Dou comigo a decifrar minh'alma,
seguindo das palavras a pista oculta .
Algumas fazem-me perder a calma,
outras, dão-me paz, ainda que não absoluta.
Algumas reveladoras, outras disfarçadas.
Às vezes ponho-as na minha mão,
observo-as, como conchas fechadas,
tentando libertá-las da opressão.
Mas já me fogem, lânguidas, inatingíveis...
Corro em seu encalço, mas já exausta...
deito-me nelas, nas mais sensíveis,
nas que me acolhem com sua voz cauta.
Descanso então das canseiras diárias,
e invadem-me palavras, maliciosas,
torturantes e revolucionárias,
angustiantes, duras, pretensiosas.
Revolto-me em debates interiores,
afirmo, convicta, meus argumentos
Mas, perante elas em terrores,
perco a luta em todos os momentos.
Cansada acordo, cansada me deito,
perseguida por elas, falsa quimera.
Mas é nelas que sonho e me deleito,
com elas liberto-me do que me aterra,
com elas extravaso o que me vai no peito.
Célia Gil
Célia Gil