Limpa, Alia Trabucco Zerán

Zerán, Alia Trabucco (2023). Limpa. Lisboa: Elsinore.


Tradução: Isabel Pettermann

Nº de páginas: 248

Início da leitura: 08/05/2023

Fim da leitura: 09/05/2023


**SINOPSE**

"Vinda do campo para a capital do país, Estela García encontra trabalho junto do abastado casal Jansen como criada de quarto e ama da sua filha recém-nascida, Julia, a mesma que educará e verá crescer. Serão sete anos divididos entre tarefas domésticas invisíveis e repetitivas e a falsa intimidade que estas proporcionam. Entre solidão, afetos, conflitos e segredos, Estela encontrará o seu lugar no seio da família. Porém, quando a tragédia irrompe na vida dos Jansen e Julia aparece morta, os ódios de classe expressam-se sob a forma de preconceitos sociais enraizados.

Um romance fulgurante sobre os conflitos de classe e a intimidade do trabalho doméstico por uma das vozes mais promissoras da literatura sul-americana."

A escritora prende-nos imediatamente à narrativa, através de uma narradora que se vai dirigindo ao leitor e explicando que todos os pormenores da história são importantes. E, com efeito, todos os momentos, mesmo parecendo à partida insignificantes, têm interesse para a progressão da história.

Estela veio do sul, onde vivia num contexto de pobreza, para trabalhar como empregada de limpeza em casa de um casal de posses, de Santiago do Chile. Instalada num quarto contíguo à cozinha, Estela não passa da empregada, sendo apenas quem limpa e cuida da filha. Não existe enquanto ser humano. Refere que, quando começou a trabalhar, pensou que seria até arranjar algo melhor. Mas, ao cabo de sete anos, continua a trabalhar para o casal, como empregada de limpeza e ama da filha do casal, Julia. Esta é uma criança muito inteligente e os pais são extremamente exigentes com ela (uma vez que vivem de aparências), que tem de ser a melhor em tudo, nem que para isso, deixe de ter tempo para ser apenas criança. Penso que a alteração de uma " suposta paz" que reinava na família (digamos que uma família pouco convencional, com os seus desequilíbrios e um pai extremamente calculista e frio), vem com a descoberta de que Estela recebe nesta casa um cão, pelo qual começa a nutrir um grande afeto. 

Regista-se até ao fim um clima de grande tensão, o medo de Estela em fazer algo errado, o ressentimento, a crescente raiva, a injustiça, a desigualdade social... E quantas mulheres não vivem nesta situação? Sem que sintam a sua dedicação, sem que a sintam como fundamental,  como uma pessoa não descartável, como um ser humano e não um capacho...

Recomendo a leitura!


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