirmações desta dimensão são proferidas por um autor de educação muçulmana, que vive na Argélia. O Abistão, imenso império, deriva do nome do profeta Abi, «representante» e «delegado» de Yölah, na Terra. O seu sistema de vida baseia-se na amnésia - e na submissão a um deus único, cruel e todo-poderoso. Qualquer pensamento pessoal é banido; um sistema de vigilância omnipresente permite às autoridades conhecer as ideias e os «atos desviantes».
Oficialmente, o povo vive na maior das felicidades, proporcionada por uma fé religiosa inquestionável.
A personagem central, Ati, questiona as certezas impostas pelos dirigentes políticos e imãs, lançando-se, então, numa investigação para descobrir um povo suspeito, renegado, que vive em guetos desconhecidos, ao arrepio do poder das autoridades religiosas.
Boualem Sansal constrói uma distopia violenta e macabra, que se filia diretamente em George Orwell e no seu 1984, para abordar o poder, o alcance e a hipocrisia do radicalismo religioso muçulmano que ameaça as nossas democracias."

Este romance, publicado em 2015, posiciona-se claramente como uma homenagem e atualização do clássico 1984 de George Orwell. Boualem Sansal, escritor argelino conhecido pela sua crítica a regimes autoritários e ao fundamentalismo religioso, constrói um universo distópico fortemente inspirado na realidade contemporânea, sobretudo nas teocracias totalitárias e no extremismo religioso.

A história decorre em Abistan, um império fictício governado por uma teocracia absoluta, onde tudo gira em torno da adoração cega de Yölah e do seu profeta Abi. Tal como em 1984, a vigilância constante, o controlo total da linguagem e o esmagamento do pensamento individual estão no centro do enredo.

Como pontos positivos, saliento a atualidade temática, com questões relevantes como o perigo do extremismo religioso, da submissão coletiva e da negação da liberdade.

Considero, porém, alguns pontos menos positivos, como uma construção pouco elaborada das personagens e do enredo, o excesso de momentos expositivos e a falta de consistência deste universo de Abistan e alguma tendência à repetição de ideias.

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