Fome, Knut Hamsun

Hamsun, Knut. Fome. Lisboa: Cavalo de Ferro, 2008.

Tradução: Liliete Martins

Nº de páginas: 190 

Início da leitura: 01-02- 2023

Fim da leitura: 04-02- 2023

**SINOPSE**

Os delírios solitários e as tortuosas reflexões de um jovem escritor, errando através das ruas da cidade de Kristiania, a atual Oslo, acompanhado pela sua inexorável antagonista, a fome. Um romance marcante, considerado o início da grande literatura do século xx, que antecipou e influenciou a obra de nomes como Franz Kafka, Albert Camus ou John Fante.


Há livros em que entramos imediatamente na história. Neste caso, é o livro que entra em nós, de forma visceral, nos suga as forças, nos perturba, nos faz perceber que o que nos parece um grande problema, é, afinal de contas, tão pequeno comparativamente ao que nos é narrado nesta história. 
Publicado em 1890, este livro terá influenciado grandes escritores, revelando-se um marco na literatura do século XX: Franz Kafka, Thomas Mann, Hermann Hesse, Henry Miller, Ernest Hemingway, Bertolt Brecht, André Breton, H. G. Wells, Stefan Zweig, Charles Bukowski, entre outros.
Numa linguagem simples, sem artifícios, é-nos contada uma história muito complexa, a de um suposto jornalista, que vai sobrevivendo com a publicação de alguns textos em jornais (quando são aceites, o que se vai tornando cada vez mais raro). Este homem, vai morrendo aos poucos, primeiro porque se esquece de comer; depois, porque não tem o que comer. Sempre que se vê com algum dinheiro no bolso, tenta ajudar quem precisa. Porém, aos poucos, vai-se deparando com a dificuldade em manter o que sempre prezou: a sua honestidade. E penso que é a consciência de estar a agir mal, de não se reconhecer em determinadas atitudes, que o faz sentir-se humilhado e no limiar da loucura e da morte. 
Há um crescendo de intensidade, à medida que a fome também vai dominando o protagonista, operando nele um esboço cadavérico que nem ele próprio reconhece.
Uma história perturbadora, que, se tivesse lido, sem saber a data em que foi escrita, julgaria mais atual, porque intemporal.
Ainda bem que li o livro antes de ler a biografia do autor, pois acredito que o facto de este se ter aliado a Hitler durante a ocupação nazi à Noruega na Segunda Guerra Mundial poderia ter-me provocado alguma repulsa. Afinal, grande ironia, o autor que sabe o que é a fome e nos fala dela da forma intensa como o faz neste seu livro, acabar por, ele próprio, ter-se aliado a alguém que tanta gente deixou morrer à fome...
Independentemente das suas escolhas políticas, tenho de admitir que este é um livro fantástico e que vale a pena ser lido.

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