Alexievich, Svetlana (2016). Vozes de Chernobyl, História de um desastre nuclear. Lisboa: Elsinore.
Tradução: Galina Mitrakhovich
Nº de páginas:
336
Início da
leitura: 10/07/2022
Fim da leitura:
12/07/2022
**SINOPSE**
Vozes
de Chernobyl é a mais aclamada obra de Svetlana Alexievich, Prémio Nobel de
Literatura 2015, tida como o seu trabalho mais duro e impactante.
A
26 de abril de 1986, Chernobyl foi palco do pior desastre nuclear de sempre. As
autoridades soviéticas esconderam a gravidade dos factos da população e da
comunidade internacional, e tentaram controlar os danos enviando milhares de
homens mal equipados e impreparados para o vórtice radioativo em que se
transformara a região. O acidente acabou por contaminar quase três quartos da
Europa.
Numa
prosa pungente e desarmante, Svetlana Alexievich dá voz a centenas de pessoas
que viveram a tragédia: desde cidadãos comuns, bombeiros e médicos, que
sentiram na pele as violentas consequências do desastre, até as forças do
regime soviético que tentaram esconder o ocorrido. Os testemunhos, resultantes
de mais de 500 entrevistas realizadas pela autora, são apresentados através de
monólogos tecidos entre si com notável sensibilidade, apesar da disparidade e
dos fortes contrastes que separam estas vozes.
Prefácio de Paulo Moura e tradução de Galina Mitrakhovich.
Um
livro muito bom, pelo facto de a autora reunir testemunhas da tragédia do
acidente de Chernobyl. Ler estes testemunhos é escutar profundos gritos de dor,
de agonia, de revolta, de resignação e de uma presença constante da morte – das
plantas, dos animais, dos homens – um definhar muitas vezes progressivo, até um
estado vegetativo, provocado, mais uma vez, pela ambição humana. O homem
destrói-se pela sua própria ganância. Foi tudo realmente muito mau, desde a construção
das centrais, demasiado rápida, sem se pensar bem, sem se usarem os materiais
adequados, porque quanto mais rápido melhor! Que interessava se todos iam
acabar por sofrer? O bater de asas que eleva o homem pode o mesmo que o destrói,
reduzido a cinzas.
Todas
estas “vozes” marcam a história da Ucrânia e da Bielorrússia, sim, que nas
centrais de Chernobyl trabalharam pessoas dos dois países, sofreram ambos
perdas muito dolorosas e significativas. Foi realmente a “guerra nuclear”, a
uma escala ainda maior que Hiroxima. Uma guerra que matou milhares de pessoas e
que deixou muita gente sem lar, uma vez que tiveram de abandonar as suas casas,
primeiro até Pripyat e, depois, até um raio de 30 Kms à volta das centrais.
Eram refugiados que ninguém queria acolher, pela radioatividade que levavam com
eles, pelas doenças e deformidades que carregavam e todos temiam o contágio.
Nem mesmo as famílias…. Tinham os filhos, não queriam que eles ficassem
doentes. Na escola, ninguém queria ficar ao lado deles…pelo medo do contágio.
Casar com uma pessoa de Pripyat? Que poderia não poder ter filhos ou ter filhos
com falta de um órgão ou outras deformidades? Não foi fácil. Nunca é fácil. É
duro e também não é fácil julgar o que passava pela mente dos que não acolhiam,
o medo, o pânico, o terror.
Tanta
falta de informação, desde o início. Os trabalhadores das centrais nucleares
não sabiam nem metade do que lhes poderia acontecer. Era preferível mantê-los
na ignorância…
É muito duro ler este livro, dei por mim, por muitas vezes, comovida, revoltada, mas é essencial lê-lo. Temos de saber até onde o homem já foi, para evitar decisões tão erradas como estas.
0 Comentarios