Rugas, Paco Roca

Roca, Paco (2022). Rugas. Lisboa: Levoir.

Tradução: Joana Neves (adaptação)

Nº de páginas: 112

Início da leitura: 02/02/2024

Fim da leitura: 04/02/2024

** SINOPSE**

Rugas conta a história de Emilio, um antigo bancário de 72 anos, que quando começa a demonstrar os primeiros sinais de Ahlzeimer, começa a confundir a casa com a sucursal do banco onde trabalhou e a sua família com os clientes. Estes vêm-se na necessidade de o colocar num lar de idosos. Ali faz amizade com outros residentes, cada um com o seu passado e história que parece já não interessar a ninguém. Miguel um dos residentes é quem lhe dá a conhecer o lar, solteiro, sem filhos não se preocupa que ninguém o visite para não cair na deceção dos restantes idosos.

Através da rotina do lar, é-nos dado a conhecer os outros personagens. Roca decide escrever Rugas, porque um dia ao desenhar um casal de idosos num anúncio publicitário, a agência que tinha pedido o trabalho lhe pede que os elimine porque os considerava antiestéticos. Explicaram-lhe que ninguém quer ver velhos. É então que o autor se dá conta de uma tremenda verdade: se a publicidade, que é o reflexo da sociedade vira as costas à velhice é porque o resto da sociedade também o faz.

Para se vingar faz uma novela gráfica repleta de anciãos. Assim nasce Rugas, que em 2008 recebeu o Prémio Nacional do Comic e o Gran Guinigi Festival Lucca, em 2012 o Excellence Award Japan Media Art Festival e em 2018 foi Nomeada Melhor Edição Internacional Eisner Awards, entre outros.

Jiro Taniguchi refere-se deste modo à obra de Paco Roca. «Fiquei surpreendido com Paco Roca pela valentia e a sua técnica para abordar temas difíceis como a demência senil e a vida nos lares. Rugas é uma grande obra que se manifesta no poder que a arte do comic tem».


Pouco posso acrescentar ao que nos é apresentado na sinopse. É um livro magnífico, maravilhosamente ilustrado, muito bem escrita e que toca em temáticas que, por norma, tendemos a evitar, porque nos doem. 
É triste quando os filhos se querem, literalmente, "livrar dos pais". Uma coisa é ter de ir para um Lar de Idosos, porque os filhos não conseguem cuidar dos pais, por terem eles próprios problemas que os impedem de cuidar deles ou porque trabalham e consideram que o facto de os deixarem sozinhos em casa o dia todo não é a melhor solução e pode tornar-se perigoso. E, afinal, quem somos nós para questionar as decisões de quem quer que seja? Mas este livro toca noutro ponto sensível, no abandono a que os idosos são votados. Afinal, não haverá um tempinho em alguma hora da semana para, pelo menos, os visitar?
Sempre me chocaram certas realidades nos lares: as horários para tudo, o terem de ficar sentados numa "sala de convívio" horas infindas e, neste livro, a espera interminável, por que uma assistente os deite. É uma vida sem vida, é uma rotina sem opção de escolha. E são tantas as histórias que cada vida ali prostrada nos conta! E, pior, quando não se é verdadeiramente idoso, mas se tem uma doença como o Alzheimer, capaz de os remeter para o piso dos "imprestáveis", os dementes. 
Mas o que verdadeiramente me tocou neste livro foi o poder da amizade, amizade esta que também se pode fazer num Lar. Não deixem de ler este livro. É cru, é duro, mas é, também, perfeito de tão real. Uma lição de muitas vidas!

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