Corpo Vegetal, Julieta Monginho

Monginho, Julieta (2024). Corpo Vegetal. Porto: Porto Editora.

N.º de páginas: 176
Início da leitura: 15/09/2025
Fim da leitura: 17/09/2025

**SINOPSE**

"«Ser ou não ser» é a questão com que Mimi se debate depois de conhecer Samson X, o célebre escritor americano cujo livro está a traduzir.

O corpo invadido, a vida estilhaçada, nada será como antes para esta mulher, que terá de decidir: ou age e faz ouvir a dor que toma conta dos seus dias, ou vive em silêncio o trauma e a raiva que a consomem, sem que o grito se escute, sem que a justiça se faça.

No novo romance de Julieta Monginho, a dicotomia consentimento versus abuso sexual ganha protagonismo, partilhando-o com as repercussões jurídicas e as consequências devastadoras que uma agressão desta natureza tem na vida de quem a sofre. Mas, com a mestria a que já nos habituou, a autora não deixa no tinteiro uma última nota de esperança, e Corpo Vegetal mostra como, mesmo no meio da dor e do trauma, é possível encontrar um novo fôlego, um novo caminho."

Corpo Vegetal, de Julieta Monginho, não é um livro que se ofereça ao leitor de forma imediata ou complacente. A sua leitura exige entrega, quase um abandono deliberado das defesas que normalmente erguemos perante narrativas de dor e de injustiça. A linguagem poética, cadenciada e densa, por vezes cria um certo distanciamento inicial, mas é justamente nesse ritmo peculiar que reside o poder da obra: o de nos enredar, lentamente, até já não conseguirmos escapar ao que nos é contado. O enredo cru, despido de ornamentos fáceis, coloca-nos diante de uma realidade difícil de encarar, mas tristemente reconhecível — a vulnerabilidade das mulheres, tantas vezes silenciadas, tantas vezes reduzidas a um corpo que se tenta apagar ou domesticar.

A protagonista, mergulhada nas dúvidas que cercam a denúncia de um abuso sexual, é confrontada não apenas com o agressor, mas também com a corrosiva desconfiança social que ameaça devorá-la. O romance expõe, assim, com firmeza e delicadeza, a violência mais subtil e mais devastadora: a de não se acreditar na palavra da vítima. Julieta Monginho dá corpo literário a esse dilema, transformando-o numa experiência sensorial e emocional que não se esquece. Gostei muito e recomendo.

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