Os Vampiros, Filipe Melo e Juan Cavia

Melo, Filipe (2021). Os Vampiros. Lisboa: Companhia das Letras.

Nº de páginas: 248
Início da leitura: 06/02/2024
Fim da leitura: 08/02/2024

**SINOPSE**
"Neste livro, Filipe Melo e Juan Cavia - a dupla multipremiada por Balada para Sophie ou Comer / Beber - entrega-se a um tema controverso: a guerra colonial portuguesa.

Em 1972, na Guiné-Bissau, um grupo de comandos portugueses avança no mato com a missão de localizar uma base secreta no Senegal. Pelo caminho, à medida que vão perdendo os alicerces da sua própria humanidade, estes soldados enfrentam uma ameaça muito pior do que poderiam imaginar."
Sou absolutamente fã desta dupla: Filipe Melo e Juan Cavia. Conseguem aliar escrita e ilustração de uma forma que nos vicia. É impressionante!

A partir da citação inicial "É a guerra aquele monstro que se sustenta das fazendas, do sangue, das vidas, e quanto mais come mais consome, tanto menos se farta. (Padre António Vieira)". Assim é, com efeito, a guerra. Quem está certo? Quem está errado? De que lado está a verdade? Se todos matam, se todos podem morrer. E quanto mais se mata, mais vontade tem de se matar e quanto mais morrem os que são mais próximos, maior é a vontade de abater o inimigo. Mas quem é inimigo de quem?
A segunda citação é de Herman Melville (em Moby Dick) e diz que "A loucura humana é a coisa mais matreira e felina que existe. Quando pensamos que desapareceu, pode apenas ter-se transfigurado numa forma ainda mais subtil." Realmente, a loucura está lá, sempre, do início ao fim e a guerra alimenta-a constantemente. Até que ponto o que está do nosso lado está verdadeiramente do nosso lado? Terá a sanidade mental para ver o outro como seu aliado, mesmo em situações de crise?
Por fim, a última citação, que penso terá servido de inspiração ao título do livro, é do grande Zeca Afonso (em Os Vampiros) e diz que "No céu cinzento, sob o astro mudo, batendo as asas, pela noite calada, vêm em bandos, com pés de veludo, chupar o sangue fresco da manada. Eles comem tudo, eles comem tudo, eles comem tudo e não deixam nada." E na guerra, neste caso na guerra colonial portuguesa, em 1972, na Guiné-Bissau, quem serão os vampiros? Os turras, os portugueses? Pensem nisso, acompanhados destas ilustrações tão expressivas!
A banda desenhada tem o poder de conciliar texto e imagem, de tal forma que conseguimos ver e mais facilmente sentir o medo, a dor, a saudade, o arrependimento, o hábito, a vontade de matar e muito muito mais. Leiam que não se arrependerão. Uma obra que não se esquece!

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