Os Abismos, Pilar Quintana

Quintana, Pilar (2022). Os Abismos. Alfragide: Publicações Dom Quixote.

Tradução: Pedro Rapoula

Nº de páginas: 200

Início da leitura: 07/09/2022

Fim da leitura: 09/09/2022

**SINOPSE**

Claudia tem nove anos e é filha única. A sua vida gira à volta da mãe homónima, já que o pai - com idade para ser seu avô - passa os dias no supermercado que gere com a irmã, casada às escondidas com um tipo muito mais novo. Quando, porém, uma centelha de aventura parece disparar entre este rapaz e a jovem mãe de Claudia, a crise familiar instala-se abruptamente e mergulha a Claudia adulta numa depressão profunda, durante a qual se mete na cama a ler revistas, comentando com a filha como as mortes de Grace Kelly e Natalie Wood não podem ter sido senão suicídios. E, quanto mais a pequena Claudia precisa de esperança, mais a mãe lhe cria temores que a empurram para o abismo, donde nem as bonecas regressam.

Tomando como cenário um mundo em que as mulheres não conseguem escapar a casamentos impostos e prisões domésticas, esta é a história inquietante de como uma criança assume as revelações da mãe e os silêncios do pai para construir o seu próprio mundo, sem saber que, apesar de continuarem todos juntos, a família já ruiu há uma eternidade.

Depois do sucesso internacional de A Cadela, publicado nesta mesma coleção, a escritora colombiana Pilar Quintana consolida com Os Abismos - vencedor do Prémio Alfaguara de Romance de 2021 - o lugar de destaque que conquistou nas letras hispano-americanas.

Já tinha lido e adorado um outro romance da autora colombiana, A Cadela, e este também não defraudou as minhas expetativas.

Este é um livro que incomoda, porque retrata a vida de tantas crianças, que (sobre)vivem e crescem no meio de várias crises familiares. Sei que não é fácil ser mãe, que o livro retrata também esse aspeto, mas, na minha opinião, quem tem filhos, tem necessariamente de cuidar deles e não deixar que vivam como se não existissem, numa relação familiar há muito disfuncional.

Claudia tem o nome da mãe e 8 anos quando se inicia a narrativa. É a narradora da história. Acredita que sempre foi feia, não tendo saído à mãe, que descreve como sendo muito bela. É uma criança com grande imaginação e conta que se referiam ao apartamento onde viviam como “a selva”, por estar repleto de plantas, chamando a si a luz do sol, o vento fresco e os pássaros. Era nessa “selva” que Claudia corria e fechava os olhos para as ouvir. Mas, do segundo piso, parecia-lhe “a beira de um precipício, e os degraus uma encosta escarpada”.

A mãe ficava o tempo todo em casa e, quando ia buscar a filha ao colégio, pouco lhe ligava. Normalmente, Claudia “encontrava-a na cama com uma revista (…). Lia sobre a vida das mulheres famosas (…)”. E, enquanto Claudia almoçava ou via a Rua Sésamo, a mãe “passava as páginas”. E é neste ambiente que Claudia cresce, sempre muito preocupada com a mãe, mas percebendo que a vida tem “abismos” incontornáveis.

Temas como a maternidade, a depressão, o suicídio, as relações conjugais e a traição são aqui relatados tal como são filtrados pelos olhos de uma criança.

Um livro pequeno, mas muito bem conseguido. Aconselho!

0 Comentarios