A Casa das Auroras, Cristina Carvalho

Carvalho, Cristina (2011). A Casa das Auroras. Lisboa: Planeta.

Nº de páginas:192

Início da leitura: 12/06/2021

Fim da leitura: 12/06/2021

A Casa das Auroras é um romance de Cristina Carvalho. A sinopse despertou-me logo a atenção. Quando comecei a ler, percebi que é daqueles livros que requer uma certa introspeção, um silêncio, para se poder entrar nesta casa e sentarmo-nos com as personagens a beber um chá redentor.

Esta é uma casa com pelo menos 300 anos e de mulheres, que a visitam. Porém, ninguém sabe quem são, nem por que se encontram ali todas as noites, nem quantas são. Consta ainda que nunca morrerão.

A narradora, de primeira pessoa, afirma que terá sido o mistério que envolve esta casa, as situações insólitas que por lá se passam, “inusitadas, estranhas, fantasmagóricas”, que a terão levado ali. É uma repórter e terá chegado ali com o intuito de escrever sobre uma morte ocorrida em condições estranhas. E nunca mais saiu dali. Sem conseguir desvendar o mistério, a Casa das Auroras constitui a mola que a faz viver, porque, ao mesmo tempo que a assusta, encanta e prende cada vez mais.

E onde fica esta casa? Supostamente situa-se num local ficcional, Quintas, uma pequena aldeia em Portugal. Pela descrição, chega-se lá por um desvio da praia da Calada.

Tiágostinho, o homem mais velho da aldeia, era pai de Bela, a rapariga desaparecida. Quando a narradora lhe pergunta pela filha e pela amiga, Alex, ele refere-lhe que elas continuam a aparecer na Casa, mas que ninguém as vê.

Quando a repórter visita a Casa das Auroras, fica numa espécie de letargia, um estado anestesiado, que a faz ver 6 mulheres sentadas à volta de uma mesa, a beber chá. Não se conheciam umas às outras e, todos os dias, eram mulheres diferentes. Eram as Auroras. Em torno da mesa, propõe-se contar os seus relatos, os seus segredos, as histórias que envolveram as suas mortes, os que as rodeavam, faziam parte das suas vidas, como se comportavam…

De entre essas histórias, temos, por exemplo:

-  A mais velha, de 91 anos, que conta a história da mulher-lobo, do padre que cai em tentações da carne e do filho que nasceu dessas circunstâncias;

- A mais nova, que sempre desejou flutuar, levitar no espaço, cuja professora de Moral implicava com ela por querer conhecer a Lua tal como Neil Armstrong ou Edwin Aldrin. Implicava também por ela usar calças (coisas de homem), estando, no entender da professora, possuída pelo demónio.

- A jovem de 20 anos, muito apaixonada, que viu desmoronar o seu sonho de amor durante um tremor de terra, na década de 60.

E outras tantas histórias, que aqui não conto, mas que poderão conhecer quando lerem o livro.

Numa escrita rica, a autora vai pintando uma série de quadros improváveis, mas com uma mestria que cativa o leitor.

Recomendo.

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