Murakami, Haruki (2021). Primeira Pessoa do Singular. Alfragide: Casa das Letras.
Tradução: Inês
Rocha Silva e Maria João Lourenço
Nº de páginas: 176
Início da
leitura: 23/09/2022
Fim
da leitura: 24/09/2022
**SINOPSE**
Amores de adolescência evocados com serena nostalgia,
jovens vistas apenas pelo canto do olho, críticas sobre discos de jazz
desconhecidos, um poeta amante de basebol, um macaco que trabalha como
massagista nas termas e que fala como gente grande, um velhote que disserta com
ar de entendido sobre um círculo com vários centros.
As personagens e as cenas deste aguardado livro de contos contribuem para levar
o leitor a repensar os limites entre a imaginação e o mundo real. E
devolvem-nos, intactos, os amores perdidos, as relações desfeitas e a solidão,
a adolescência, os reencontros e, sobretudo, a evocação do amor, porque ainda
que a «paixão se desvaneça, que não seja correspondida, podemos sempre
agarrar-nos às recordações de ter amado alguém, de nos termos apaixonado e sido
correspondidos», garante o narrador. Um narrador na primeira pessoa que, por
vezes, poderia muito bem ser o próprio Murakami.
Estamos diante de um livro de memórias, de relatos com pinceladas
autobiográficas ou de um livro exclusivamente de ficção? Como sempre, o
trabalho de Murakami raras vezes encaixa numa categoria única e singular. Terá
de ser o leitor a decidir.
Esta é uma coletânea de 8 contos de Murakami,
reunidos num livro de memórias, onde conjuga acontecimentos da sua
autobiografia com ficção, nos quais
evoca amores da adolescência, correspondidos e não correspondidos, nem sempre
bem sucedidos, quase sempre fortuitos; a solidão, a perda e os reencontros; os discos
e cantores, especialmente de jazz, que marcaram as suas preferências e que eram
pouco conhecidos dos restantes jovens da sua adolescência; os jogos de basebol
a que assistia, de equipas sediadas perto da sua zona de residência, cujos
jogos assistia, não por ser um fanático do jogo, mas pela qualidade desse tempo
que se dava a si mesmo para ver os jogos, acompanhado de uma cerveja preta, ou,
simplesmente, acontecimentos estranhos, como o macaco que falava e que era
massagista numas termas que ele frequentou, chegando a referir que “há a
impressão de que o real e o irreal haviam trocado arbitrariamente de posição”,
sempre com a nostalgia que advém da passagem inexorável do tempo e na “Primeira
pessoa do singular”.
A escrita pouco previsível, que torna
ténue as fronteiras entre a ficção e a realidade, muitas vezes a roçar o absurdo,
em cenários tão reais quanto oníricos. Aconselho!
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