Os Segredos de Juvenal Papisco, Bruno Paixão

Paixão, Bruno (2023). Os Segredos de Juvenal Papisco. Porto: Porto Editora.

Nº de páginas: 272
Início da leitura: 10/05/2023
Fim da leitura: 13/05/2023

**SINOPSE**
"Orão é um lugar de sangue quente, cheio de superstições, habitado por personagens memoráveis como a benzedeira Xêpa Alma, o corrupto alcaide Heitor Raimundo ou o diligente boticário Zaqueu Soeiro. Destaca-se, entre eles, Juvenal Papisco, um padre de temperamento espontâneo e cru que sucumbe sem pudor aos prazeres e às imperfeições e que não suporta as injustiças que se perpetuam em Orão, avivadas pelo predomínio dos senhores de sempre.
Quando o jornal clandestino A Trama acusa Ismael Macho de andar metido com a mulher de outro, todos temem uma desgraça, e Ismael acaba mesmo por morrer durante a procissão da Virgem Santíssima, em circunstâncias estranhas. Todos as suspeitas recaem sobre o marido enganado, mas este nem à força de porrada admite a autoria do crime, para desespero do coronel Moniz.
Os segredos de Juvenal Papisco é um romance de estreia memorável, que com uma fina ironia e um apurado sentido caricatural se apresenta como uma metáfora social, expondo a traição, a urdidura política, as fraquezas da justiça, o espaço conjugal como campo de sonhos e de utopias e as mezinhas respondendo ao que a medicina não pode."
Este livro surpreendeu-me pela positiva. Bruno Paixão escreve de forma bastante literária, uma história passada no séc. XIX, num lugar imaginado da América do Sul, um tributo ao realismo mágico.
O protagonista desta obra é Juvenal Papisco, que nos cativa e nos repudia em igual medida, porque tanto é capaz de manifestar o seu lado bom, justo e humano, como é capaz de atos de grande crueldade. Apesar de a história se passar num local imaginado pelo autor, sem ser Portugal, há determinados pormenores que somos todos (os mais velhos) capazes de reconhecer em aldeias portuguesas: as crendices, as mezinhas, o abafador (que me fez lembrar o "Alma Grande" de Miguel Torga), a benzedeira, o médico, o barbeiro, as questões de ordem política, as falcatruas...
Um romance envolvente, muito bem escrito, muito bem pensado e que recomendo vivamente. Não foi à toa que esta obra, romance de estreia do autor, venceu o Prémio Literário Luís Miguel Rocha 2019.

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