Histórias Soltas Presas Dentro de Mim

Muraka, Sayaka (2019). Uma Questão de Conveniência. Alfragide: Publicações Dom Quixote.

Tradução: Rita Kohl
N.º de páginas: 168
Início da leitura: 10/07/2025
Fim da leitura: 15/07/2025

**SINOPSE**
"Keiko foi sempre estranha - e os pais perguntam-se onde encaixará ela no mundo real. Por isso, quando a rapariga resolve ir trabalhar para uma loja de conveniência, a notícia é recebida com entusiasmo, até porque na loja ela encontra um mundo bastante previsível, que domina com a ajuda de um manual e copiando os colegas até na forma de falar.

Mas aos 36 anos é ainda na mesma loja de conveniência que trabalha, e além disso nunca teve um namorado, frustrando as expectativas da sociedade… Embora Keiko não se importe com isso, sabe que a família e os amigos estão mais ou menos desesperados. Um dia, porém, é contratado para a loja um rapaz com o qual Keiko tem algumas afinidades. Não será então aconselhável para ambos um relacionamento?

Sayaka Murata, uma das vozes mais originais e talentosas da ficção contemporânea japonesa, capta brilhantemente a atmosfera de uma loja de conveniência e satiriza as obsessões que regem a sociedade contemporânea e a pressão exercida sobre as mulheres no sentido de cumprirem expectativas alheias, com o pretexto de terem uma vida normal.

Uma Questão de Conveniência, que venceu o prémio Akutagawa e foi traduzido em mais de vinte países, é o retrato de uma heroína deliciosa que promete ser tão memorável como Amélie Poulain."

Sayaka Murata oferece-nos, em Uma Questão de Conveniência, um retrato incomum e provocador da sociedade japonesa contemporânea, visto através dos olhos de uma protagonista que recusa seguir os padrões sociais estabelecidos. Este breve romance, apesar da sua aparente simplicidade, revela-se profundamente crítico e inquietante, levantando questões sobre identidade, normalidade e conformismo social.

A protagonista, Keiko Furukura, é uma mulher de 36 anos que trabalha há dezoito anos numa konbini (loja de conveniência). A escolha deste ambiente como palco central da narrativa não é casual: a loja é uma metáfora do funcionamento padronizado da sociedade japonesa — rotineiro, impessoal, mas funcional. A monotonia inicial da narrativa reflete deliberadamente a rotina obsessiva de Keiko, cujo mundo está meticulosamente estruturado em torno das regras e ritmos da loja. Esta secção do livro pode parecer estagnada a nós, leitores ocidentais, pouco habituados à valorização da repetição e da contenção emocional que caracterizam certos aspetos da cultura japonesa.

Contudo, o verdadeiro impacto da obra emerge quando Shiraha, um ex-colega socialmente marginalizado, entra em cena. A decisão de Keiko de o acolher em sua casa marca uma rutura na aparente estagnação da narrativa. Não por uma súbita transformação da protagonista, mas porque esta mudança revela com clareza a hipocrisia e a violência simbólica das expetativas sociais. A relação entre Keiko e Shiraha, longe de ser romântica ou mesmo amistosa, é uma aliança estratégica que ironiza as pressões exercidas sobre o indivíduo para se “normalizar” — casar, ter um emprego “aceitável”, e conformar-se com o que a sociedade considera sucesso ou maturidade.

A partir deste ponto, o livro ganha em intensidade e complexidade. O leitor passa a perceber que o verdadeiro conflito não é entre Keiko e o mundo exterior, mas entre a sua autenticidade e a necessidade de parecer “funcional” aos olhos dos outros. A prosa contida de Murata, quase minimalista, reforça esse contraste entre o absurdo social e a lógica interna da personagem, que, embora vista como “anormal”, vive em coerência com os seus próprios valores.

No final, Murata não oferece uma solução ou redenção tradicional. Em vez disso, reafirma a singularidade da protagonista e desafia-nos a reconsiderar o que significa “viver bem”. A aparente simplicidade da história mascara uma crítica feroz ao conformismo e à opressão das normas sociais, que se fazem sentir tanto no Japão como em muitas outras culturas.

Rubio, Salva (2024). A Bibliotecária de Auschwitz. Lisboa: Penguin Random House.

Tradução: Salomé Castro
Nº de páginas: 144
Início da leitura:14/07/2025
Fim da leitura: 14/07/2025

**SINOPSE**
"Estamos na Europa, em plena Segunda Guerra Mundial. Dita Adlerova é uma adolescente que, juntamente com a sua família e tantos outros judeus, é levada para o campo de concentração mais mortífero deste conflito: Auschwitz.

Quando Dita reúne um punhado de livros e se torna a bibliotecária de Auschwitz, ela arrisca a vida para que crianças e adultos possam escapar, nem que seja por breves instantes e somente com a imaginação, à terrível vida no campo de extermínio. Os livros estão proibidos e tê-los é uma sentença de morte. Dita precisa de ter muito cuidado: o temível Dr. Mengele, famoso pelas suas experiências horríveis, está a vigiá-la de perto.

A Bibliotecária de Auschwitz é uma adaptação para novela gráfica, por Salva Rubio e Loreto Aroca, do romance bestseller de Antonio Iturbe, que conta esta incrível, inspiradora e comovente história verídica."
Esta novela gráfica baseia-se no romance de António Iturbe, inspirado numa história verídica de Dita Adlerova. A protagonista, apesar de todas as adversidades sofridas, é dotada de uma grande resiliência, é alegre e muito corajosa, pois, mesmo sabendo que corre perigo ao guardar livros proibidos, fá-lo enquanto nova bibliotecária de Auschwitz, com apenas 14 anos, para que as crianças e adultos tenham acesso à leitura e, consequentemente, ao sonho. 
Este é um livro que deve ser lido por jovens e adultos que não consigam ler os livros originais sobre este tema tão duro, pois aborda, com alguma subtileza, todas as atrocidades cometidas. E é importante conhecer e refletir para não repetir.

Lapena, Shari (2017). O Casal do Lado. Barcarena: Editorial Presença. 

Tradução: Maria João Lourenço
N.º de páginas: 296
Início da leitura: 12/07/2025
Fim da leitura: 13/07/2023

**SINOPSE**
"Cynthia disse a Anne que não levasse a filha Cora, a bebé de seis meses, para sua casa na noite do jantar para que ela e o marido Marco tinham sido convidados. Não era nada de pessoal. Ela simplesmente não suportava o choro de crianças. Marco não se opõe. Afinal, eles vivem no apartamento do lado. Têm consigo o intercomunicador e irão alternadamente, de meia em meia hora, ver como está a filha.

Cora dormia da última vez que Anne a tinha ido ver. Mas, ao subir as escadas da casa em silêncio, ela depara-se com a imagem que sempre a aterrorizou. A menina desapareceu. Anne nunca tivera de chamar a polícia, antes disso. Mas agora eles estão lá e quem sabe o que irão descobrir... do que seremos capazes, quando levados além dos nossos limites?"

Este livro apresenta-se como um thriller psicológico instigante, com uma premissa promissora: o desaparecimento de um bebé enquanto os pais jantam na casa ao lado. No entanto, ao longo da leitura, fica claro que a promessa de tensão e profundidade dá lugar a uma narrativa superficial, com muitas lacunas e um ritmo surpreendentemente monótono para um livro do género.

A escrita de Shari Lapena é funcional, mas amadora em vários aspetos. O estilo é simples demais, com diálogos artificiais e descrições apressadas, o que prejudica a construção do suspense. Os personagens são rasos, muitas vezes se comportando de maneira incoerente, mais a serviço da trama do que de qualquer verossimilhança psicológica.

Embora a autora tente inserir reviravoltas, muitas delas soam forçadas ou previsíveis. A narrativa fica “parada” em vários momentos, repetindo pensamentos dos personagens ou insistindo em explicações já compreendidas, o que quebra o ritmo e diminui o impacto da tensão.

O livro cumpre um papel básico de entretenimento rápido — ideal para quem procura uma leitura leve, sem grandes exigências literárias. No entanto, para quem espera um suspense bem construído, com densidade narrativa e personagens consistentes, é um livro que dececiona. 

Reynalds, Allie (2025). A Baía. Lisboa: Casa das Letras.

Tradução: Isabel Pedrome
Início da leitura: 10/07/2025
Fim da leitura: 12/07/2025

*SINOPSE**
"Há uma escuridão dentro de todos nós e a Baía tem uma maneira de a trazer à luz. Todos aqui têm os seus segredos, mas não vamos à procura deles. Porque às vezes é melhor não saber.

Kenna chega a Sydney para surpreender a sua melhor amiga, chocada por saber que ela vai casar com um rapaz que acabou de conhecer. Mas Mikki e o seu noivo Jack estão prestes a partir numa viagem e Kenna dá por si a acompanhá-los.

A Baía da Tristeza é linda, selvagem e perigosa. Um local remoto para surfar com ondas mortíferas, isolado do resto do mundo. Aqui, Kenna conhece um misterioso grupo de pessoas que fará tudo para manter o seu paraíso em segredo. Sky, Ryan, Clemente e Victor vieram para surfar as ondas e desaparecer da vida. O que é que eles vão achar de Kenna aparecer sem avisar?

À medida que Kenna é atraída para o mundo deles, vê os extremos a que estão dispostos a chegar para obter a próxima emoção. E todos parecem estar a esconder alguma coisa. Em que é que a sua melhor amiga se envolveu, e como é que ela a pode afastar? Mas uma coisa está a tornar-se rapidamente clara na Baía: nunca ninguém se vai embora."

Este livro foi promovido como um thriller psicológico ambientado no mundo do surf, mas, para muitos leitores – como no meu caso – a obra não cumpre inteiramente a promessa de tensão e mistério típicos do género. Ao esperar um verdadeiro thriller, é natural sentir frustração ao deparar-se com uma narrativa que se aproxima mais do drama de grupo do que do suspense psicológico. Embora haja elementos de mistério, eles são diluídos num ambiente onde o surf e as relações interpessoais tomam demasiado protagonismo. A adrenalina do desporto substitui a tensão narrativa – o que, para um thriller, é, a meu ver, insuficiente.

O enredo gira em torno de um grupo isolado numa baía australiana, onde há segredos e mortes a esclarecer. No entanto, a narrativa tende a estagnar, com longas passagens dedicadas à rotina do surf, o que compromete o ritmo e diminui o suspense. A construção do mistério é previsível em certos pontos, e o clímax pode parecer forçado ou pouco merecido.

Um dos maiores pontos fracos que identifico é a falta de profundidade das personagens. São jovens com um espírito pseudo-rebelde, que vivem à margem da sociedade, mas sem que se explore verdadeiramente o “porquê” dessas escolhas. As motivações são rasas e muitas vezes incoerentes, tornando difícil criar empatia ou sequer interesse genuíno. O grupo criado na Austrália parece artificial, como se reunido apenas para servir ao enredo, sem verosimilhança psicológica ou social.

Tyce, Harriet (2020). Laranja de Sangue. Amadora: Topseller.

Tradução: Marta Mendonça
N.º de páginas: 320
Início da leitura: 08/07/2025
Fim da leitura: 10/07/2025

**SINOPSE**
"«Só mais uma noite. Depois acabo com isto.»

A vida de Alison parece perfeita. Tem um marido dedicado, uma filha adorável, uma carreira em ascensão como advogada e acaba de lhe ser atribuído o primeiro caso de homicídio. Só que Alison bebe. Demasiado. E tem vindo a negligenciar a família. Além de que esconde um caso amoroso quase obsessivo com um colega que gosta de ultrapassar os limites.

«Eu fi-lo. Matei-o. Devia estar presa.»
A cliente de Alison não nega ter esfaqueado o marido e quer declarar-se culpada. No entanto, há algo na sua história que não parece fazer sentido. Salvar esta mulher pode ser o primeiro passo para Alison se salvar a si própria.

«Estou de olho em ti. Sei o que andas a fazer.»
Mas alguém conhece os segredos de Alison. Alguém quer fazê-la pagar pelo que fez. E não irá parar até ela perder tudo o que tem.

Um thriller envolvente, com um final absolutamente inesperado e chocante, protagonizado por uma personagem muito empática."

Ao começar a leitura deste livro, esperava encontrar um thriller jurídico centrado na investigação de um crime — especialmente tendo como protagonista uma advogada especializada em investigação criminal. No entanto, depressa percebi que o foco da narrativa não está tanto no crime cometido por Madeleine Smith, mas sim na vida pessoal, profissional e emocional de Alison, a advogada que a defende.

No entanto, reconheço que essa opção da autora traz uma camada mais profunda ao livro. Harriet Tyce conduz-nos por um percurso psicológico sombrio, onde o verdadeiro "crime" parece ser emocional: os abusos, as manipulações e as relações tóxicas que se instalam de forma quase invisível na sua vida quotidiana.

A forma como a autora entrelaça a história pessoal de Alison com o caso de Madeleine funciona como um espelho narrativo muito eficaz. Ambas as mulheres estão presas em relações destrutivas, e o processo judicial torna-se simbólico — mais do que uma busca pela verdade dos factos, é uma espécie de catalisador para que Alison confronte a sua própria vida.

Gostei especialmente da metáfora sugerida no título: a laranja de sangue, que por fora parece normal, mas por dentro esconde algo denso, escuro e inesperado — tal como a vida da protagonista. A escrita é envolvente, e senti um crescendo de tensão emocional mais do que policial, o que acabou por me prender ao livro de uma forma diferente da esperada.

Schneck, Colombe (2025). A Trilogia de Paris. Lisboa: Publicações Dom Quixote.

Tradução: Ana Maria Pereirinha
N.º de páginas: 232
Início da leitura: 05/07/2025
Fim da leitura: 07/07/2025

**SINOPSE**
"Um livro de grande beleza e coragem sobre o amor, a morte, o sexo e a sobrevivência.

Escrito em resposta a Annie Ernaux e em conversa com Elena Ferrante, A Trilogia de Paris é composta por três planos semiautobiográficos da vida de uma mulher: Dezassete Anos; Duas Burguesinhas; A Ternura do Crawl.

Explorando questões sobre sexualidade, autonomia corporal, feminilidade, amizade e perda, esta é uma comovente meditação sobre a viagem de uma vida para resgatar o corpo feminino, aceitando-o com todas as suas falhas e aprendendo a celebrar a sua força.

Em Dezassete Anos, a romancista descobre que está grávida mal chega à idade dos primeiros amores e do final do secundário. Decide não ficar com a criança, mas o calvário do aborto transforma a rapariga despreocupada que era, obrigando-a a entrar na idade adulta.

Duas Burguesinhas conta o nascimento de uma amizade entre duas meninas de boas famílias que são parecidas, crescem juntas e seguem o mesmo caminho: casam, têm filhos, divorciam-se ao mesmo tempo, vivem histórias de amor semelhantes... até ao dia em que a morte bate à porta de uma delas.

Em A Ternura do Crawl, uma mulher conta a sua doce e dolorosa história de amor com Gabriel, um homem que lhe assegura a sinceridade dos seus sentimentos, mas cujo comportamento incerto faz pairar a dúvida sobre a solidez da relação."

Esta obra de Colombe Schneck é uma narrativa fragmentada, intensa e profundamente humana, onde a leveza da leitura contrasta com a densidade emocional e filosófica dos temas abordados.

Dividida em três partes que se entrelaçam como capítulos de uma mesma existência, a trilogia conduz-nos pelos recantos da vida contemporânea com um olhar ao mesmo tempo delicado e impiedoso. A autora mergulha nas grandes questões da experiência humana — o amor, a amizade, a maternidade, a perda, a doença, o envelhecimento — sem recorrer a artifícios narrativos, apenas com a força da palavra nua e da memória afetiva.

A escrita de Schneck é marcada por uma fluidez que convida à leitura rápida, quase impulsiva, mas a sua verdadeira força reside naquilo que nos obriga a parar e pensar. É um livro que, ao mesmo tempo que nos envolve na história, nos espelha — somos levados a refletir sobre o que fazemos com o nosso tempo, como construímos os nossos afetos e como lidamos com as inevitabilidades da vida.

A cidade de Paris, mais do que um cenário, é uma presença viva, quase uma personagem. Serve de pano de fundo aos dilemas íntimos da narradora e dos seus afetos, conferindo à narrativa uma dimensão urbana e contemporânea, mas também melancólica e contemplativa.

O texto não procura grandes revelações nem dramatizações excessivas. Ao invés, é no quotidiano, no detalhe aparentemente banal, que Schneck encontra o extraordinário. A autora sabe que a vida é feita de camadas, e é nelas que mergulha — sem medo, sem pudor e com uma honestidade rara. Gostei muito e recomendo vivamente!

 Araújo, Rosário Alçada (2019). O País das Laranjas. Lisboa: Edições ASA.

N.º de páginas: 240
Início da leitura: 03/07/2025
Fim da leitura: 05/07/2025

**SINOPSE**
"Com apenas 10 anos, Martha parte para Portugal com o irmão Peter. Estamos em 1949 e a fome e o frio fazem parte do seu quotidiano, já que a Áustria, a sua terra-natal, é ainda um país destruído pela Segunda Guerra Mundial.

Chegados a Lisboa, os dois são inesperadamente separados e Martha vai viver para a Covilhã, no seio de uma família abastada que a recebe com todo o amor e um conforto que nunca antes experimentou.

Martha irá viver dias inesquecíveis, que ficarão para sempre guardados nas memórias da sua infância. Mas não poderá separar estes tempos de felicidade das recordações da guerra que traz consigo, das saudades do irmão e da mãe, da tristeza por não se lembrar das feições do pai e ainda de algumas peripécias que acontecem na casa onde agora vive.

Quando o regresso à Áustria se aproxima, Martha vê-se obrigada a pensar em quem é realmente e a que lugar quer pertencer."

Este é um romance juvenil que, apesar da sua aparente simplicidade, transporta o leitor para uma reflexão profunda sobre temas como a emigração, a saudade e as raízes culturais. A autora, com grande sensibilidade e através de uma linguagem clara, despojada e elegante, constrói uma narrativa próxima e acessível, mas nunca desprovida de beleza literária.

Um dos grandes trunfos desta obra é o modo como a ação se enraíza num contexto geográfico real e familiar: a Covilhã e a região da Beira Interior. Para quem conhece ou vive perto desta zona, como é o meu caso, a leitura ganha um sabor especial, pela familiaridade dos lugares, das tradições e da forma de ser das personagens. Este realismo geográfico torna a história mais próxima e verosímil, permitindo ao leitor sentir-se quase parte do enredo.

Além disso, destaca-se a capacidade da autora de trabalhar sentimentos universais — o amor familiar, a perda, a esperança — de uma forma subtil, sem dramatismos excessivos, mas com uma intensidade que convida à empatia e à reflexão. Recomendo!

Sansal, Boualem (2016). 2084. O Fim do Mundo. Lisboa: Quatzal Editores.

Tradução: Ana Cristina Leonardo
N.º de páginas: 280
Início da leitura: 01/07/2025
Fim da leitura: 02/07/2025

**SINOPSE**
"Um romance-fábula aterrador, inspirado em 1984, de George Orwell, sobre o estabelecimento de uma ditadura religiosa de raiz muçulmana. Prémio da Academia Francesa. A globalização vai conduzir o Islamismo ao poder, por todo o mundo, dentro de 50 anos, a começar pela Europa - é a previsão do escritor argelino Boualem Sansal, em 2084, um romance-fábula, aterrador, inspirado em 1984, de George Orwell, sobre o estabelecimento de uma ditadura religiosa. Segundo Sansal - Grande Prémio da Francofonia da Academia Francesa, em 2013 -, os três totalitarismos imaginados por Orwell coincidiram na globalização financeira de hoje, que vai a breve prazo ser tomada pelo Islamismo. É a primeira vez que afirmações desta dimensão são proferidas por um autor de educação muçulmana, que vive na Argélia. O Abistão, imenso império, deriva do nome do profeta Abi, «representante» e «delegado» de Yölah, na Terra. O seu sistema de vida baseia-se na amnésia - e na submissão a um deus único, cruel e todo-poderoso. Qualquer pensamento pessoal é banido; um sistema de vigilância omnipresente permite às autoridades conhecer as ideias e os «atos desviantes».
Oficialmente, o povo vive na maior das felicidades, proporcionada por uma fé religiosa inquestionável.
A personagem central, Ati, questiona as certezas impostas pelos dirigentes políticos e imãs, lançando-se, então, numa investigação para descobrir um povo suspeito, renegado, que vive em guetos desconhecidos, ao arrepio do poder das autoridades religiosas.
Boualem Sansal constrói uma distopia violenta e macabra, que se filia diretamente em George Orwell e no seu 1984, para abordar o poder, o alcance e a hipocrisia do radicalismo religioso muçulmano que ameaça as nossas democracias."

Este romance, publicado em 2015, posiciona-se claramente como uma homenagem e atualização do clássico 1984 de George Orwell. Boualem Sansal, escritor argelino conhecido pela sua crítica a regimes autoritários e ao fundamentalismo religioso, constrói um universo distópico fortemente inspirado na realidade contemporânea, sobretudo nas teocracias totalitárias e no extremismo religioso.

A história decorre em Abistan, um império fictício governado por uma teocracia absoluta, onde tudo gira em torno da adoração cega de Yölah e do seu profeta Abi. Tal como em 1984, a vigilância constante, o controlo total da linguagem e o esmagamento do pensamento individual estão no centro do enredo.

Como pontos positivos, saliento a atualidade temática, com questões relevantes como o perigo do extremismo religioso, da submissão coletiva e da negação da liberdade.

Considero, porém, alguns pontos menos positivos, como uma construção pouco elaborada das personagens e do enredo, o excesso de momentos expositivos e a falta de consistência deste universo de Abistan e alguma tendência à repetição de ideias.

Constable, Harriet (2025). A Violinista. Lisboa: Casa das Letras.

Tradução: Rui Filipe
N.º de páginas: 384
Início da leitura: 28/06/2025
Fim da leitura: 30/06/2025

**SINOPSE**
"Anna Maria só conheceu a vida dentro da Pietà, um orfanato para crianças nascidas de prostitutas. Mas as meninas da Pietà têm sorte num certo sentido: a maioria dos bebés nascidos na sua condição eram afogados nos canais da cidade. E apesar das regras rígidas, as meninas recebem aulas de canto e música desde tenra idade. As músicas mais promissoras têm a hipótese de escapar ao destino das restantes: o casamento forçado com qualquer um que as aceite.
Anna Maria está determinada a ser a melhor violinista que existe — e tudo o que Anna Maria se propõe a fazer, ela consegue. Afinal, as apostas não poderiam ser mais altas. Mas estamos em 1704, e ela é uma menina. Em busca da sua ambição, irá pôr à prova tudo o que lhe é querido, especialmente quando se torna claro que o seu instrutor, Antonio Vivaldi, lhe ensinará tudo o que sabe — mas não sem receber algo em troca.
Dos opulentos palácios de Veneza aos seus canais cobertos de lama, A Violinista é um retrato escaldante de ambição e traição. É a história da ambição irreprimível de uma mulher e da sua ascensão ao topo. É também a história das órfãs de Veneza que superaram a miséria e o abuso para fazer música, e cujas contribuições para algumas das obras mais importantes da música clássica, incluindo As Quatro Estações, foram ignoradas durante demasiado tempo.
Uma exploração apaixonada e vívida da arte e da ambição, do génio e da exploração, da perda e do triunfo."
Este foi um livro que me captou a atenção pela capa lindíssima. Depois, ao ler a sinopse, fiquei curiosa com a história. Esta obra parte de uma premissa apelativa: o abandono de uma criança num convento, o peso do passado e o sonho de vingar no mundo da música clássica, num percurso cheio de obstáculos sociais e emocionais. É um enredo com potencial para cativar o leitor, sobretudo para quem aprecia histórias de superação e personagens femininas fortes.

Contudo, relativamente ao ritmo do livro, apesar dos elementos dramáticos e da evolução pessoal da protagonista, considerei que há momentos em que a narrativa se torna monótona e até previsível. Os episódios relacionados com o quotidiano da rapariga no convento ou a insistência em determinados dilemas emocionais acabam por ser repetitivos e, por vezes, esvaziam o impacto de outras passagens mais marcantes.

Além disso, a escrita de Constable, embora cuidada e com descrições interessantes, pode pecar por um certo excesso de detalhe em momentos que não o justificam, o que contribui para essa sensação de monotonia em certas partes da obra.

Ainda assim, reconheço mérito na construção da protagonista e na forma como a autora aborda temas como o preconceito, a ambição e a procura de identidade, especialmente num contexto social historicamente desafiante para as mulheres.

Recomendo para quem aprecia o género.

Hall, Clare Leslie (2025). Terra Ferida. Lisboa: Suma das Letras.

Tradução: Inês Guerreiro
N.º de páginas: 344
Início da leitura: 26/06/2025
Fim da leitura: 28/06/2025

**SINOPSE**
"Beth e o seu amável marido, Frank, têm um casamento feliz, mas ambos guardam segredos, e a sua relação depende do facto de o passado permanecer enterrado. Mas quando Jimmy, o cunhado de Beth, mata um cão que invade a quinta onde moram, Beth não se apercebe de que o tiro irá alterar o rumo das suas vidas. O cão pertencia a Gabriel Wolfe, o homem que Beth amava na adolescência e que lhe partiu o coração.

Gabriel regressou à aldeia com o seu filho Leo, um rapaz que faz lembrar muito a Beth o seu próprio filho, que morreu alguns anos antes num trágico acidente. À medida que Beth é puxada de volta para a vida de Gabriel, as tensões na aldeia aumentam e perigosos segredos e ciúmes do passado ressurgem, desta vez com consequências fatais. Beth é, então, forçada a fazer uma escolha entre continuar a ser a mulher que se tornou ou transformar-se na mulher que um dia desejou ser."

Terra Ferida revelou-se, para mim, uma leitura marcante, não apenas pela densidade emocional que atravessa toda a narrativa, mas também pela forma hábil como Clare Leslie Hall constrói as suas personagens e dá corpo a um enredo que prende desde as primeiras páginas.

Um dos aspetos que mais me cativou foi precisamente a riqueza e complexidade das personagens. Não se trata de figuras bidimensionais ou previsíveis; pelo contrário, são seres humanos com as suas contradições, fragilidades e forças, o que contribui imenso para a verosimilhança e o envolvimento emocional do leitor. A autora demonstra um apurado sentido psicológico, conseguindo que as motivações de cada personagem surjam de forma natural, mesmo quando os seus comportamentos nos surpreendem ou desiludem. Isso torna-os genuínos e próximos, quase como se os conhecêssemos pessoalmente.

O enredo, por sua vez, apresenta-se como uma teia habilmente urdida, onde os acontecimentos, embora por vezes inesperados ou dolorosos, mantêm sempre um fio condutor coerente e emocionalmente intenso. A história consegue ser emocionante sem recorrer a dramatismos excessivos, o que revela maturidade na escrita. Clare Leslie Hall não cede ao facilitismo dos clichés, optando antes por um ritmo bem doseado, onde o suspense e a emoção convivem com momentos de introspecção e reflexão.

Gostei particularmente da forma como a autora explora temas complexos e, por vezes, incómodos, sem recorrer a julgamentos simplistas. A "terra ferida" do título funciona não só como metáfora literal dos acontecimentos, mas também como imagem das feridas emocionais e sociais que atravessam as personagens e o próprio ambiente onde a história decorre. Recomendo!

Tordo, João (2019). A Noite em Que o Verão Acabou. Lisboa: Companhia das Letras.

N.º de páginas: 672
Início da leitura: 23/06/2025
Fim da leitura: 27/06/2023

**SINOPSE**
14 de Setembro de 1998. O dia em que Chatlam, uma pequena vila americana, acordou em choque com o homicídio de Noah Walsh. O principal suspeito: a sua filha de dezasseis anos.

No Verão de 1987, o adolescente Pedro Taborda apaixona-se por Laura Walsh, a filha mais velha de um magnata nova-iorquino. Ela e Levi - uma criança misteriosa - passam férias com os pais no Lagoeiro, uma pacata cidade algarvia. Rica e moderna, a família Walsh tem tudo para dar muito nas vistas no sul de Portugal. Inebriado pelas formas perfeitas e pelos modos ousados de Laura, Pedro encontra na rapariga americana o seu primeiro amor. Mas quando o Verão acaba, a família Walsh regressa aos Estados Unidos e o destino fica por cumprir.

Dez anos depois, Pedro, decidido a tornar-se escritor, vai estudar para Nova-Iorque. Fascinado com Gary List, antigo prodígio das letras americanas, chega aos Estados Unidos determinado a perseguir os sonhos da juventude. Ao reencontrar Laura, está longe de suspeitar que esse acaso o mergulhará no crime mais falado dos anos noventa, o homicídio do milionário Noah Walsh.

Com um segundo homicídio a atrapalhar a investigação e uma corrida para salvar Levi, de apenas dezasseis anos, acusada de matar o pai, Pedro e Laura enredam-se irremediavelmente na teia de segredos que envolve a família Walsh, desde os anos quarenta do século XX até ao impensável desfecho nas primeiras décadas do novo milénio.

Porque em Chatlam - e neste thriller imparável - nada é o que parece.
Este é o primeiro thriller policial que leio de Tordo. É, literalmente, um livro de peso (672 páginas), em que a narrativa vai alternando entre épocas diferentes, para que não percamos o fio à meada.
A história tem início num verão de 1987. Pedro Taborda é um jovem adolescente que, como habitualmente, acompanha os pais, durante as férias de verão, ao Lagoeiro. Nesse verão, apaixona-se por Laura Walsh, uma jovem inglesa, filha de um nova-iorquino milionário. Findas as férias, perdem o rastro um do outro.
Em 1997, Pedro viaja para Nova Iorque para estudar literatura, com o intuito de ter como mestre o seu escritor preferido, Gary List. Acaba por encontrar Laura. Algum tempo depois, o pai de Laura, Noah Walsh, é encontrado morto, em casa, e é a irmã de Laura, Levi, que, com apenas 16 anos, é encontrada com a faca do presumível homicídio na mão.
Se pensam que a resolução do caso é fácil, desenganem-se. Precisam de continuar a ler, pois só no fim ficamos saber como tudo se passou.
Embora A Noite em Que o Verão Acabou seja classificado como thriller, quanto a mim, a narrativa aproxima-se bastante da estrutura de um romance policial clássico, com a presença de um mistério central (a morte de Noah Walsh), uma investigação, e um foco progressivo na resolução do caso.
Gostei bastante deste livro e só não dou 5 estrelas, porque, no meu entender, poderia ter menos cerca de 100 páginas. Há momentos em que o autor se perde em considerações, que, evitadas, fariam deste um excelente policial.

Cruz, Afonso (2025). O Vício dos Livros II. Lisboa: Companhia das Letras.

N.º de páginas: 176
Início da leitura: 10/06/2025
Fim da leitura: 23/06/2025

**SINOPSE**
"Sócrates não deixou escrita uma linha que fosse para a posteridade, Charles Darwin não suportava a poesia, Henry David Thoreau acreditava que a leitura de um livro marcava o início de uma era para cada leitor, Fernando Namora dizia que não escrevia para agradar a ninguém e Julian Green fazia-o para não sufocar.

Tudo isto e muito mais ficamos a conhecer neste segundo volume de O vício dos livros, onde Afonso Cruz — ciente de que os vícios são difíceis de matar, mas que ao contrário de outros este tem tanto de prazer quanto de benefício — alimenta o leitor com um sem-número de curiosidades literárias, reflexões e memórias, provando que é possível, sim, compreender a vida através da literatura."
Confesso que gostei mais do "Vicio dos Livros I". Neste livro, houve, logo desde o início, alguma renitência, pelo facto de ser uma capa que aparece em pelo menos mais dois livros. Não teria a Ana Teixeira outras opções mais criativas? Não poderia o próprio autor ter ilustrado a capa? Esta é apenas uma opinião muito pessoal. Em relação aos textos, gosto da forma como Afonso Cruz escreve, se bem que tenha gostado mais dos textos do primeiro livro. Não é um livro para devorar, mas para ler com a calma necessária, a reflexão, a anotação e, utilizando o título de um capítulo do livro, com a devida "interrogação e silêncio". Vale sempre a pena ler Afonso Cruz.

Mora, Oge (2023). Obrigado, Avó Omu!. Lisboa: Fábula.


Tradução: Susana Cardoso Ferreira
N.º de páginas: 40
Início e fim da leitura: 12/06/2025

**SINOPSE**
"Um belo livro ilustrado, de uma autora multipremiada, que celebra a bondade, a generosidade, a gratidão e o espírito comunitário.
Toda a vizinhança quer provar o guisado da avó! Atraídos pelo delicioso cheirinho, os vizinhos vão bater à sua porta, um a um, e a avó partilha com cada um deles o seu jantar. Será que tanta generosidade deixará a avó de barriga vazia?
A autora multipremiada de Sábado dá vida a uma história comovente sobre o espírito de partilha e a vida em comunidade, criando colagens tão ricas quanto o guisado da avó e temperadas com uma pitada extra de amor."
Adorei este livro. É uma verdadeira celebração dos gestos simples que aquecem o coração e aproximam as pessoas. Este é um daqueles livros que, com delicadeza e ternura, nos recorda que o amor e a partilha estão nas pequenas coisas do dia-a-dia — um prato de comida, um sorriso, um agradecimento.

A história acompanha a Avó Omu, uma figura carismática e generosa, cuja deliciosa sopa atrai toda a vizinhança. Mas o que realmente enche a casa — e o coração — não é apenas o aroma saboroso, mas o espírito de comunidade e de generosidade que se vai construindo ao longo do dia. É impossível não nos sentirmos tocados pela forma como Oge Mora, tanto através do texto como das belíssimas ilustrações em colagem, transmite a importância de dar sem esperar nada em troca — e como, no final, esse amor regressa em dobro.

Num mundo onde tantas vezes se valoriza o individualismo, este livro é um hino à partilha, ao cuidado com o outro e à força dos laços comunitários. É também uma belíssima homenagem às avós e à sabedoria que tantas vezes carregam — a de saber que, partilhando o que temos, criamos algo muito maior do que nós próprios.

Campbell, Marcy (2023). Uma Coisa Boa. Lisboa: Fábula.

Tradução: Susana Cardoso Ferreira
N.º de páginas: 48
Início e fim da leitura: 11/06/2025

**SINOPSE**
"Um dia, uma coisa má aparece gravada na parede da casa de banho da escola e tudo muda: deixa de haver a paz e a alegria que se sentia antes.
Um livro belo e oportuno, que nos mostra como uma escola se une para combater o discurso de ódio.
Como a união de toda a comunidade, os gestos de bondade e a beleza da arte servem de antídoto para a maldade."

Este é um livro que nos recorda o impacto que as palavras e as atitudes podem ter numa comunidade. Numa época em que, infelizmente, os discursos de ódio e a intolerância continuam presentes, esta obra assume-se como uma leitura indispensável, especialmente para os mais novos.

Através de uma história simples, passada num ambiente familiar a muitas crianças — a escola — o livro mostra como o rumor, o preconceito e o julgamento precipitado podem gerar divisões e mal-estar. No entanto, mais importante ainda, revela como a união, o diálogo e o respeito mútuo são fundamentais para ultrapassar esses momentos e, sobretudo, para construir um ambiente onde todos se sintam seguros e respeitados.

Além disso, as ilustrações de Corinna Luyken, delicadas e expressivas, dão vida às emoções dos personagens e reforçam a mensagem central: juntos, podemos transformar situações difíceis em algo positivo.

Este é, sem dúvida, um livro essencial para ser trabalhado em família ou em contexto escolar, pois não só sensibiliza para o impacto dos comportamentos negativos, como reforça a ideia de que a união, a empatia e o respeito são as melhores respostas aos desafios sociais.

Bonilla, Rocio (2019). O Meu Amigo Extraterrestre. Lisboa: Booksmile.

Tradução: Rui Azeredo
N.º de páginas: 48
Início e fim da leitura: 10/06/2025

**SINOPSE**
"O meu novo amigo veio de outro planeta. Ele é muito curioso e passa os dias a perguntar:
Porquê?Porquê?Porquê?
Já tentei explicar-lhe que aqui, na Terra, as coisas são como são e pronto!
Mas, bem vistas as coisas, será que tem mesmo de ser assim?
Este é um livro divertido sobre uma amizade invulgar.
Uma história que levará as crianças a refletir sobre as suas ações e as encorajará a pensar por si mesmas.
«Porque o nosso grãozinho de areia, por mais pequeno que seja, é sempre importante.»
Um livro que encoraja as crianças a questionarem o mundo e a valorizarem as próprias opiniões!"


O Meu Amigo Extraterrestre, de Rocio Bonilla, é muito mais do que um simples livro infantil — é uma história delicada e inteligente que aborda temas fundamentais como a aceitação da diferença e a importância da empatia. Através da chegada inesperada de um amigo vindo de outro planeta, as crianças são convidadas a questionar aquilo que consideramos 'normal' e a perceber que, por vezes, o que nos parece estranho ou fora do comum é apenas diferente daquilo a que estamos habituados.

O livro destaca-se pela forma simples e acessível com que transmite uma mensagem profunda. As ilustrações, tão características da autora, cativam desde o primeiro olhar e complementam na perfeição o texto, despertando a curiosidade dos mais pequenos. A história promove o diálogo sobre a diversidade, encorajando as crianças a olharem para o outro sem preconceitos e a verem na diferença uma oportunidade de amizade e de aprendizagem.

Numa altura em que vivemos num mundo cada vez mais multicultural e diverso, considero este livro uma ferramenta essencial para pais, educadores e professores. Não só ajuda as crianças a desenvolverem a sua consciência social, como também as convida, de forma subtil e divertida, a refletirem sobre os seus próprios conceitos de 'normalidade'.

Lapena, Shari (2019). Um Estranho Dentro de Casa. Lisboa: Editorial Presença. 

Tradução: Catarina Gândara
N.º de páginas: 304
Início da leitura: 19/06/2025
Fim da leitura: 22/06/2025

**SINOPSE**

"Porque fugiria ela, assustada, de um lar feliz?
Está à espera que o marido, por quem sente um grande amor, chegue a casa vindo do emprego. Está a preparar o jantar, desejosa de saber como lhe correu o dia.
É a última coisa de que se lembra.
Acorda no hospital, sem ter a mais pequena ideia de como lá foi parar. Dizem-lhe que foi vítima de um acidente: perdeu o controlo do carro quando conduzia numa zona perigosa da cidade.
A polícia suspeita de que ela não estaria lá pelas melhores razões. Mas o marido recusa -se a acreditar. A sua melhor amiga não tem tantas certezas. E nem ela própria sabe em que acreditar..."
Este thriller, apesar de não surpreender verdadeiramente pelo enredo ou pela profundidade das personagens, cumpre com eficácia o objectivo primordial de entreter o leitor.

Este é um daqueles livros que se lê de forma rápida e despreocupada, ideal para intercalar com leituras mais densas ou exigentes. A escrita simples e direta, aliada aos capítulos curtos, imprime um bom ritmo à narrativa e convida facilmente à leitura compulsiva — aquele típico "só mais um capítulo" que rapidamente nos faz chegar ao fim.

Ainda que o mistério central se vá desvendando com relativa facilidade, o que pode retirar alguma tensão ou impacto ao clímax final, a verdade é que o livro consegue manter o interesse graças à construção gradual do suspense e ao ambiente de desconfiança constante entre as personagens. Não se trata, portanto, de um thriller inovador ou memorável, mas sim de um exemplo sólido de literatura de entretenimento, acessível e eficaz no seu propósito.

Diria que estamos perante um livro mediano, no melhor sentido do termo — sem grandes pretensões literárias ou artísticas, mas com a capacidade de proporcionar algumas horas de leitura leve e cativante. Perfeito para quem quer descomprimir durante as férias.

Martin, Madeline (2025). A Biblioteca dos Amantes de Livros. Lisboa: TopSeller.

Tradução: Dinis Pires
N.º de páginas: 384
Início da leitura: 15/06/2025
Fim da leitura: 19/06/2025

**SINOPSE**
"Inglaterra, 1939.
Tendo perdido o marido recentemente, Emma Taylor procura um emprego que a sustente e à filha, Olivia. Na cidade de Nottingham onde vivem, contudo, estão em vigor múltiplas restrições que impedem mães viúvas de serem contratadas por qualquer estabelecimento. Assim, só lhe resta uma opção: persuadir a diretora da biblioteca da Boots a dar-lhe trabalho.

Quando a guerra ameaça atingir Inglaterra, Olivia tem de ser deslocada para o campo, tal como milhares de crianças. Vendo-se obrigada a separar-se da filha, Emma procura consolo nas amizades improváveis que estabelece com os seus vizinhos e colegas, bem como na missão de recomendar livros aos peculiares clientes da biblioteca.

Com o Blitz a intensificar-se em Nottingham, e fazendo tudo ao seu alcance para se reunir com a filha, resta a Emma tentar apoiar-se na sua comunidade e na esperança que a literatura transmite mesmo nos tempos mais sombrios."
Este é um romance envolvente e comovente que cruza duas das temáticas mais sensíveis e inspiradoras: os horrores da guerra e o poder dos livros. Madeline Martin constrói uma narrativa muito humana, focada na separação dolorosa entre pais e filhos durante a II Guerra Mundial — um dos episódios mais tristes mas também mais realistas deste período — e fá-lo com sensibilidade e empatia.

O que torna este livro particularmente especial é o papel central dos livros, da biblioteca e da livraria enquanto refúgios de esperança, consolo e resistência. A leitura surge como uma forma de sobrevivência emocional e intelectual num tempo marcado pela perda, pelo medo e pela incerteza. 

Gostei muito da leitura, não apenas pela temática, mas pela escrita fluida e emocionalmente rica de Madeline Martin. A obra é um tributo à força da literatura em tempos sombrios e um lembrete do impacto profundo que bibliotecas e livrarias podem ter nas vidas das pessoas. Recomendo a leitura para os apreciadores destas temáticas.
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Professora de português e professora bibliotecária, apaixonada pela leitura e pela escrita. Preza a família, a amizade, a sinceridade e a paz. Ama a natureza e aprecia as pequenas belezas com que ela nos presenteia todos os dias.

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