Ridzén, Lisa (2025). Quando as Aves Voam para Sul. Lisboa: Suma das Letras.
Tradução: João ReisN.º de páginas: 352
Início da leitura: 22/12/2025
Fim da leitura: 23/12/2025
**SINOPSE**
"Bo vive uma vida tranquila no norte da Suécia, rodeado pelas suas memórias, telefonemas com o amigo Ture e a companhia fiel do seu cão Sixten. Mas a velhice chega com perdas — de autonomia, de espaço, de voz — e o seu filho, com quem sempre teve uma relação difícil, quer agora levar-lhe tudo o que lhe resta: o cão.
Na iminência de perder Sixten, Bo sente-se obrigado a resistir. É nesse confronto que emergem os silêncios de uma vida inteira, os amores mal expressos e a urgência de se reconciliar com o que — e quem — realmente importa.
Terno e lúcido, Quando as Aves Voam para Sul é um romance comovente sobre envelhecer, lutar por dignidade e encontrar palavras para o que nunca se soube dizer."
Gostei muito deste livro. Quando as Aves Voam para Sul, de Lisa Ridzén, é um romance de uma delicadeza comovente que aborda a velhice não como um acontecimento súbito, mas como um inverno que se aproxima em silêncio, retirando lentamente aquilo que julgávamos como adquirido. A narrativa acompanha Bo, um homem idoso que vive no norte da Suécia, num quotidiano feito de rotinas simples, memórias persistentes, telefonemas com o amigo Ture e da presença insubstituível do cão Sixten. É nesse espaço íntimo e contido que o romance constrói a sua força: na atenção ao detalhe, na escuta do que se perde antes mesmo de ser nomeado, na dignidade silenciosa de quem continua a amar apesar de tudo.
A leitura é, inevitavelmente, triste e dolorosa. Ridzén escreve sobre a perda de autonomia, de lugar no mundo e, sobretudo, de voz, essa forma subtil de desaparecimento que tantas vezes antecede o fim. A relação difícil entre Bo e o filho intensifica este sentimento de expropriação: quando este decide que o pai já não pode cuidar do cão, ameaça retirar-lhe o último vínculo afetivo que ainda lhe dá sentido aos dias. A iminente separação de Sixten não é apenas um conflito narrativo; é o símbolo maior daquilo que a velhice impõe sem pedir consentimento. Ainda assim, o romance recusa o melodrama fácil. A resistência de Bo é discreta, quase frágil, mas profundamente humana, e é nela que reside a coragem de envelhecer com dignidade.
Distinguido com o Prémio de Melhor Livro do Ano na Suécia, Quando as Aves Voam para Sul confirma-se como um romance comovente sobre o amor e a perda, mas também sobre a persistência dos afetos quando tudo o resto ameaça desaparecer. Lisa Ridzén escreve com contenção e empatia, oferecendo ao leitor uma experiência de leitura que dói, mas que permanece. Gostar deste livro é aceitar a sua tristeza, reconhecer-se na sua verdade e compreender que, no inverno da vida, aquilo que mais importa são, muitas vezes, as pequenas coisas que nos ligam uns aos outros, antes que as aves partam para sul.


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