As Sementes do Céu, Mia Couto

Couto, Mia (2025). As Sementes do Céu. Alfragide: Editorial Caminho. 

Ilustração: Susa Monteiro
N.º de páginas: 40
Início e fim da leitura: 18/12/2025

**SINOPSE**
"«Um dia, o avô espreitou pela janela e contemplou as montanhas. Deu um passo atrás, com as mãos no peito, como se lhe faltasse o ar. Apontou para o topo dos montes, lá onde vivia uma imensa floresta. Agora, restava apenas areia e pedra. Tinham cortado as árvores todas.»

Um conto de grande atualidade, narrado com sensibilidade e poesia, que brota do silêncio e da espera pelo momento certo de nascer. Uma história que convida à reflexão sobre a preservação do meio ambiente e ao diálogo entre gerações, assinada por uma dupla de autores de reconhecida qualidade literária e artística, que aqui se reúne pela primeira vez num álbum ilustrado."
As Sementes do Céu, de Mia Couto, é um livro breve, mas profundamente sugestivo, que confirma a capacidade do autor de dizer muito com poucas palavras. Trata-se de uma obra que pode ser lida por leitores mais jovens, mas que revela camadas de significado especialmente ricas para o público adulto, convidando à reflexão sobre a relação entre o ser humano, a natureza e a memória.
A narrativa constrói-se a partir do olhar de uma criança e da sua ligação ao avô, numa relação marcada pela escuta, pela transmissão de saberes e pela contemplação do mundo. É nesse diálogo intergeracional que o livro encontra o seu centro emocional. A paisagem, caracterizada pela ausência de árvores e pela degradação ambiental, transforma-se num poderoso símbolo de perda, mas também de possibilidade de regeneração. As “sementes” do título representam não apenas a esperança num futuro mais equilibrado, mas também as histórias, os valores e os gestos que passam de geração em geração.
Mesmo num registo mais contido e aparentemente simples, Mia Couto não abdica da sua linguagem poética e metafórica. As frases são cuidadosamente trabalhadas, com um ritmo próprio e uma musicalidade que convida a uma leitura pausada. Não é um livro de ação ou de acontecimentos rápidos; é, antes, uma obra de contemplação, em que o silêncio e o não dito têm tanto peso quanto as palavras.
A brevidade do texto pode deixar alguns leitores com vontade de uma maior exploração das personagens ou dos temas, mas essa concisão parece ser uma escolha deliberada. Aconselho.

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