Tavares, Gonçalo M (2014). Uma menina está perdida no seu século à procura do pai. Porto: Porto Editora.
N.º de páginas:200Início da leitura: 18/12/2025
Fim da letura: 19/20/2025
**SINOPSE**
Hanna e Marius, Berlim, Século XX.
Marius encontra uma menina perdida à procura do pai. Hanna, rapariga, cabelos castanhos, olhos pretos, catorze anos. Hanna fala com dificuldades, entende mal o que lhe acontece, não percebe o raciocínio dos outros. Está perdida.
Marius está com pressa mas muda o seu percurso, acompanha-a.
A sua busca leva-os até Berlim, a um hotel com corredores que lembram fantasmas da guerra — e os dois circulam entre as obsessões e os escombros do seu século.
"- E vocês? De onde vêm?
Tentei explicar-lhe que não era um homem falador. Gosto de ouvir, disse-lhe, não tenho muito para dizer.
Ele perguntou, virado para Hanna:
- Como te chamas?
Hanna respondeu. Ele não percebeu. Hanna repetiu, ele continuou sem perceber. Eu repeti:
- Chama-se Hanna.
- Hanna - disse Fried. - Bom.
- Que idade tens?
- Catorze - respondeu, e agora percebeu-se.
Fried sorriu para ela, simpaticamente. Ela disse:
- Olhos: pretos. Cabelo: castanho.
Eu disse: - Ela aprendeu assim.
Depois ela disse:
- Estou à procura do meu pai.
Fried sorriu, não disse nada."
"Uma Menina Está Perdida no Seu Século à Procura do Pai, de Gonçalo M. Tavares, apresenta uma premissa que, à partida, desperta curiosidade e promete um percurso emocional e simbólico forte: a procura do pai como metáfora de identidade, pertença e reconstrução num mundo ferido. No entanto, apesar do potencial da ideia central, a forma como é desenvolvida cria distanciamento no leitor, sobretudo para quem não se revê na escrita fragmentária e conceptual do autor. A narrativa dispersa-se em histórias paralelas que surgem frequentemente de modo desgarrado, mais próximas de exercícios filosóficos do que de um enredo coeso, o que enfraquece o envolvimento emocional e a progressão da história principal. O contexto remete claramente para um pós-Segunda Guerra Mundial reconhecível, mas a realidade apresentada afasta-se da reconstrução histórica expectável, optando antes por um universo alegórico e artificial, quase abstrato. Essa escolha estilística, embora intencional e coerente com o projeto literário de Tavares, pode gerar frustração em leitores que esperavam maior aprofundamento psicológico das personagens ou um desenvolvimento narrativo mais linear. Assim, o livro revela-se mais estimulante a nível intelectual do que narrativo, funcionando melhor como reflexão do que como romance no sentido tradicional."
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