Coração Tão Branco, Javier Marías

Marías, Javier (2014). Coração Tão Branco. Lisboa: Editorial Alfaguara.

Tradução: Fátima Alice Rocha

Nº de páginas: 344

Início da leitura: 16/09/2022

Fim da leitura: 17/09/2022

**SINOPSE**

“Durante um almoço de família, Teresa, acabada de regressar de lua-de-mel, vai à casa de banho, olha-se ao espelho, desabotoa a blusa e mata-se com um tiro no coração. Muitos anos depois, este segredo continua a fascinar Juan, cujo pai foi casado com Teresa antes de casar com a sua mãe. Jovem e recém-casado, e ainda pouco adaptado à mudança de estado civil, Juan procura descobrir o motivo por trás do suicídio de Teresa. Só uma pessoa sabe porque Teresa o fez e guardou para si esse segredo obscuro durante muitos anos. À medida que procura saber mais, Juan sentirá um mal-estar crescente, uma sensação de «desastre iminente» em relação ao seu próprio casamento.

Coração tão Branco, profusamente premiado e unanimemente aclamado pela crítica espanhola e internacional, é já um clássico da literatura contemporânea.”

Ainda não conhecia a escrita do autor e comecei por este, por um lado pelos prémios que obteve com ele (Prémio da Crítica; Prix l'Oeil et la Letre; IMPAC Dublin Literary Award) e, por outro, pelo título.

E lerei com toda a certeza, outros títulos do autor, pois adorei. Prende-nos à leitura pela forma escrita, onde fluem pensamentos e memórias como numa conversa entre amigos. Consegue captar a mente humana, o que está por detrás de cada gesto, de cada atitude, de uma forma intensa e, ao mesmo tempo, tão verosímil, que nos envolve na narrativa, qual peixe numa rede em águas turvas. Porque turvas são as mentes humanas, porque insondáveis são as razões por detrás de alguns comportamentos, porque inexplicáveis são os sentimentos e a forma como cada um se entrega aos amores e ao que os motiva.

Tudo começa com uma jovem que, ao regressar da sua viagem de núpcias, entra na casa de banho e se mata com um tiro no coração. A que se terá devido esta atitude por parte de uma mulher recém-casada, supostamente a viver um momento feliz na sua vida? Terá sido mesmo suicídio?

E de que forma este acontecimento está relacionado com os protagonistas desta história, Juan e Luísa, também eles recém-casados e vindos da sua viagem de núpcias, onde a “mudança de estado se começou a operar”, deixando-os imersos em dúvidas relativamente a um futuro abstrato que talvez nem exista.

É minuciosa a análise dos sentimentos humanos. A título de exemplo, a reflexão sobre o próprio casamento:

“…duas pessoas que estavam habituadas a estar cada uma por sua conta e de estar cada uma em seu lugar, de acordarem sozinhas e, amiúde, também de se deitarem sozinhas, encontram-se de repente artificialmente unidas no seu sono e no seu despertar e nos seus passos pelas ruas…”

Desde o início do casamento, que Juan começou a ser acometido por pressentimentos catastróficos…

Um livro que angustia, porque acompanhamos estes pressentimentos e ficamos estarrecidos com o final.

Recomendo vivamente a leitura.

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