Kliewer, Marcus (2025). Nós Já Vivemos Aqui. Porto: Singular.
Tradução: Célia Correia LoureiroN.º de páginas:320
Início da leitura: 06/08/2025
Fim da leitura: 07/08/2025
**SINOPSE**
"NOMEADO PARA OS GOODREAD CHOICE AWARDS
«Quando parecia estar tudo bem, isso significava apenas que havia muito que podia correr mal.»
Nesta arrepiante estreia de Marcus Kliewer, as vidas de duas mulheres são viradas do avesso quando recebem uma inesperada visita.
Charlie e Eve acabam de comprar uma casa antiga numa zona pitoresca, e estão certas de que fizeram um excelente negócio. Quando estão a trabalhar na renovação, alguém bate à porta. É um homem, com a família, que diz ter vivido ali alguns anos antes; pergunta se pode mostrar a casa aos filhos. Eve, incapaz de dizer um não, deixa-os entrar.
A partir desse momento, começam a ocorrer coisas inexplicáveis, como o desaparecimento da filha mais nova e uma presença fantasmagórica na cave. Mais estranho ainda, a família não dá sinais de querer terminar a visita.
Há algo de muito errado com a casa e aquela família – ou será que Eve está a imaginar coisas?
Um thriller irresistível que promete causar muitos calafrios e que será em breve adaptado a filme pela Netflix."
Terminada a leitura de Nós Já Vivemos Aqui, de Marcus Kliewer, confesso: saí dela com sentimentos mistos. Por um lado, a proposta me pareceu intrigante e original. Por outro, achei o livro confuso, com momentos que soaram despropositados e desconexos. E é exatamente sobre essa ambivalência que quero refletir aqui.
Este é um livro que nasceu na internet, mais especificamente no Reddit, e traz consigo a estética do “terror moderno” — carregado de atmosferas densas, realidades distorcidas e uma sensação constante de que algo está profundamente errado, mesmo quando nada é dito diretamente.
A premissa é boa: um casal muda-se para uma cabana isolada, e logo percebe que algo ali não bate certo. Portas que surgem do nada, vizinhos com comportamentos estranhos, eventos que parecem repetir-se... A sensação de paranoia e de perda de controlo sobre a própria realidade é quase palpável. Kliewer trabalha bem essa tensão inicial — mas é na evolução da narrativa que começam os tropeços.
A estrutura do livro é fragmentada, e embora isso seja intencional (talvez para espelhar a desorientação das personagens), acaba por comprometer o envolvimento emocional. Há cenas que parecem inseridas apenas para chocar ou manter o clima de estranheza, mas que não contribuem efetivamente para o desenvolvimento da história. Em certos momentos, senti-me mais confusa do que intrigada, tentando entender se havia algo que eu estava a "perder" — ou se a confusão fazia parte da proposta.
No entanto, ao refletir depois da leitura, percebo que talvez esse seja o ponto: o livro parece mais interessado em evocar sensações (como a angústia, o medo e a alienação) do que em contar uma história com lógica tradicional. Se o lermos como uma metáfora para traumas ou para a perda de identidade, tudo começa a fazer um pouco mais de sentido.
Ainda assim, não posso ignorar que, como experiência de leitura, houve momentos em que o texto me perdeu. A atmosfera é eficaz, sim, mas a execução narrativa deixa a desejar. É um daqueles livros que dividem opiniões: ou se aceita entrar no jogo e flutuar nas entrelinhas, ou se sai da leitura com a sensação de que muito foi prometido e pouco foi entregue.
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